domingo, 30 de janeiro de 2011

Universidade Federal do Ceará é a mais procurada no Sisu

Concorrência do Sistema de Seleção Unificada foi divulgada ontem


Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

Após uma intensa disputa judicial que levou ao adiamento das férias do ministro da Educação, Fernando Haddad, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) teve ontem divulgadas as estatísticas gerais quanto ao número de inscrições e de concorrência. As vagas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia para o curso de Gestão Ambiental foram as mais disputadas do País: 2.050 candidatos se inscreveram para apenas 3 vagas, resultando numa relação de 683,33 candidatos por vaga.

Em segundo lugar ficou o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília: 2.740 inscrições para as 10 vagas do curso de Agroecologia (274 inscritos por vaga). As cinco maiores relações candidato/vaga são completadas pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (201 por vaga), Universidade do Estado da Bahia (89,92) e Universidade Federal do Paraná (63,58).

No caso das três últimas, as vagas envolvem uma variedade de cursos ministrados em diferentes câmpus – o MEC divulgou ontem apenas a relação de inscritos por instituição.

A menor relação de inscritos por vaga ficou com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense: 9.252 inscritos disputaram 870 vagas – 10,63 candidatos por vaga.

Mais procurada. Considerando a quantidade de inscrições, a Universidade Federal do Ceará foi a mais procurada em números absolutos, com 118.221 inscritos, seguida pela Federal de Mato Grosso (96.252) e a Federal do Rio de Janeiro (92.890).

Participaram do Sisu 83 instituições de ensino superior. Na primeira chamada, divulgada no último domingo, foram selecionados 82.949 candidatos para um total de 83.125 vagas – 176 vagas não foram preenchidas.

Uma série de problemas técnicos no Sisu levou o governo a enfrentar uma guerra de ações judiciais, derrubadas na sexta-feira pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). As falhas levaram à queda do então coordenador-geral de tecnologia do MEC, Cláudio Crossetti Dutra.

O episódio também desgastou ainda mais a imagem de Haddad, que já havia enfrentado uma série de problemas nas duas últimas edições do Enem.

Aprovação

82.949 candidatos foram selecionados na primeira chamada do Sisu. Segundo o ministério, 1.080.194 candidatos fizeram inscrições.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Depois dos erros, MEC vai reformular o Enem

Universidades federais devem participar da organização do exame; ProUni bate recorde de inscrições

Depois de uma série de erros nos últimos dois anos, o Ministério da Educação (MEC) trabalha na reformulação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Uma das propostas em análise é envolver diretamente as universidades federais na organização do exame. A presidente do Inep, Malvina Tuttman, confirmou que mudanças estão em estudo, mas evitou dar detalhes:

- Estamos conversando sobre isso dentro do governo. Não posso adiantar nada.

Ela se reuniu a portas fechadas com integrantes do Conselho Nacional de Educação (CNE). O secretário de Educação Superior do MEC, Luiz Cláudio Costa, disse que as universidades terão participação efetiva no Enem:

- Vai ter uma forma efetiva de participação. Elas vão participar com o que têm de melhor. As inscrições no programa Universidade para Todos (ProUni) bateram recorde este ano: 1.048.631 candidatos inscreveram-se no programa, que oferece bolsas gratuitas para alunos de baixa renda em 1,5 mil instituições privadas de ensino superior.

Até então, a maior marca tinha sido registrada em 2010, com 822 mil candidatos. O resultado da primeira chamada será divulgado amanhã. O ministro Fernando Haddad quer realizar duas edições do Enem em 2011.

Malvina não comentou a proposta do presidente da Câmara de Educação Superior do CNE, Paulo Speller, de regionalizar o Enem, fazendo provas distintas, em datas diferentes, nas diversas regiões. Já o secretário Luiz Cláudio Costa rechaçou a ideia:

- Não é o caminho. O que precisamos fazer é aperfeiçoar o sistema. Mas o sistema tem que ser nacional. Não podemos deixar questões menores atrapalharem um projeto Brasil.

A proposta do MEC de oferecer ensino médio em horário integral, associado ao ensino técnico, prevê transformar uma dívida do Sistema S em vagas gratuitas para estudantes da rede pública. O MEC estima que o Sistema S - do qual fazem parte o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) - tenha deixado de recolher cerca de R$ 3 bilhões do salário-educação, no período de 2000 a 2004.

(Demétrio Weber)

(O Globo, 27/1)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Engenharia é a carreira mais visada no Sisu

Curso também é o que mais ofereceu vagas aos que participaram do Enem

Com 251 mil inscrições, os cursos de engenharia foram os mais procurados no Sisu (Sistema de Seleção Unificada), site que seleciona os alunos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio para universidades públicas e institutos tecnológicos.

Em segundo ficou o curso de administração, com 103 mil inscrições, e, logo em seguida, medicina, com 85 mil.

Além de ter sido a carreira mais procurada, engenharia foi a que mais ofereceu vagas: 15% das 83.125 disponibilizadas. O aluno pôde optar por até dois cursos.

No que se refere a concorrência, a maior está na carreira de radiologia, com 68 candidatos por vaga, somando-se todos os cursos da área. Depois vêm medicina (65) e relações públicas (50).

Isoladamente, o curso mais concorrido é o de gestão ambiental do instituto federal de tecnologia de Rondônia: 683 candidatos por uma das três vagas oferecidas.

Os quatro menos disputados estão no instituto federal de tecnologia de Santa Catarina. Oferecidas em cidades do interior, as duas licenciaturas de matemática e uma de física e outra de química ficaram com concorrência de 4,5 a 5,3 candidatos por vaga.

Os índices de concorrência no Sisu refletem também a baixa procura por carreiras de formação de professores. Dos 50 cursos menos disputados, 33 são de licenciatura.

Entre as instituições, a Universidade Federal do Ceará foi a que recebeu o maior número de inscrições: 118 mil para 5.700 vagas. Em seguida, vêm as federais do Mato Grosso e do Rio, com 96 mil e 92 mil inscrições, respectivamente.

A primeira chamada do Sisu foi divulgada no domingo. As matrículas são nos dias 27, 28 e 31, presencialmente nas próprias instituições.

(Angela Pinho)

(Folha de SP, 26/1)

Conselheiro do CNE defende Enem regionalizado

Em encontro nesta quarta-feira (26/1) com a presidente do Inep, Speller vai sugerir que universidades federais ajudem a organizar o exame

O presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), Paulo Speller, vai propor mudanças no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) à nova presidente do Inep, Malvina Tuttman. Ele vai sugerir que o Enem seja regionalizado, isto é, que o teste deixe de ser aplicado simultaneamente em todo o país.

Para Speller, as universidades federais também poderiam assumir tarefas, sob supervisão do MEC, na organização do exame.

- O Brasil é muito grande. É preciso que haja descentralização do processo. As universidades federais podem contribuir muito. Minha sugestão é de descentralização do Enem, regionalização e parceria com universidades federais.

Malvina visitará o CNE nesta quarta. Desde terça-feira (25/1), os conselheiros estão reunidos. Além de presidente da Câmara de Educação Superior, Speller é reitor da última universidade federal criada no governo Lula, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em Redenção, no Ceará. Segundo ele, seu ponto de vista é compartilhado por outros conselheiros.

- A presidente do Inep vem aqui amanhã (hoje) e vamos dizer isso ela - afirmou.

Speller defende a ampliação do banco de questões do Enem, passo indispensável para a aplicação de diversas provas por ano. Isso porque o Enem é elaborado com base na Teoria de Resposta ao Item, que exige que as perguntas das provas sejam pré-testadas, de modo a garantir o mesmo grau de dificuldade em testes distintos. Sem a ampliação, não há como realizar mais edições do exame.

Speller lembra que a Universidade Federal de Mato Grosso oferece cursos para formação de professores brasileiros no Japão. Nesses cursos, o vestibular é feito eletronicamente. Para Speller, esse deve ser o caminho do Enem.

- Temos de chegar num ponto de fazer por via eletrônica. Estou falando de um cenário para o futuro.

Na reunião do CNE, o novo secretário de Educação Superior, Luiz Cláudio Costa, destacou a importância do Enem e do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para democratizar o acesso ao ensino superior: - Antes tínhamos uma tragédia invisível: a pré-evasão. Estudantes sonhavam (em ingressar na universidade) e sequer podiam fazê-lo. O Enem acabou com essa pré-evasão.

Costa disse que a presidente Dilma Rousseff seguirá Lula e fará reuniões com os reitores das federais.

- A presidenta Dilma tem um compromisso total com a educação e o ensino superior. Vamos estar agendando em breve, com certeza no primeiro semestre.

(Demétrio Weber)

(Globo, 26/1)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Êxito de bônus para professor divide especialistas

Meritocracia no ensino ainda é prática pouco difundida no país

Apesar de a maioria dos estados brasileiros preparar a adoção de políticas de remuneração por cumprimento de metas na educação pública - como mostrou reportagem do Valor na última sexta-feira -, a meritocracia no ensino ainda é uma prática pouco difundida no país e sem resultados plenamente avaliados. Para especialistas, sua implantação não pode ser considerada garantia de avanço da qualidade educacional.

Para o economista Claudio Ferraz, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), é "curioso que vários Estados estejam se precipitando em adotar a meritocracia sem saber se funciona ou não".

O professor titular da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luiz Carlos de Freitas é mais incisivo: "A educação é um fenômeno complexo, produto de muitas variáveis. Há estudos que apontam que esta possibilidade [de a meritocracia impactar positivamente a educação] existe e há outros que apontam que não. Não há consolidação de tendências. Fazer política pública com ações que não têm resultados consistentes é irresponsabilidade."

