segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Editorial: Mais do que continuidade

Editorial afirma que ''é preciso ser radical no enfrentamento das deficiências do país na área da Educação básica''

Ao assumir a manutenção das bases que sustentaram o governo de seu antecessor, a presidente Dilma Rousseff reafirma, por coerência política, um compromisso previsível com os feitos e as virtudes do senhor Luiz Inácio Lula da Silva.
É elogiável que, ao se dirigir à nação, a presidente tenha explicitado como inegociáveis os avanços da estabilidade econômica, que possibilitaram ao país a retomada do crescimento e propiciaram notáveis melhorias sociais. Mas sabe também a nova governante que, a partir de hoje, quando estará diante de desafios concretos e da necessidade de tomar decisões, que o país lida com questões relevantes tratadas sem a devida importância pelos últimos governos.

O tom de radicalidade dado pela presidente ao combate à miséria, por exemplo, deve marcar também outros compromissos citados nos discursos. É preciso ser igualmente radical no enfrentamento das deficiências do país na área da Educação básica. Disse a senhora Dilma Rousseff que o governo federal aumentará os investimentos destinados ao ensino médio e que o exitoso ProUni será estendido à Educação profissionalizante.

São empenhos pontuais, específicos, que devem se traduzir não só em melhorias, mas também em transformações profundas no ensino brasileiro.

Compromissos com a Educação têm sido exaltados por sucessivas administrações. Resultam em frustrações, depois do entusiasmo retórico de governos inaugurais. Ao fazer referência direta ao ensino básico, para enfatizar que desenvolvimento não significa apenas prosperidade econômica, a presidente assinalou uma de suas prioridades, ao lado da consolidação do SUS e da implantação de programas de segurança que integrem, quando necessário, as ações dos governos federal e estaduais e das Forças Armadas.

Espera-se que também seja radical o esforço para superação dos gargalos de infraestrutura. Um país com a economia em expansão não pode desperdiçar as chances de manter um bom ritmo de crescimento por falta de investimentos em energia, transporte, portos.


É promissor o fato de que a presidente admitiu a necessidade de aumentar a capacidade de investimento do governo em relação aos gastos de custeio da máquina pública. Espera-se que, na prática, isso signifique um enxugamento dos cargos em comissão, para que o inchaço do governo não sugue recursos de setores essenciais para a modernização e o dinamismo do país.

Os brasileiros passam a acompanhar também as iniciativas governamentais que retirem da lista de intenções as reformas política e tributária. As duas questões foram citadas diretamente pela presidente, que vê a mudança da legislação política como forma de fortalecimento dos partidos e preconiza a implantação de medidas que modernizem o sistema tributário. Nos dois casos, o Brasil precisa bem mais do que ajustes, exige reformas profundas.

Os partidos devem se adequar à maturidade da democracia brasileira, com o fim de agremiações oportunistas e sem representatividade. E a estrutura tributária exige, além de modernização, um sistema justo e equânime, em que os impostos não sobrecarreguem os cidadãos e não continuem punindo o empreendedorismo.

Outros compromissos assumidos pela presidente, com a liberdade de informação e de opinião, com a conciliação de desenvolvimento e ambientalismo e com a integração nacional, reforçam as expectativas em torno do governo que se inicia. Dilma Rousseff submete-se, a partir de hoje, à boa prova de que pretende ser, como se autoproclamou, a presidente de todos os brasileiros.

Fonte: Zero Hora (RS)

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