quarta-feira, 30 de março de 2011

A luta pelo direito da pessoa com deficiência auditiva em encontrar livros em LIBRAS

Por Renata Soares

Ana Carolina Praxedes aprendeu a se comunicar com a Língua Brasileira de Sinais desde bem pequena, já que, ainda bebê, ficou surda. Formada em Pedagogia com especialização em Materiais Pedagógicos, ela é autora de jogos educativos elaborados em Libras, uma espécie de suporte aos alunos que estão começando a aprender o português.

Segundo a especialista, essa é uma ferramenta essencial para reconhecer o significado das palavras e deve ser inserida de maneira paralela ao aprendizado da Língua Portuguesa. Ana, mais que ninguém, sabe da importância do acesso à informação dessa linguagem, já que, além de atuar profissionalmente na área, tem a experiência pessoal como fonte de motivação. "Tive que superar a dificuldade de outras tantas pessoas com deficiência, que encaram o problema da falta de livros e pouca variedade deles durante o processo de alfabetização", conta a especialista.

O Ministério da Educação e Cultura (MEC) exige que todas as escolas se adequem à diversidade linguística de seus estudantes, criando formas igualitárias de acesso ao material escolar, didático e de pesquisa. "Para pessoas com surdez, isso significa ter disponível o livro traduzido em Libras e materializado em software específico que comporte um vídeo na língua dos sinais", esclarece Neiva Albres, fonoaudióloga e pedagoga.

A profissional adianta que o MEC tem trabalhado na produção desse material, e que as enuobras selecionadas e adquiridas para o plano de 2011 deverão ser entregues em breve. "Esses livros devem integrar também o Acervo Digital Acessível, um espaço virtual que estará disponível no portal do Ministério. Estamos vivendo um momento de mudança, em que ações são desenvolvidas para minimizar a desigualdade social", afirma.

Se na teoria tudo é perfeito, na prática o cenário é outro. Neiva chama a atenção para um dado preocupante: a dificuldade das pessoas com deficiência auditiva em ter acesso à cultura se deve ao fato de poucas editoras estarem preocupadas com a causa.

De grão em grão
"O acesso aos livros em sua línguamãe (no caso do surdo, a Libras) é uma forma de trabalhar com o conhecimento de mundo, por meio de situações reais e contextualizadas, com sequência de fatos e acontecimentos", enumera a pedagoga Débora Rodrigues Moura, mestre em Línguística Aplicada pela PUC-SP. A pedagoga reforça que a leitura de uma obra regular mesmo para o surdo que tem o domínio do português é uma atividade realizada em um idioma diferente.

É preciso que as bibliotecas com um bom acervo nessa linguagem tenham exemplares de assuntos diversos, de história contemporânea a materiais didáticos. "A criança deve ter acesso a vários tipos de textos e gêneros discursivos. É uma maneira de utilizar a leitura e a escrita com diferentes propósitos e práticas sociais. Com a criança surda não é diferente. Essa diversidade é igualmente necessária", alerta Débora.

O conceito é compartilhado pela Biblioteca Pública Anísio Teixeira, em Salvador (BA), que embora conte com um acervo pequeno de livros na língua dos sinais, mantém um setor de atendimento especial para pessoas com deficiência auditiva. "Estamos começando. De um total de 14 mil obras, nosso acervo em Libras conta com 40 títulos, alguns periódicos, DVDs com histórias, documentários e contos infantis", explica a diretora Laura Galvão.

"Ter uma biblioteca com livros em Libras é garantir que qualquer pessoa tenha acesso à cultura em sua primeira língua"
defende Débora Moura, mestre em Línguística Aplicada pela PUC-SP

A frequência dos usuários que procuram o acervo especial é quase 20% da procura geral da biblioteca. A biblioteca, que deu início às atividades do Setor de Atendimento à Criança e ao Adolescente Surdo (SACAS) há apenas dois anos, ainda encontra dificuldades para prosseguir. Segundo Laura, a demanda cresce e nem todas as solicitações podem ser atendidas.

"Apesar do suporte que recebemos da Fundação Pedro Calmon, precisamos de mais títulos, CDs e DVDs para esse público. Doações são mais do que importantes, já que o papel da biblioteca pública é socializar e dar ao leitor espaço organizado onde possa buscar e trocar informações gratuitamente", explica a diretora.

Opinião dos educadores
De acordo com Roger Prestes, professor de Libras e educador de surdos há nove anos, a importância envolve a quantidade de informação que uma pessoa com deficiência auditiva, de acordo com o número de livros que encontra em sua língua. "Considero muito importante iniciativas como estas das prefeituras. Um acervo de livros e dicionários em Libras facilita a procura por informação", comenta.