Os acadêmicos lembram que países como Inglaterra, Israel, Chile, Índia e Estados Unidos estão em diferentes estágios na utilização de políticas educacionais vinculadas ao desempenho. Considerado um fracasso por educadores em todo o mundo, o caso mais emblemático e estudado é o do programa federal de incentivo ao magistério "No Child Left Behind", implantado em 2001 no governo George W. Bush e descontinuado por Barack Obama.

Especializado em avaliação de políticas públicas, Ferraz estuda, há três anos, o sistema de meritocracia implantado em 2008 nas redes estaduais de São Paulo e Pernambuco, primeiros Estados a adotar a prática, junto com Minas Gerais e Amazonas. O resultado final da pesquisa está previsto para este ano, quando ele poderá confrontar notas mais recentes da Prova Brasil com os critérios usados para mensurar os impactos da política de desempenho.

"Acho que a meritocracia na educação é o caminho a ser seguido. Infelizmente ainda não é possível afirmar se o nível melhora ou não por causa disso. Sabemos que não piorou, como algumas pessoas pensavam. Pernambuco melhorou significativamente de 2007 para 2009, mas não podemos afirmar se isso foi causado pelo bônus. Outros Estados do Nordeste que não adotaram a meritocracia também melhoraram. Precisamos saber quanto a mais Pernambuco melhorou na comparação para calcular e dizer alguma coisa formalmente. Tudo que é novo em políticas públicas leva tempo", explica Ferraz.

Na opinião do acadêmico, o pagamento de bônus na educação combate o que chama de "desincentivos" da tradicional escala salarial do magistério público normalmente baseada no tempo de serviço, o que induz à baixa motivação e a altos índices de absentismo. "O fulano que está lá todo dia, trabalha muito e se esforça para os alunos aprenderem ganha a mesma coisa que o fulano que não se esforça nada e que falta metade do ano letivo. A razão de premiar quem tem um desempenho melhor contra quem tem um desempenho pior é criar um sistema correto de incentivos", complementa.

Já na visão de Luiz Carlos de Freitas, especializado em avaliações e sistemas educacionais, as técnicas para vincular resultados de avaliações educacionais e de monitoramento de redes a pagamento de bônus "merecem reparos". "A educação não se comporta de acordo com a curva normal da estatística, pois não é um fenômeno aleatório. A educação é um fenômeno intencional, portanto, quando o desempenho de um conjunto de alunos comporta-se de acordo com a curva normal, isso só é um indicador do nosso fracasso. Todos os alunos e cada um deles devem aprender tudo o que se considera ser necessário para sua formação. Temos, portanto, que rever o objetivo do uso dessas ferramentas na análise do desempenho dos alunos", argumenta o professor da Unicamp.

Ferraz e Freitas concordam que carreira estruturada e salário atraente no magistério são ações mais "efetivas". Ainda assim, uma política não anula a outra, para o professor da PUC-RJ. "A ideia de que a meritocracia não pode ser feita na educação só porque é um setor diferente é errada. Agora, como fazer isso em educação é uma discussão válida. É claro que não será um sistema idêntico ao de uma multinacional", pondera.

Para Ferraz, um salário mínimo "razoável" para atrair bons profissionais será sempre necessário. "Isso independe da meritocracia. Mas temos que reconhecer que alguns professores dão muito pouca aula, faltam muito. Em compensação, outros trabalham mais. É uma heterogeneidade que gera ineficiência, independentemente do salário. O sistema continua injusto, gerando desincentivos, porque tem gente que gosta de dar aula, adora a profissão, que passa duas horas dentro do ônibus todo dia para dar suas aulas, e tem outros que não fazem o mesmo esforço. E esses dois agentes estão ganhando a mesma coisa", reforça Ferraz.

Freitas sugere ainda que políticas meritocráticas na educação sejam uma ponte para "transformar serviços públicos em mercado a ser explorado" por agentes privados, como ONGs, entidades sem fins lucrativos e fundações. Além disso, dificilmente medidas nessa direção sofrerão oposição. "Os sindicatos terão dificuldades para ir contra essas medidas - pelo menos os menos conscientes. É difícil para um sindicato ser contra dar mais dinheiro a seus associados, ainda que na forma de bônus."

(Luciano Máximo)

(Valor Econômico, 25/1)

Sputnik Redux, artigo de Esther Dyson

"Governos são ótimos para financiar e levar adiante as pesquisas, mas as empresas privadas competitivas, motivadas por lucro e glória, tendem a ser mais eficientes e velozes na aplicação dos resultados"

Esther Dyson é integrante do Conselho Consultivo da Nasa e investidora em duas empresas de viagens no espaço, a XCOR Aerospace e a Space Adventures. Artigo publicado no "Valor Econômico":

Há mais de 50 anos (1957), os soviéticos lançaram o primeiro satélite orbital do mundo, superando os Estados Unidos no espaço. Para os americanos, o chamado "momento Sputnik" foi um alerta que levou o país a aumentar os investimentos em tecnologia e educação científica. Meses depois, os EUA lançaram o satélite Explorer 1 e a corrida estava deflagrada. Crianças foram encorajadas a estudar matemática e ciência e o conhecimento americano ajudou o país a enfrentar o desafio.

Desde então, a situação desacelerou-se drasticamente e a Nasa tenta, desde o início de novembro, preparar seu último ônibus espacial para lançamento. Em dezembro, o presidente dos EUA, Barack Obama, falou sobre a necessidade de um novo "momento Sputnik" para revitalizar o papel outrora de liderança em tecnologia do EUA.

De forma irônica, o momento chegou dois dias depois, mas lamentavelmente com pouca atenção da mídia. O novo momento Sputnik, no entanto - na verdade um "momento Dragon" -, traz uma mensagem um tanto diferente. O lançamento da nave espacial Dragon foi, de fato, um feito dos EUA, dentro de um espírito tradicionalmente americano. Em 8 de dezembro, uma empresa americana, a SpaceX, fundada por um imigrante e financiada em sua maior parte por investidores privados, lançou com sucesso uma nave espacial em órbita e a recuperou após pouso no Oceano Pacífico.

A mensagem não é apenas a necessidade da educação CTEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), mas o fato de uma empresa privada ter alcançado o feito com apenas uma fração do tempo e do custo da Nasa. Os governos são ótimos para financiar e levar adiante as pesquisas, mas as empresas privadas competitivas, motivadas por lucro e glória, tendem a ser mais eficientes e velozes na aplicação dos resultados.

Um exemplo notável: logo antes do lançamento, engenheiros da SpaceX encontraram algumas poucas rachaduras na extensão do bocal da segunda fase do motor. Em vez de rebocar a nave espacial de volta à oficina para reparos, simplesmente analisaram a falha, cortaram a parte problemática e prosseguiram com o lançamento. (Teriam agido diferente caso o Dragon levasse seres humanos.)

O recado do momento Dragon não é que a Nasa esteja sem saber para onde seguir, mas que as agências de pesquisa do governo não são o tipo de organização para levar adiante operações de rotina que poderiam ser mais bem realizadas por empresas. (A Nasa, em particular, vem sendo limitada há anos por disputas políticas internas e clientelismo no Congresso dos EUA, a ponto que sua missão parece ser manter empregos em vez de explorar o espaço.)

Claro, tenho de confessar interesse pessoal na questão. Escrevo este texto em Cabo Canaveral, Flórida. Como integrante do Conselho Consultivo da Nasa, visito atualmente o Centro Espacial Kennedy, que passa por necessidade urgente de atualizações e reparos. Neste momento, contudo, a Nasa gasta US$ 475 milhões em um programa já cancelado, em vez de usar os recursos no centro espacial. O motivo: um congressista conseguiu introduzir exigência legal que proíbe a Nasa de interromper os gastos até a aprovação de um novo orçamento. Como a Nasa ainda opera sob o orçamento antigo, o programa cancelado continua sendo financiado.

Imaginem como esses funcionários devem sentir-se: gratos pelos salários, mas completamente cínicos sobre o valor do trabalho que fazem. Por que não pagar a mesma quantia para que compartilhem seus conhecimentos e habilidades no ensino médio? Seria uma reposta mais apropriada.

Mas voltando ao Dragon, cujo êxito pode ser explicado por vários motivos. Acima de tudo, a SpaceX é uma empresa privada. O próprio dinheiro de alguém está em jogo, portanto, não é desperdiçado. Seu fundador, Elon Musk, é um imigrante da África do Sul (que no tempo livre também comanda a empresa de carros elétricos Tesla), que a financia com o próprio dinheiro (obtido com a PayPal, outro empreendimento emergente) e o de outros investidores privados. (Sim, a SpaceX de fato tem contratos com a Nasa, mas a um preço fixo por lançamento.)

A ênfase na SpaceX é concluir a tarefa, em vez de apenas ir fazendo a tarefa. Enquanto governos e contratados do governo geralmente gozam de garantia no cargo, as empresas privadas sabem que o dinheiro pode acabar. Além disso, as empresas privadas têm de concorrer. Atrás da SpaceX há uma multidão de outras empresas privadas desenvolvendo naves espaciais, como a Masten Space Systems, XCOR Aerospace, Armadillo Aerospace e Blue Origin.

Nem todas essas empresas concorrem para desenvolver precisamente o mesmo tipo de veículo; na verdade, cada uma delas considera a própria abordagem superior. Esse tipo de redundância é, na realidade, eficiente no longo prazo, já que cada concorrente experimenta e aprende com os erros e acertos dos outros. No processo, cada um deles concorre não por um grande prêmio único, mas por uma parcela de um mercado em expansão, arriscando o dinheiro dos investidores e suas próprias reputações.

É a essa economia de livre mercado, que recompensa as inovações úteis e a assunção de riscos bem direcionada, que devemos honrar e dar reconhecimento. O governo dos EUA (ou, da mesma forma, os europeus) não está em melhores condições de nos tirar da atual bagunça econômica do que estaria para nos levar à Lua nos dias de hoje. Na maioria das áreas de iniciativa, o governo deveria ser um cliente exigente em vez de fornecedor (ou de dar subsídios).

Nos EUA, o governo alimentou o setor de empresas aéreas - em grande parte, comprando serviços de transporte de carga das empresas privadas. Também desenvolveu o que viria a se tornar a internet - para, então, acertadamente, deixar com o setor privado a maior parte do desenvolvimento e as operações do dia a dia.

Agora, sob a nova e sensata política espacial de Obama, o governo dos Estados Unidos planeja centrar-se em voar a Marte e nos chamados "objetos próximos à Terra", comprando o transporte de rotina para a Estação Espacial Internacional de empresas como a SpaceX (em vez de comprá-lo do programa espacial russo por cerca de US$ 60 milhões por viagem de ida e volta de cada astronauta). O que o momento Dragon deixa claro é o fato de que é a capacidade de comercializar a inovação, e não apenas de criá-la, que tornou a economia dos Estados Unidos tão sólida no longo prazo.

(Valor Econômico, 25/1)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Ganho por meta é foco de estados na educação

15 governos planejam implantar meritocracia

Remuneração vinculada ao desempenho e ao cumprimento de metas - prática bastante difundida nos setores mais competitivos da iniciativa privada - estarão presentes na maioria das escolas estaduais do país nos próximos quatro anos.

O "Valor Econômico" apurou que, neste início de gestão, 15 Secretarias de Estado da Educação tratam como prioridade a elaboração, discussão e adoção de mecanismos de meritocracia para professores e outros profissionais do setor que conseguirem melhorar indicadores de qualidade - entre eles, redução da evasão e maiores notas em avaliações educacionais feitas por alunos. Medidas nessa direção podem impactar a carreira de mais de 500 mil trabalhadores da educação.

A intenção de adotar a meritocracia na educação foi confirmada por Acre, Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia e Santa Catarina. O governo paranaense ainda não fala em pagamento de bônus por desempenho, mas pretende adotar um regime de metas para o magistério.

São Paulo e Pernambuco, que já aplicam o mecanismo, estudam revisar e aprofundar o modelo, respectivamente. Amazonas e Minas Gerais, primeiros estados a adotar a meritocracia, a partir de 2007, manterão a prática. Apenas Tocantins não respondeu à reportagem.

Assim como nas empresas, a adoção de bônus salariais para educadores que se destacam no trabalho e superam metas está associada a avanços de gestão. Praticamente todos os secretários e secretárias estaduais de Educação ouvidos pelo Valor vão dedicar grande esforço na geração e no monitoramento extensivo de estatísticas e informações e na criação de sistemas de avaliação próprios - inclusive com o auxílio de consultorias externas.

Com o objetivo de fazer uma gestão "essencialmente profissional" na educação, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), contratou os serviços do Movimento Brasil Competitivo (MBC), do empresário Jorge Gerdau, e nomeou um opositor para comandar a área: o economista e militante do setor Thiago Peixoto, eleito deputado federal pelo PMDB nas últimas eleições e que deixou um petista como suplente no Congresso Nacional.

"Eu terei um contrato de metas e isso vai descer até o professor. Se eu não atingir minhas metas o meu pescoço poderá ser cortado. Vamos estabelecer um sistema de bônus por desempenho com base nas avaliações que vamos criar. Não será comparativo por escola, vamos trabalhar com base em um índice e definir o bônus em cima da melhoria do rendimento de cada unidade", explica Peixoto.

Apesar de admitir que os salários do magistério em Goiás - já descontadas as gratificações - estão abaixo do piso nacional da categoria, de R$ 1.024 para uma carga semanal de 40 horas, ele entende que "não é justo" um professor com melhor desempenho ter a mesma remuneração de um colega que apresenta "produtividade" inferior.

"Encontraremos resistência, mas queremos envolver a sociedade, mostrar que é possível dar um salto de qualidade. Quanto ao salário, estamos fazendo um estudo de valorização. Primeiro queremos atingir o piso, depois vamos gerar uma projeção de aumento. Não vamos fazer para amanhã, o momento é de aperto de cinto do ponto de vista financeiro", justifica Peixoto.

Em Santa Catarina, o mecanismo de meritocracia na educação está sendo elaborado a partir de diagnósticos feitos pelo governo e por consultores da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O secretário-adjunto de Educação do Estado, Eduardo Dechamps, informa que a política de recompensa vai se basear em vários critérios, capturados por um sistema próprio de avaliação educacional que está em fase de desenvolvimento.

"A partir dos resultados poderemos reconhecer o mérito das unidades com melhor desempenho e customizar aquelas com problemas, e aí resolvê-los. A meritocracia vai valorizar mais os resultados que os processos e cobrar responsabilidade por meio de contratos de desempenho", conta Dechamps.

No Ceará e Mato Grosso do Sul, a meritocracia se estende aos estudantes. Ganham laptops aqueles com boas notas e bom índice de assiduidade. No ano passado, cerca de 10 mil alunos do ensino médio foram premiados nos dois estados. Para este ano, os governos estudam instituir sistemas de recompensa para docentes em forma de 14º e 15º salários.

"Estamos estudando o assunto, vendo o que as outras secretarias estão fazendo. Há muita troca de experiência dentro do Consed [Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação]", comenta a pedagoga Maria Nilene Badeca, secretária de Educação do Mato Grosso do Sul.

Os recursos para o pagamento de bônus já estão reservados no Rio de Janeiro. Segundo o economista Wilson Risolia, novo secretário de Educação do Estado, as premiações somarão R$ 140 milhões em 2011, contando vantagens como o vale-transporte e a "bolsa cultura", um adicional de R$ 500 mensais para o professor gastar com atividades pedagógicas e culturais. Já a recompensa em função do desempenho poderá ser até de um 16º salário para docentes e funcionários que cumprirem 120% da meta estabelecida pelo governo.

"Nos últimos 60 dias, fizemos um diagnóstico da rede física e criamos um índice de infraestrutura por unidade com 23 variáveis, que será cruzado com um outro indicador pedagógico. Para atribuir metas adequadas, tenho que considerar a realidade de cada escola", explica Risolia.

No Espírito Santo, um dos planos do novo secretário estadual de Educação, o físico Klinger Barbosa Alves, é colocar em prática o pagamento de bônus por desempenho desenhado na administração anterior. "Cabe a nós aplicá-lo ainda no primeiro ano, acredito que é uma tendência importante para fomentar a melhoria dos índices e para motivar os profissionais", opina Alves. Para o secretário de Educação do Pará, Nilson Pinto, o objetivo da adoção do sistema de meritocracia no estado é "estimular a criatividade, o conhecimento e valorizar o mérito do servidor".

Embora exista um claro movimento dos estados em direção à meritocracia na educação, o assunto é bastante polêmico. Governos do PT, por exemplo, são os mais resistentes à tese de que o estímulo financeiro por desempenho resulte em melhoria da qualidade do ensino.

"Salário de professor não é consequência de rendimento individual. Qualquer ação que exacerbe a competitividade na escola é negativa. Como gestores, temos que oferecer condições para que o professor ajude a elevar o nível da educação: a começar pelo salário, que deve ser o mesmo que o de qualquer outro servidor de nível superior; depois o governo deve providenciar as melhores condições de trabalho desse docente", argumenta Regina Novaes, secretária de Educação do Distrito Federal, de gestão petista.

O historiador José Clóvis de Azevedo, novo secretário de Educação do Rio Grande do Sul, outro estado governado pelo PT, lembra que a meritocracia na educação passa por profundas revisões nos países desenvolvidos e que, no Brasil, a opção pelo modelo se trata de "modismo atrasado".

"É um modelo falido no mundo. Estudos internacionais indicam que há uma tendência de sair da avaliação quantitativa para a qualitativa. Não sei porque aqui setores da economia e do empresariado insistem nisso. É uma forma de perceber apenas o resultado final. Temos que nos preocupar com a valorização do docente e a estrutura, e não transformar a escola num ambiente de empresa", critica.

Para Osvaldo Barreto, titular da Educação da Bahia, a aposta na meritocracia atrasa a implementação de planos de carreira para o magistério público no país. "A valorização do professor não passa por uma comissão, mas por uma atitude do estado de estruturar a carreira docente." Segundo ele, há dois anos, o governo baiano, também sob comando do PT, elevou o salário dos professores acima do piso nacional e elaborou um plano de cargos e salários, "premiando" profissionais com menos faltas e que elevem sua escolaridade.

Na contramão, o governo petista do Acre acredita que a meritocracia é peça importante para elevar a qualidade do ensino no estado. O novo secretário estadual de Educação, Daniel Queiroz Sant'Ana, se inspira na presidente Dilma Rousseff: "Vamos passar a analisar o mérito no magistério. A própria presidente Dilma tem falado muito sobre a meritocracia no serviço público. Nossa ideia é aperfeiçoar gratificações tradicionais já existentes na educação, vinculando-as com resultados individuais e coletivos. Claro que é uma política que precisa ser pactuada, leva tempo", pondera Sant'Ana.