Surdo também, Prestes leciona atualmente na Escola Municipal de Ensino Fundamental Especial para Surdos, da Secretaria de Educação de Canoas, no Rio Grande do Sul. De acordo com o professor, toda biblioteca deveria ter obras de referência como "A Imagem dos Outros sobre Cultura Surda", de Karin Strobel, e "Estudos Surdos", de Gladis Perlin. "Sei como é difícil encontrar material apropriado nas livrarias e bibliotecas e quero ajudar meus alunos de alguma forma, nem que seja cobrando das autoridades, editoras e autores que olhem para esse público carente de cultura", diz.

Como pedagoga, Ana Carolina avalia como é importante a difusão da língua dos sinais em livros, apostilas e jogos educativos que ajudem os surdos a conhecerem sua linguagem própria. "Mas, como pessoa com deficiência auditiva, gosto das obras em português e historinhas filmadas em Libras", diverte-se.

Fonte: Revista Sentidos

Pesquisa diz que principais alvos de bullying são alunos populares na escola

Estudo ouviu 3.722 alunos e concluiu que bullying é uma forma de competição social

O bullying é praticado como uma forma de ganhar popularidade, e seus alvos nas escolas são garotos com status médio ou alto entre seus colegas.

A conclusão é de uma pesquisa da Universidade da Califórnia publicada no American Sociological Review. Foram ouvidos 3.722 alunos dos últimos anos do ensino fundamental (equivalente ao primeiro grau) de três condados no Estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

As entrevistas apontam que a violência funciona como um mecanismo de competição para aumentar o status no universo estudantil, mais do que para maltratar nerds ou excluídos. Esses não seriam as maiores vítimas de bullying, segundo o estudo.

Isso não quer dizer que eles estejam totalmente fora da mira dos agressores, afirma o professor de sociologia Robert Faris, responsável pela pesquisa, em entrevista para o jornal New York Times.

- [o bullying acontece] talvez com alguém bem à sua frente ou do seu lado, mais do que com crianças isoladas e desprotegidas. Isso não quer dizer que elas não sofram [bullying], porque elas sofrem. Mas a taxa geral de agressões cresce conforme o status cresce [dentro da escola].

Os que estão no meio e no alto da pirâmide da popularidade, em colégios e escolas, são tanto os que mais sofrem agressões quanto os que mais praticam, ressalta Faris.

- A maior parte do bullying acontece entre os que estão no meio e no topo do status social. Mais do que praticar a violência contra os alunos às margens do círculo escolar, os alvos do bullying são os potenciais rivais em termos de popularidade.

Surpresa
Com o uso de grandes mapas sociais das escolas dos três condados avaliados, pesquisadores toparam com uma surpresa: apesar de a agressividade crescer conforme cresce o status, os 2% mais populares entre os alunos apresentaram menos tendência a serem violentos.

- No topo, começa a haver uma reversão. As crianças entre os 2% [mais populares] são menos agressivas. Eu avalio que chega um momento em que elas não precisam mais competir, porque estão no topo da pirâmide. Mais agressão seria contraprodutivo [para a popularidade].

Desequilíbrio
A pesquisa afirma que o bullying não está ligado necessariamente a um desequilíbrio emocional, mas pode ser um passo calculado como tentativa de obter status. O resultado contradiz a ideia de que o agressor é desajustado ou agressivo por natureza.

    Pais e educadores estão quase sempre desinformados sobre o estresse diário e as agressões que os estudantes passam, aponta o autor do estudo.


- As pesquisas sobre bullying vêm focando nessa dinâmica de antagonismo crônico contra jovens socialmente isolados, ignorando essas outras formas de agressão. É bem possível que um ato, um rumor espalhado na internet possa ser devastador [para a popularidade e o psicológico de um aluno].

Fonte: R7

Prova vai detectar nível de alfabetização no início do Ensino Fundamental

A Prova ABC é uma iniciativa do Movimento Todos pela Educação e do Instituto Paulo Montenegro, em parceria com a Fundação Cesgranrio e o Inep

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Alunos matriculados no 4° ano do ensino fundamental participam nesta semana de uma nova avaliação que pretende detectar o nível de alfabetização das crianças que completaram os três primeiros anos desse nível de ensino. A Prova ABC é uma iniciativa do Movimento Todos pela Educação e do Instituto Paulo Montenegro, em parceria com a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).