O escolhido pelo governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) para conduzir a educação, o engenheiro Herman Voorwald, vai revisar o atual mecanismo de meritocracia, adotado há menos de um ano na gestão tucana de José Serra. O programa "Valorização pelo Mérito" sofre críticas dos professores por beneficiar, por ano, apenas 20% da categoria com reajustes, que são concedidos a partir do resultado de provas feitas pelos profissionais.

Voorwald acena para a substituição do programa por um plano salarial que torne mais atrativo o trabalho no magistério de São Paulo.

"Já determinei às áreas de recursos humanos e planejamento a elaboração de uma política salarial que, em última instância, faça com que a carreira do magistério seja atrativa. Não gosto da palavra meritocracia, acho que ela está carimbada de forma equivocada, mas não há como ter educação de qualidade se não reconhecermos quem está comprometido. Prefiro a palavra comprometimento, que deve estar associada a uma remuneração digna", afirma Voorwald.

(Luciano Máximo)

(Valor Econômico, 21/1)

Teste de confusão no MEC

Autor(es): A gência o globo : Demétrio Weber e Rodrigo Gomes
O Globo - 21/01/2011

No último dia de inscrições no Sisu, mais incertezas, desta vez depois de liminar da Justiça


Oúltimo dia de inscrições no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) foi marcado ontem por indefinição e incertezas na área jurídica. À tarde, a Justiça Federal do Rio concedeu liminar determinando a prorrogação do prazo de inscrição por seis dias, até a próxima quarta-feira, mas apenas para estudantes residentes no Estado do Rio. À noite, o Ministério da Educação (MEC) divulgou nota informando que as inscrições seriam encerradas no horário previsto, às 23h59m de ontem, e que o ministério e a Advocacia Geral da União (AGU) estudavam formas de cumprir a determinação. Hoje, o governo vai recorrer para tentar anular a liminar da Justiça do Rio.

O problema, do ponto de vista do MEC, é que a decisão do juiz Alberto Nogueira Júnior, da 10ª Vara Federal do Rio, é inexequível e, se atendida, feriria o princípio da isonomia. Isso porque o Sisu seleciona candidatos de todo o país para vagas em 83 universidades e institutos tecnológicos federais e estaduais. Assim, candidatos que se inscrevessem no Rio, na vigência da liminar, poderiam afetar a situação dos demais participantes - que ficariam em desvantagem, já que o prazo de inscrições no restante o do país terminava ontem às 23h59m.


"O sistema Sisu não consegue isolar apenas os estudantes daquele estado. Além do que, em isolando, estaria configurando uma quebra da isonomia, uma vez que o concurso é nacional", diz o texto. "O Sisu será encerrado hoje (ontem) normalmente as 23h59 e o Ministério da Educação e a Advocacia Geral da União estudam uma maneira de dar cumprimento à decisão liminar."

A nota rebate também um dos motivos citados pelo juiz para conceder a liminar. Em sua decisão, Nogueira Júnior destacou que o número de inscritos no Sisu equivalia ontem a cerca de um terço dos participantes que fizeram o último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em tese, quem fez o Enem pode inscrever-se no Sisu. Assim, raciocinou o juiz, haveria risco de congestionamento no sistema de inscrições pela internet, uma vez que era elevado o número de potenciais candidatos ainda não inscritos.


"O Ministério da Educação esclarece que, dentre os 3,2 milhões de estudantes que se submeteram às provas (do Enem 2010), estão incluídos aqueles que o fizeram apenas para conseguir a certificação do ensino médio; os que pretendem vagas no Prouni; os que pretendem bolsas no Fies; os treineiros e, finalmente, aqueles que ao tomar conhecimento das notas de corte, já se consideraram impossibilitados de disputar uma vaga", diz o texto. "A média histórica de estudantes que prestaram o Enem e se inscrevem no Sisu e no Prouni é de cerca de 30%, índice superado este ano com a inscrição de mais de um milhão de candidatos."O juiz lembrou que o sistema de informática do Sisu apresentou falhas desde sua abertura, no domingo, e que o próprio MEC reconheceu o erro.

Coordenador de tecnologia demitido

Ontem, o coordenador-geral de Infraestrutura da Diretoria de Tecnologia da Informação do MEC, Cláudio Crossetti Dutra, foi demitido. A diretoria é responsável pela operação do Sisu. A exoneração de Dutra foi publicada no Diário Oficial. Na diretoria, funcionários disseram que o coordenador teria saído na terça-feira - após os problemas de lentidão do sistema e de acesso indevido de estudantes a fichas de inscrição com dados de concorrentes.

No Ceará, a Justiça Federal também concedeu liminar determinando que os candidatos possam ter acesso às provas que fizeram no Enem, com direito a apresentar recurso no prazo de dez dias, a contar do momento em que recebam o exame. A decisão no Ceará é válida para todo o país, mas não paralisa o Sisu. Caso um estudante recorra, seja atendido e fique em condições de ganhar a vaga, a Justiça Federal determina que o MEC assegure a matrícula.

O Inep divulgou que todos os candidatos interessados em ver a redação poderão ter acesso ao texto. Dentre os cerca de 14 mil candidatos eliminados no Enem 2010 - menos de 1% do total -, há casos de quem recebeu nota zero na redação, mesmo tendo obtido pontuação razoável nas provas objetivas. Entre os motivos para isso, segundo o MEC, estão casos em que o estudante escreveu menos de sete linhas, fugiu do tema proposto ou escreveu fora do espaço destinado ao texto.

Ontem, antes de o MEC decidir liberar os acessos, em São Paulo, a Justiça Federal havia concedido liminar para o estudante J.S.S. ter acesso às provas por ele realizadas em 2010.

J.S.S. argumentou no seu pedido à Justiça que fez todas as provas do Enem preenchendo corretamente a cor do caderno de questões no cartão-resposta e assinando a ata do encerramento da prova na sala.

O MEC voltou a negar ontem que estudantes tenha tido sua inscrição alterada indevidamente por terceiros no Sisu, nos dois momentos em que candidatos tiveram acesso a páginas de concorrentes. Até as 18h, 990 mil pessoas já haviam feito sua inscrição. Como cada candidato pode optar por até dois cursos, o total de inscrições era de 1,8 milhão.

O ministro Fernando Haddad só deve sair de férias amanhã se tudo estiver tranquilo. Caso haja novas confusões, o ministro adiará o início do descanso

Governos querem integração entre ensino médio e técnico

Valor Econômico - 21/01/2011

A integração entre ensino médio regular e profissional surge como uma das principais medidas das novas administrações estaduais para minimizar o problema do ciclo, considerado hoje o maior gargalo da educação brasileira, com alto índice de evasão e as piores notas nas avaliações educacionais. Mais de dois terços dos Estados, cujos orçamentos da área superam a marca de R$ 50 bilhões, planejam mesclar currículos, com forte enfoque no mercado de trabalho, como forma de atrair o jovem à escola.

"Pretendemos avançar em projetos inovadores no ensino médio, focando a área de tecnologia e a preparação para o ensino superior, com cada vez mais programas profissionalizantes em paralelo ao médio regular", relata Ana Lúcia Gazzola, secretária estadual de Educação de Minas Gerais.

No Mato Grosso, a secretária de Educação, Rosa Neide Sandes, conta que a integração é uma arma para reduzir a evasão. "O Estado já conta com 90 escolas de ensino médio com cursos técnicos integrados. A ideia é avançar nisso, porque a avaliação é muito positiva, o interesse dos alunos é maior, a evasão diminui. Aumentamos a carga horária de quatro para cinco horas, procuramos criar aulas inovadoras, com maior uso da internet, numa conjugação de teoria e prática", conta Rosa Neide.

O governo pernambucano já programou a construção de 47 escolas técnicas até 2014. "Serão 11 só este ano. Por ser mais atrativo, o ensino profissionalizante vai nos ajudar a derrubar o índice de evasão do ensino médio, que hoje representa 53% das matrículas, para abaixo da média nacional, que está entre 30%, 35%", almeja Anderson Gomes, secretário estadual de Educação de Pernambuco.

Outra política pública que estará na ordem do dia das secretarias estaduais de Educação nos próximos anos será a adaptação de escolas para a adoção do ensino em tempo integral. "A proposta é ter 500 escolas em tempo integral até o fim do governo. A maioria levará mais tempo para ter sua estrutura convertida, mas a ideia principal é organizar atividades no contraturno", explica Flávio Arns, titular da Educação no Paraná. O Amazonas estipulou uma meta para a expansão da rede de escolas em tempo integral, das atuais 22 unidades para 86 até o fim de 2014.

Além do foco no ensino médio profissionalizante e na educação em tempo integral, os governos estaduais também planejam reformas e construções de escolas, buscam ampliar programas de formação de professores e discutem a adoção da gestão democrática.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

MEC pode criar órgão exclusivo para o Enem

Nova presidente do Inep admite criação de órgão exclusivo para o Enem
O Estado de S. Paulo - 20/01/2011

A nova presidente do Inep, órgão do MEC responsável pelo Enem, não descarta a criação de uma nova entidade somente para administrar a exame. “O Enem é muito abrangente", disse Malvina Tuttman, em entrevista ao Estado. Estudantes continuam manifestando revolta com os problemas do sistema que usa a nota do Enem para seleção em universidades.

Malvina Tuttman, recém-nomeada para instituto responsável pelo exame, não descarta hipótese, levantada pelo ministro da Educação no ano passado; problemas no sistema de seleção para universidades federais por meio da nota do Enem prosseguiram ontem

Lisandra Paraguassú - O Estado de S.Paulo

A nova presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), Malvina Tuttman, disse ao Estado que estuda tirar a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) das atribuições do órgão. "Pode acontecer como consequência das avaliações que estamos iniciando, mas ainda não tenho essa resposta", afirmou.

Problemas com o exame e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que usa as notas para selecionar alunos para instituições públicas de ensino superior, derrubaram dois presidentes do Inep em pouco mais de um ano. Malvina, ex-reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), foi nomeada anteontem.

A hipótese de se criar um outro órgão para cuidar apenas do Enem foi levantada pelo próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, no ano passado.

Segundo Malvina, o principal objetivo do Inep deve ser "o fortalecimento das políticas públicas", disse. "Iremos traçar um plano diretor daqui para frente."

Além do Enem, o Inep é responsável pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), pelos censos da educação básica e superior, pelo Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e pelo Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).

Desde 2009, quando o Enem se tornou instrumento de ingresso em muitas universidades federais, ele passa por problemas. Houve vazamentos, exposição de dados confidenciais dos candidatos, exemplares do exame com questões a menos, falhas sucessivas no sistema de inscrição online, entre outros.

Neste ano, 83.125 vagas estão em disputa pelo Sisu, que encerra até as 23h59 as inscrições. Mas o site do sistema seguia instável ontem, com muitos alunos relatando dificuldades. Segundo o MEC, até as 18 horas haviam sido realizadas 1,5 milhão de matrículas, por cerca de 800 mil estudantes (cada candidato escolhe até duas opções de curso). Mas a cifra não representa 25% de todos os alunos que prestaram o último Enem - foram 3,5 milhões.

Haddad em silêncio. Desde sexta, quando os primeiros problemas foram relatados, Haddad preferiu o silêncio. Nem quando as reclamações aumentaram no domingo ou quando a Justiça determinou a ampliação do prazo de inscrições, Haddad deu explicações. A troca da presidência do Inep foi anunciada em Diário Oficial sem declarações do ministro. Em resposta à crise, Haddad só adiou suas férias, que começariam amanhã, em dois dias.

Justiça. As inscrições no Sisu terminariam anteontem, mas uma decisão judicial ampliou o prazo. Com isso, a abertura de inscrições para o Programa Universidade Para Todos (Prouni) foi adiada para amanhã. Mas pedidos de liminares que buscam a suspensão do Sisu aguardam decisão na Justiça Federal no Ceará e em Pernambuco.

O juiz encarregado no Ceará prometeu um parecer até a tarde de hoje. Lá, defensoria e ministério públicos pedem que os candidatos com as notas do segundo dia de provas anuladas tenham acesso às folhas de respostas e aos argumentos da banca da redação. Estudantes acionaram a Justiça, contestando a explicação do MEC de que a anulação ocorreu não teria sido preenchida na folha de gabarito a cor do caderno de questões recebido - eram quatro cores. Ontem à noite, a primeira liminar foi concedida a uma estudande do Rio

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Os 100 mais da educação

Portal elege as principais ferramentas da internet direcionadas ao professor. Twitter lidera a lista que conta, ainda, com os famosos Facebook e YouTube.

Por: Thiago Camelo

Publicado em 18/01/2011 | Atualizado em 18/01/2011

Os 100 mais da educação

Um mosaico com os seguidores do Twitter da 'Ciência Hoje'. A rede social foi eleita, por educadores de todo o mundo, a principal ferramenta de ensino disponível na internet. (foto: reprodução)

Não é de hoje que o Alô, Professor sai em defesa das ferramentas de ensino na internet e de como elas podem ajudar o professor a lapidar suas aulas.

Não à toa, um dos portais mais acessados sobre educação no mundo é o Centre for Learning & Performance Technologies (Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento Tecnológico, em português), página britânica especializada, justamente, em novas ferramentas de ensino disponíveis na internet.

Todo fim de ano, desde 2007, o centro aplica um amplo questionário a professores de todo o mundo com a pergunta: qual foi a ferramenta virtual mais importante do ano no campo do ensino?

No final de 2010, a página divulgou as 100 ferramentas mais citadas pelos mais de 500 professores que responderam ao questionário. E mais: publicou textos detalhados com declarações dos educadores sobre as ferramentas. Um senhor trabalho.

A seguir, a lista das 10 ferramentas/páginas mais citadas pelos professores.

Uma das páginas que mais cresceu nos últimos anos, o Twitter se consolidou como uma das ferramentas mais usadas pelos brasileiros. Grupos dedicados à educação podem ser encontrados por lá. É imbatível quando se trata de encontrar, rapidamente, links e redes interessantes de ensino.

Um dos sites mais antigos de hospedagem de vídeo (e o mais popular). Desde que foi comprado pelo Google em 2006, cresce anualmente. De fato, é uma revolução. É possível encontrar documentários, palestras, imagens e vídeos antigos de quase tudo. Uma fonte de pesquisa inesgotável. Ano passado, o YouTube liberou o limite de tempo para publicação de vídeos, o que facilitou ainda mais a postagem de bons conteúdos.

Ferramenta do Google que simula um escritório virtual. Quase tudo o que você encontra em um Microsoft Office ou em um programa de computador livre está por lá. Editores de texto, planilhas, programas que fazem slideshow etc. A maior das vantagens: todos os arquivos podem ficar disponíveis na rede. Ou seja, é possível acessá-los de qualquer computador. Ideal para trabalhos feitos a várias mãos ou com ambições colaborativas.

Repositório de links e páginas interessantes na internet. Digite um assunto e encontre um portal de qualidade. Siga alguém que dê as melhores dicas. O Delicious da CH On-line é bastante completo e conta com diversos links confiáveis, inclusive com páginas sobre educação. Recentemente circulou um boato de que ele iria acabar, mas, felizmente, parece que é só boato. Há, no entanto, uma possibilidade de ele ser vendido.

Professores são os reis do PowerPoint. Quantas vezes um aluno pede ao educador o arquivo 'daquela aula interessante'? Pois bem, no Slideshare é possível publicar, para todo mundo ver, aulas, arquivos e outros documentos. Quando pedirem 'o seu PowerPoint', basta dar o endereço na internet.

Permite conversar, com mais qualidade do que outros programas, pelo computador. Também é possível falar via webcam. Nos últimos anos, o Skype vem oferecendo possibilidades cada vez mais baratas de se comunicar com telefones fixos. E já há um telefone móvel do próprio Skype. Não só é possível se comunicar com educadores de todo o mundo como também usá-lo para aulas à distância.

Outra ferramenta que ajuda, e muito, a se informar. O RSS é popular no Brasil, mas ainda pode crescer bastante. Como funciona: você assina as informações que deseja receber de um site ou blogue. Todos os feeds assinados entram em uma mesma página, muito similar à caixa de correio eletrônico. A vantagem do Google Reader é ter, assim como as outras ferramentas do Google, tornado toda essa movimentação online – ou seja, acessível de qualquer computador. Além disso, a diagramação da página do programa é bastante confortável em comparação a outros leitores de RSS.

Ferramenta que possibilita criar blogues. Há várias, mas o Wordpress é o preferido de vários educadores. Por quê? Porque é uma plataforma aberta, com aplicativos desenvolvidos ao redor de todo o mundo e disponibilizados gratuitamente. É a plataforma que oferece mais ferramentas novas aos usuários. E, bom, não há dúvida sobre o poder dos blogues na educação.

Assim como o Twitter e os blogues, o Facebook deixou de ser visto pelos educadores como lugar de vã distração. No ambiente virtual, há milhares de comunidades voltadas para a educação. Além, é claro, de usuários dedicados ao tema. A plataforma é tão popular que tem filme e livros que contam os meandros de sua criação. Hoje, o número de cadastrados no Facebook é astronômico: 500 milhões.

Talvez, a ferramenta menos conhecida na lista das "10 mais" dos professores. O Moodle, a bem da verdade, não foi muito difundido no Brasil. Mas já faz bastante sucesso no exterior. Criado no começo dos anos 2000, é uma espécie de plataforma voltada exclusivamente à educação. O programa de computador que o Moodle disponibiliza é gratuito e permite que professores e alunos criem a sua própria rede social, seja aos moldes do Twitter ou do Facebook – a escolha fica a critério do educador.

Continue navegando pela lista das 100 maiores ferramentas virtuais do ano.

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line

O novo norte

Especialista alerta para nova área de desenvolvimento no norte do planeta, que poderá acelerar ainda mais o aquecimento global

Depois dos Brics, os Norcs. Para Laurence C. Smith, geógrafo e especialista em mudança do clima da Universidade da Califórnia em Los Angeles, a primeira metade do século 21 assistirá à emergência de uma região do globo em que não se presta muita atenção: o Norte. Um Novo Norte, com crescimento econômico e demográfico acelerados pelo aquecimento global e pela globalização.

"Norc" é a abreviação de "Northern Rim countries", os países da Orla Norte. Em português, soaria melhor Extremo Norte. É das nações que circundam o oceano Ártico que trata seu livro, "The World in 2050 _ Four Forces Shaping Civilization's Northern Future" (O Mundo em 2050 _ Quatro Forças que Moldarão o Futuro da Civilização no Norte"; Dutton, 322 págs., US$ 26,95).

As quatro forças do título são a demografia (a população mundial continuará a crescer até 2050, chegando a 9,2 bilhões), a demanda por recursos naturais (idem), a globalização da economia e a mudança do clima. O Ártico, assinalam modelos climáticos, é a região do globo que mais se aquecerá. Melhor dizendo, já se aquece, à taxa de 1C ou 2C por década, dez vezes mais rápido que a média no restante do globo.

Isso se traduz em invernos mais amenos no norte do Canadá, Sibéria, Escandinávia e Alasca. E, quem sabe, nas próximas décadas, o derretimento completo da calota de gelo sobre o oceano Ártico durante o verão. Grande oportunidade para a navegação (um caminho mais curto entre Europa e Ásia) e para as jazidas já detectadas de petróleo e gás natural, porém de exploração e escoamento difíceis nas condições climáticas atuais.

Smith, no fundo, é um grande otimista. Ele não omite os problemas que serão causados no próprio Ártico pela mudança do clima, como o derretimento do solo congelado conhecido como "permafrost", que pode arruinar a infraestrutura dos Norcs.

Trata-os, contudo, com fleuma, assim como à temível previsão de que o consumo de combustíveis fósseis _carvão, petróleo e gás natural, motores do aquecimento global_ continuará a crescer. "Na minha opinião, estamos só no início de uma batalha que durará séculos", como quem diz: não adianta nada desesperar-se.

Smith também prefere acreditar que não haverá graves disputas geopolíticas no Novo Norte, nem guerras ou restrições à imigração. "Não se trata de dizer que a guerra não possa acontecer entre países como Canadá e Dinamarca, mas as linhas de fissura para um conflito estão muito menos aparentes do que para outras partes do mundo", tranquiliza.

Leia os trechos principais da entrevista realizada por e-mail:

- Se a temperatura não está crescendo tão depressa nos países tropicais, e como o Brasil e nações africanas vêm descobrindo - além de sua biodiversidade e terras agricultáveis - imensas reservas de matérias primas como petróleo (a exemplo das recentes descobertas brasileiras na camada do pré-sal), não seria mais correto predizer que um avanço mais importante deve ocorrer por volta de 2050 na altura do equador, em parceria com a China, do que na altura do círculo polar ártico?

Esses avanços pelo restante do mundo também acontecerão, não são mutuamente excludentes. Está muito claro que a Mongólia interior, por exemplo, é uma peça decisiva no futuro energético da China. Está igualmente claro que as areias betuminosas do Canadá e a península Yamal da Rússia são peças decisivas para o futuro da energia na América do Norte e da Europa, respectivamente.

- Levando em conta as areias betuminosas do Canadá, petróleo e gás dos Norcs, mais petróleo no Brasil e na África, carvão abundante nos EUA, na Rússia e na China, pode-se dizer que o mundo já está comprometido com um aumento paulatino das emissões de CO2 e com um aquecimento superior a 2C neste século? O livro afirma que "simplesmente não existe um meio realista de eliminar o petróleo, o carvão e o gás natural do portfólio de energias mundiais em apenas 40 anos".

A maioria dos formuladores de políticas concorda, depois dos fracassos de Copenhague e de Cancún em produzir um tratado internacional legalmente vinculante sobre mudança do clima, que estamos provavelmente comprometidos com um aumento superior a 2C na temperatura média global. Mas o aquecimento do clima não para simplesmente por aí, 2C é só o começo, a não ser que tomemos medidas concretas para controlar as emissões de carbono. Os oceanos nem sequer estão dando conta, ainda, do CO2 que já produzimos. Em nossa trajetória atual estamos a caminho de triplicar a queima de carvão até 2050. Quanto acabarão os seres humanos por aquecer o clima? Quais serão os debates dentro de 20 anos? Na minha opinião, estamos só no início de uma batalha que durará séculos.

- Legisladores americanos parecem apostar na captura e no armazenamento de carbono (CCS) para matar dois coelhos com uma só cajadada: mitigar a mudança do clima, diminuindo emissões de carbono, ao mesmo tempo em que se permite a manutenção da exploração de imensas reservas de carvão. É uma aposta errada?

A tecnologia CCS, na escala necessária para sequestrar todas as emissões de CO2 do carvão, é algo ainda inteiramente carente de comprovação. Seria uma aposta perigosa contar com isso.

- Quanto mais tarde os EUA enfrentarem a necessidade de cortar suas próprias emissões de CO2, maior e menos resgatável se tornará sua "dívida de carbono" com a atmosfera terrestre. Não será fácil pagá-la sem um desconto ou sem comprometer a competitividade das empresas americanas numa economia globalizada. Como reagirá o governo dos EUA, com medidas protecionistas?

Futuros políticos são impossíveis de predizer, porque são impelidos pelas decisões de líderes individuais. É muito mais difícil saber se os EUA continuarão com seu modelo de globalização mantido há tempos do que conhecer o futuro da temperatura média global.

- Algumas passagens do livro deixam no leitor a impressão de que o sr. se preocupa mais com a água do que com o esgotamento de reservas de petróleo. A impressão está correta?

Ambas são criticamente importantes, é óbvio. Mas a água será muito provavelmente a crise definidora do século 21. Podemos encontrar tipos alternativos de energia, mas não tipos alternativos de água.

- Quando o sr. se questiona sobre o que faz as civilizações vicejarem, deixa a guerra fora da equação. Não é muito otimismo?

Há razões para otimismo quando se considera a probabilidade de guerra aberta entre os países Norc. Não se trata de dizer que a guerra não possa acontecer entre países como Canadá e Dinamarca, mas as linhas de fissura para um conflito estão muito menos aparentes do que para outras partes do mundo.

- Os Norcs, de acordo com sua análise, parecem ter uma faca de dois gumes em suas mãos: o efeito da mudança do clima pode ser visto tanto como um bônus quanto como uma maldição para eles. O petróleo que se espera extrair do Ártico vai acelerar as emissões de carbono e a mudança do clima, que tornará o permafrost instável para construir estradas e prédios. Não estaríamos diante de um ciclo econômico mais do tipo expansão-e-crise ("boom-and-bust")?

A desestabilização do permafrost pode tornar certas áreas antieconômicas e talvez forçar seu abandono. Mas petróleo e gás são apenas uma pequena parte deste livro. Em graus variados, os Norcs possuem vantagens crescentes em coisas como água, educação, companhias globalizadas e políticas de imigração favoráveis. Meus argumentos se baseiam nelas, também, e não simplesmente na extração de recursos naturais.

- Por que o sr. está tão seguro de que a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Unclos, na abreviação em inglês) oferece uma moldura adequada para prevenir disputas perigosas pelo controle das riquezas no leito marinho do Ártico? O direito internacional não impediu os EUA de invadir o Kuait nem o Iraque.

A convenção parece satisfatória, ao menos por ora, porque todas as cinco potências do Ártico se alinharam com ela de modo unânime. Eles resistem claramente a quaisquer outras propostas de governança para a região, por exemplo a governança internacional da Antártida.

- Sua conclusão é que a questão mais importante não é de capacidade, mas sobre o desejo: "Que tipo de mundo queremos?" Seria um sinal de que os pesquisadores do clima estão finalmente reconhecendo que sua ciência sempre teve uma dimensão ética que a maioria deles tentou soterrar sob toneladas de dados nos últimos 20 anos?

Essa sentença final fala sobre algo muito além da ciência do clima, sobre enfrentar os muitos outros dilemas éticos aventados pela obra. Até que ponto podemos danificar ecossistemas para obter os recursos naturais necessários para a sociedade moderna? Deveriam os imigrantes globais ser barrados ou cobiçados? Os idosos deveriam receber cuidados de seres humanos ou de robôs? O leitor encontrará muitas dessas questões éticas no livro.

(Marcelo Leite)

(Folha de SP, 17/1)

Educação e ciência, artigo de Eloi S. Garcia

"A educação é uma aposta no futuro e na mudança do país. Ela ajuda a formar profissionais mais flexíveis, competentes, críticos e analíticos"

Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, assessor do Inmetro, pesquisador do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciência (ABC). Artigo enviado pelo autor "JC e-mail":

A comunidade educacional discute uma nova maneira de ensinar que adaptem as novas gerações que são influenciadas pela tecnologia moderna, pela sociedade globalizada, mas que acima de tudo, que estimula a imaginação e a criatividade.

É tempo de utopia na educação e esta convicção deve se revestir e recobrir de renovação na aprendizagem e ciência como chave para chegar a um modelo para a sociedade moderna. Educação e ciência são duas faces de uma mesma moeda. Por isso se necessitam e se encaixam e devem ser consideradas juntas.

Deve-se associar a imagem do professor com a do cientista. Transferir e produzir conhecimentos são pontos comuns. Educar não é somente ter escolas e universidades. É a formação integral do estudante e envolve uma compreensão razoável, entendimento mútuo e diminuição da coesão "caótica" educacional existente.

A educação é uma aposta no futuro e na mudança do país. Ela ajuda a formar profissionais mais flexíveis, competentes, críticos e analíticos. Os estudantes querem aprender o que está acontecendo e não somente o que alguns professores infelizmente repetem em sala de aula. A melhor forma de aprender é fazendo, colocando "as mãos na massa".

Confúcio tem uma frase expressiva que diz: "quando me contaram, esqueci; quando vi, entendi; quando fiz, aprendi". Esta metodologia implica na experimentação, na busca de solução aos problemas e na relação mais próxima entre o educador e o aluno. Os estudantes precisam de motivação para aprender algo que seja útil às suas vidas e à sociedade.

Deve-se sempre evitar a frase de Einstein: "a educação é o que sobra depois que esqueci o que aprendi na escola" ou a de Churchill: "sempre gostei de aprender, o que não gosto é o que me ensinam na escola".

É tempo de construir este sistema educacional em que o ensino reforce a criatividade e desenvolva a inteligência em todos os níveis bem como aumentar o número de crianças indo para o ensino fundamental, do fundamental para o ensino médio de qualidade e deste para uma universidade de excelência.

A emancipação dos jovens através do ensino e o saber crítico constituem o núcleo central que dá mais sentido à educação e aos países que almejam o desenvolvimento e melhoria da população. Se nos próximos 20 anos formos capazes de prover uma aprendizagem de qualidade para os nossos jovens, em todos os níveis, faremos o melhor para o nosso país.

Basta de trapalhadas com Enem

Correio Braziliense - 19/01/2011

Há dois anos o Ministério da Educação (MEC) tenta, sem sucesso, amenizar o pesadelo da juventude brasileira na hora do difícil ingresso numa universidade pública. A louvável intenção esbarra no despreparo, na falta de planejamento e de estrutura. Desde então, dois presidentes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) deixaram os cargos. O primeiro deles, o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Reynaldo Fernandes, chegou a vaticinar, em carta de despedida aos funcionários, que “tormentas não duram para sempre”, imaginando que logo o órgão estaria “navegando em águas mais calmas, podendo realizar com dignidade e competência sua importante missão”.

Não foi o que se viu. Fernandes saiu em 2009, depois que a descoberta de fraude levou ao adiamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Seu sucessor, o professor do Departamento de Física da Universidade de Brasília (UnB) Joaquim Soares Neto, foi substituído ontem. Assume o posto a reitora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UniRio), Malvina Tânia Tuttam. Bonança à vista? A julgar apenas pela nova troca de comando, é de duvidar. O fato é que o MEC não está dando conta da complexa tarefa que assumiu. Ao implantar processo mais democrático e justo de acesso ao ensino superior que o famigerado vestibular, a pasta não se estruturou adequadamente. Resultado: sucessão de desmoralizantes falhas e um inferno ainda mais penoso para os estudantes.

As confusões com o Enem somam quebra de sigilo de provas e de dados pessoais dos candidatos, questões anuladas, gabarito errado. No ano passado, o governo criou, com base nas notas do referido exame, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que centraliza a oferta de vagas de universidades cadastradas. Seria mais um avanço, não fosse também apresentar problemas já na estreia — e repeti-los agora, na segunda edição. Embora soubesse que 3 milhões de alunos estavam aptos a disputar as 83.125 vagas disponíveis, o MEC subestimou a demanda. Preparou-se para uma média de até 400 acessos por minuto e eles bateram em 600. Determinou prazo de três dias para as inscrições, que seriam encerradas ontem, e teve de revê-lo, prorrogando-o até amanhã.

Mais do que transtornar a vida de jovens ávidos por transpor a apertada porta de entrada do ensino de terceiro grau no país, as trapalhadas depõem contra o governo como um todo e comprometem importantes e bem-vindas fórmulas de solução do problema. O vexame do Sisu se torna ainda mais estarrecedor quando se sabe que o Brasil dá show de competência internacional ao captar e processar 135 milhões de votos num só dia e receber 24 milhões de declarações de Imposto de Renda em dois meses. É inexplicável que o MEC não consiga se organizar minimamente para atender a demanda bastante inferior. O ministro Fernando Haddad — com férias marcadas para amanhã —, não eventual presidente do Inep, precisa assumir a responsabilidade de pôr fim ao imbróglio.

MEC agora admite que Sisu foi mal planejado

MEC admite planejamento insuficiente, e falhas no acesso ao Sisu continuam
Autor(es): A gencia O globo: Demétrio Weber e Lauro Neto
O Globo - 19/01/2011

Ministério nega, porém, alteração de dados dos candidatos às vagas



BRASÍLIA e RIO. O secretário-executivo do Ministério da Educação (MEC), José Henrique Paim Fernandes, admitiu ontem que houve falha no planejamento do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Segundo ele, a expansão do Sisu - que aumentou a oferta de vagas em 73% de 2010 para 2011 - não foi levada em conta como deveria, na preparação do setor de informática responsável pelas inscrições:

- Não é falta de planejamento. Existiu um planejamento que considerou o crescimento do processo, mas de modo insuficiente.

Ontem, como na segunda-feira à noite, estudantes que se inscreviam no Sisu tiveram acesso, pela internet, aos dados de outros, inclusive resultados do Enem. Em nota, o MEC informou que isso ocorreu por quatro minutos, a partir das 6h, na reabertura do sistema (fechado ao público da meia-noite às 6h).

O ministério nega que qualquer candidato tenha conseguido fazer alterações na inscrição de outros, mudando instituições ou cursos escolhidos.

- Não existe essa possibilidade - disse Paim Fernandes.

Segundo ele, técnicos do ministério investigaram casos de supostas mudanças relatadas por estudantes. A conclusão foi que as alterações ocorreram mediante o uso do login e da senha dos próprios candidatos.

Estudantes têm imagens da violação de seus dados

Apesar de o MEC negar a alteração dos dados, estudantes comprovaram, com a impressão de imagens capturadas do site, que seus dados foram acessados e até modificados por concorrentes. Além de terem acesso a telefones, e-mail, notas e número de inscrição de terceiros, muitos candidatos reclamaram que tiveram suas opções de curso alteradas entre a noite de anteontem e a manhã de ontem.

Antes de conseguir acessar sua página no Sisu, Lucas Guilhon teve acesso a dados dos candidatos Julio Cesar Ferreira Francisco e Juliana Souza dos Santos, das 20h34m às 20h42m de segunda-feira. Após finalmente conseguir fazer a inscrição no curso de Sistema da Informação na UniRio, às 21h42m, Lucas consultou novamente o sistema às 22h32m e, para sua surpresa, sua primeira opção fora mudada para Relações Internacionais na Unifesp, em Osasco (SP).

- Quando entrei novamente, minhas opções haviam sido alteradas aleatoriamente. A segunda opção, Meteorologia na UFRJ, foi mudada para Administração na Universidade Federal de Roraima. Isso é, no mínimo, criminoso. Alguém tem acesso a meus telefones e e-mail. Cadê o sigilo? Penso em entrar na Justiça - disse Lucas.

Juliana Souza levou um susto ao saber que seus dados haviam sido vistos por terceiros. A surpresa foi maior ao ser informada de que os cursos pelos quais optou ao fazer a inscrição haviam sido alterados para Cinema na UFF e Engenharia Civil na Universidade Federal do Paraná.

- Quando abri o site do Sisu pela primeira vez, não tinha feito nem a inscrição e apareceu que eu havia escolhido uma universidade no Ceará. Depois, entrei na página de uma Elen. Finalmente consegui me inscrever em Pedagogia e Letras, ambas na UFRJ. E tenho comprovado, pois imprimi - disse Juliana. - Sinto-me totalmente lesada, pois tiveram acesso a meus dados e alguém alterou minhas opções. Isso é maldade, uma pouca vergonha. Vou processar o MEC.

Carlos Eduardo Paz, defensor-chefe da Defensoria Pública da União (DPU) no Ceará, orienta os candidatos a imprimir cada passo da inscrição e, se se sentirem lesados, procurem a DPU do seu estado. Ele diz que juntará as reclamações dos estudantes a uma ação civil pública ajuizada em agosto de 2010, quando dados pessoais como CPF, RG e notas de quase 12 mil estudantes inscritos no Enem entre 2007 e 2009 ficaram visíveis no site do Inep.

O Sisu é operado pela Diretoria de Tecnologia da Informação (DTI), subordinada à Secretaria Executiva do MEC. Paim Fernandes, o secretário-executivo, e o ministro Fernando Haddad ficaram por seis horas na sala de informática na segunda-feira, de 19h à 1h, coordenando o trabalho dos técnicos. O investimento em informática nos últimos dois anos foi de R$15 milhões.

- Estamos tomando medidas para atingir uma melhor situação. Queremos garantir o direito do estudante de fazer, nas melhores condições, a sua inscrição e ter acesso à universidade pública - disse Paim.

Ele contou que equipamentos foram substituídos para melhorar a capacidade de atendimentos simultâneos do Sisu. A troca de um deles tirou o sistema do ar, na segunda à noite. Foi na reativação do sistema que houve os primeiros casos de um candidato visualizar a inscrição de outro. As inscrições no Sisu foram prorrogadas até amanhã, às 23h59m. Até ontem tinha sido registrado 1 milhão de inscrições feitas por cerca de 650 mil candidatos.

Enem tem mais erros e nova chefe

Mas ninguém dura no cargo?
Autor(es): Larissa Leite
Correio Braziliense - 19/01/2011

Em pouco mais de um ano, o Inep, instituto responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio, trocou duas vezes de comando. Ontem, a ex-reitora Malvina Tânia Tuttman assumiu o cargo em meio a novas falhas no site.

ENEM
Após mais uma sucessão de falhas envolvendo o Exame Nacional do Ensino Médio, presidente do Inep é exonerado. Ficou apenas um ano

A responsabilidade por uma prova realizada por mais de 3 milhões de brasileiros — o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — ganhou um peso insuportável para Joaquim Soares Neto. Formado em física pela Universidade de Brasília (UnB) e com um currículo que inclui a direção geral do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), Neto foi exonerado ontem do cargo de presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pelo exame.

À frente do Cespe, Neto organizou o Enem após o vazamento do exame, ocorrido em outubro de 2009. Logo depois, no mês de dezembro, deixou o centro de seleção para assumir a presidência do Inep, em razão do pedido de demissão do então presidente, Reynaldo Fernandes. Joaquim Soares Neto assumiu o cargo com a missão de recuperar a credibilidade do instituto, e pelo tempo que ficou à frente do Inep, parece não ter sido bem-sucedido: durou apenas um ano. Para completar, a saída ocorre após novas falhas no Enem e pelo desgaste nessa curta gestão — já visível nas últimas aparições públicas do ex-presidente.

Sob seu comando, o Enem sofreu com erros básicos, como a inversão de cabeçalhos no caderno de respostas do exame, e a prova teve de ser reaplicada para 9.500 estudantes. Ontem, no dia da exoneração, o MEC teve ainda de explicar problemas na página de inscrição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), utilizado por estudantes que fizeram o Enem para a inscrição em 83.125 vagas de instituições de ensino superior.

Para ocupar o lugar de Joaquim Soares Neto, foi nomeada Malvina Tânia Tuttman, ex-reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Há cerca de uma semana, Soares Neto conversou com o reitor da Universidade de Brasília (UnB), José Geraldo, e revelou o desejo de voltar à sala de aula: “Pelo que ele me disse, está voltando para exercer as funções docentes e de pesquisador. Ele deve se reapresentar à sua unidade de lotação, o Instituto de Física, e voltará a contribuir com a universidade.”

A história bate com a justificativa oficial do MEC — Neto teria pedido demissão em dezembro e em janeiro o pedido foi refeito —, mas não com o clima criado ainda no fim do ano passado quando, a amigos, o ex-presidente do Inep confidenciou que talvez fosse melhor reaplicar o exame que apresentou problemas e teve o tema da redação vazado. O ministro da Educação, Fernando Haddad, era contra, e prevaleceu a opinião do chefe.

Não à toa, Malvina Tuttman foi escolhida justamente pelo alinhamento com as políticas apresentadas por Haddad ainda no governo Lula. Em 2009, por exemplo, ela determinou que todas as vagas da UniRio fossem preenchidas pelos inscritos no Enem — essa foi uma das primeiras adesões integrais ao modelo.

Ação civil
A dificuldade em acessar a página do Sisu vem desde o último domingo, quando o site começou a apresentar demora para o carregamento da página e erro no reconhecimento de senhas. Dificuldades de acesso na noite da última segunda-feira e na manhã de ontem foram, inclusive, reconhecidas pelo MEC, que gerencia o sistema. A pasta informou que os erros ocorreram após a “manutenção extraordinária dos equipamentos da página de inscrição do Sisu”. Ela foi realizada entre 19h30 e 20h do dia 17, quando estudantes acabaram redirecionados para páginas e dados aleatórios, conforme informou a própria assessoria do MEC. O problema voltou a ocorrer às 6h de ontem.

Apesar de o MEC afirmar que “em nenhum momento foi possível a troca de inscrição ou a manipulação dos dados dos estudantes”, diversos alunos que acessaram a página reclamaram de ter tido inscrições canceladas ou até mesmo cursos alterados. O Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União no Ceará entraram ontem com ações civis públicas contra o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Seleção Unificada.

Colaborou Débora Álvares

Caso afeta ProUni e Fies

» Os problemas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que obrigaram o Ministério da Educação (MEC) a prorrogar as inscrições para a seleção até, pelo menos, amanhã, acabaram resultando em transtornos em outros programas do ministério. O ProUni, por exemplo, teve as inscrições adiadas para o período entre 21 e 25 de janeiro, assim como o Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), cujo cadastro deveria ter começado na segunda, mas só terá início dia 31 deste mês.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O que esperar do novo PNE?

Autor(es): Otaviano Helene e Lighia Horodynski-Matsushigue
O Estado de S. Paulo - 18/01/2011

O atual Plano Nacional de Educação (PNE) chegou ao fim e, como esperado, o Executivo federal apresentou nova proposta para os próximos dez anos. O que esperar dela?

Comecemos a análise pelo plano que ora se encerra (PNE-F). Com isso teremos elementos para prever o que, a depender do novo (PNE-N), poderá ocorrer com a educação nacional nos próximos dez anos. O primeiro fato sobre o PNE-F é que as metas estabelecidas não foram cumpridas; ao contrário, afastamo-nos ainda mais da maioria delas. Por exemplo, no início de sua vigência, há dez anos, o número de concluintes do ensino fundamental correspondia a cerca de 75% das crianças da coorte etária típica. Segundo os dados consolidados mais recentes, esse porcentual pode estar reduzido a cerca de 70%. Assim, findo a período de vigência do PNE-F, ainda não universalizamos sequer o ensino fundamental, apesar de este ser obrigatório desde a Constituição de 1988. As matrículas na educação básica permaneceram estagnadas, ou até diminuíram; a taxa de conclusão do ensino médio foi reduzida e hoje só um de cada dois brasileiros entra na idade adulta com esse nível educacional, o que nos põe em enorme desvantagem em comparações internacionais.

Por que isso aconteceu? Uma primeira razão é a simples falta de recursos financeiros, sem os quais é absolutamente impossível atacar o problema educacional. Embora investimentos de 7% do PIB em educação tivessem sido aprovados pelo Congresso, tal provisão, ainda que insuficiente, foi sumariamente vetada pelo Executivo de então. Assim, não havendo condições objetivas, as metas simplesmente não foram cumpridas.

Um segundo fator que pode explicar a inoperância do PNE-F é que não havia definição clara quanto a quem deveria cumprir as metas, o que é fundamental para um país onde as atribuições educacionais são repartidas por municípios, Estados e União. Na ausência dessa definição, os Poderes Executivos, o Congresso, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais não se sentiram responsáveis por nenhuma das metas e simplesmente se omitiram. Os órgãos responsáveis pela defesa da ordem jurídica também nada fizeram, apesar de uma lei nacional não estar sendo cumprida. E os Conselhos de Educação, nacional e estaduais, embora, em princípio, devessem cuidar das metas do PNE, igualmente nada fizeram.

Vejamos agora o novo PNE. Quanto ao financiamento, há uma previsão de que se deva "ampliar progressivamente o investimento público em educação até atingir, no mínimo, 7% do produto interno bruto". Embora uma estimativa realista, adotada até pela Conferência Nacional de Educação de 2010, indique que seriam necessários cerca de 10% do PIB, essa é uma meta importante. Entretanto, como as metas do PNE-F não foram cumpridas, não há nenhuma garantia de que esta o seja. Para que isso venha a ocorrer duas coisas deveriam ser definidas: o que se considera gasto com educação (para evitar a prática comum, e amplamente adotada por Estados e municípios, de debitar na conta de educação coisas que nada têm que ver com ela) e qual a responsabilidade de cada ente da Federação na composição do total.

O PNE repete as mesmas omissões fundamentais do que se encerra, apresentando metas sem dizer quem as deve cumprir - um primeiro passo para sua falência. Por exemplo, a meta de incluir 50% das crianças com até 3 anos na educação infantil, embora louvável, não define de onde virão os recursos nem quem deve arcar com a responsabilidade. Além disso, continua não havendo previsão de punição se as metas não forem cumpridas; afinal, como punir alguém por algo que não foi feito sem que estivesse clara a sua responsabilidade nessa omissão?

Há, também, metas erradas no PNE-N, em especial no que diz respeito ao ensino superior. Uma delas é estabelecer a relação mínima de 18 alunos por professor nos estabelecimentos públicos. Essa proporção é altíssima para um país onde a pós-graduação e o desenvolvimento científico, cultural e tecnológico ocorrem basicamente nesse tipo de instituição. Ao contrário, esperar-se-ia que, se houvesse uma definição de limite para a relação estudantes/professores, este fosse máximo, não mínimo, condição necessária para tornar viável a execução com qualidade dessas tarefas.

Há, ainda, uma meta muito perigosa: elevar a taxa de conclusão de cursos superiores nas instituições públicas para 90%. Mesmo nos países cujos sistemas educacionais são bem estabelecidos ou, no caso do Brasil, em muitos dos cursos de alto prestígio, níveis de conclusão tão elevados não são atingidos. Cabe perguntar: o que se pretende com essa meta? Forçar a aprovação de estudantes, mesmo quando despreparados? Baixar os níveis de qualidade do ensino superior público e igualá-lo ao de muitas instituições privadas? Vale lembrar que tal meta foi imposta, a partir de 2007, às universidades federais pelo programa Reuni e já se provou descabida na maioria dos casos.

No todo, o PNE-N mais se assemelha a uma peça de gerenciamento que a um plano que pretenda atingir as raízes dos problemas que nos levaram a um péssimo desempenho na educação. Tanto pela história do PNE-F como de outros projetos de lei, sabemos que o Congresso, que deverá analisá-lo, não tem compromissos com uma educação pública republicana, democrática e igualitária, e pouco podemos esperar dele. Assim, se quisermos obter algum avanço, é necessário que a população e as entidades científicas, acadêmicas, estudantis, sindicais e educacionais se mobilizem. Caso isso não se concretize, corremos o sério risco de ver repetir-se o que aconteceu na última década: a educação continuar aquém das necessidades e possibilidades da sociedade, não servindo como instrumento de promoção do desenvolvimento pessoal e nacional, em sua conceituação mais ampla