As avaliações oficiais existentes hoje no país medem o desempenho dos alunos a partir do 5° ano do ensino fundamental. Para a diretora executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscilla Cruz, é importante que o Brasil implemente um instrumento para medir a alfabetização dos alunos mais novos, de forma que as políticas públicas possam ser corrigidas a tempo.

“Se você não tem uma criança alfabetizada plenamente até os 8 anos de idade, o aprendizado a que ela tem direito no futuro não ocorrerá. O instrumento inicial de compreensão do mundo é a alfabetização”, afirma.

Foram selecionados 6 mil alunos de 262 turmas de escolas municipais, estaduais e particulares de todas as capitais do país para participar da prova. Os resultados estão previstos para a segunda quinzena de junho.

Desde 2008 o Ministério da Educação envia às escolas públicas do país a Provinha Brasil, um teste aplicado pelos próprios professores a alunos do 2° ano do ensino fundamental. Os resultados não são divulgados e servem apenas como diagnóstico para os educadores avaliarem o nível de aprendizagem dos estudantes. Priscilla acredita que é necessária uma prova externa e que cubra todo o país.

“Avaliação não é para punir ninguém, mas um instrumento para garantir a qualidade. O direito de aprender está na Constituição Federal, mas como a sociedade pode exigir se não há uma avaliação externa que diga se elas estão aprendendo ou não?”, pergunta.

Em 2008, dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que 1,3 milhão de crianças e adolescentes brasileiros de 8 a 14 anos não sabiam ler nem escrever. Desse total, 84,5% frequentavam a escola.

Edição: Graça Adjuto

Fonte: Agência Brasil

segunda-feira, 28 de março de 2011

Professor americano defende uma nova sociologia da infância

Há mais de três décadas, o sociólogo norte-americano William Corsaro, professor na Universidade de Indiana, tem se dedicado a estudar a forma como crianças a partir dos 3 anos interagem

PATRÍCIA GOMES
DE SÃO PAULO

Há mais de três décadas, o sociólogo norte-americano William Corsaro, professor na Universidade de Indiana, tem se dedicado a estudar a forma como crianças a partir dos 3 anos interagem.

Corsaro vai até escolas e pré-escolas, senta-se em um canto e observa. Dessa "posição privilegiada", de quem procura não interferir no que está vendo, o sociólogo conseguiu estabelecer um método que considera único para essa faixa etária, com observações feitas com crianças e não apenas sobre elas.

Ao frequentar tantas escolas desde a década de 1980 e ver os primeiros grupos de crianças estudadas se tornarem pais e mães, Corsaro percebeu que as crianças, mesmo pequenas, não vivem só de imitar os adultos.

Elas têm, segundo o professor, sua própria maneira de interagir com os outros e com o mundo à sua volta, elas estabelecem regras, desafiam os maiores e procuram formas alternativas de serem aceitas.

"As crianças aprendem estratégias de interação entre e com elas mesmas", diz.

Para Corsaro, muito do aprendizado na faixa etária pré-escolar advém apenas do fato de as crianças estarem em contato umas com as outras, sem imposições ou atividades coordenadas.

"Elas deveriam ter mais oportunidade para brincar livremente, com menos intervenção dos professores. A pré-escola não pode ser só uma preparação para a escola."

O sociólogo, no entanto, não minimiza a importância de, com a supervisão de adultos, serem propostas brincadeiras que as estimulem e as desafiem.

"As regras são necessárias, mas elas não podem inibir a criatividade", opina.

O resultado das décadas de observações de Corsaro está no livro "Sociologia da Infância" (Artmed), que acaba de ter sua segunda edição, ampliada e revisada, lançada no Brasil.

Fonte: Folha.com

Professores: interação com alunos pode cair à metade da jornada de trabalho

Comissão de Educação do Senado deve votar amanhã projeto que assegura aos docentes que trabalham em tempo integral o cumprimento de metade da carga horária em atividades fora da sala de aula

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado deve votar amanhã, em turno suplementar, substitutivo ao projeto que assegura aos professores que trabalham em tempo integral o cumprimento de metade da carga horária em atividades fora da sala de aula, como estudo, planejamento e avaliação, além de outras que não incluam a interação com os alunos prevista no plano curricular. O Projeto de Lei 397/08, foi apresentado pela ex-senadora Fátima Cleide (PT-RO) e modifica parte do artigo 67 da Lei de Diretrizes e Bases daEducação (LDB).

Ainda de acordo com o projeto, os professores que trabalhem com uma carga semanal menor terão direito a pelo menos um terço do horário fora de sala de aula. Pela redação atual da lei, é garantido aos professores um período reservado para essas atividades, mas não há determinação do tempo que será ocupado por elas. Resolução do Conselho Nacional de Educação, de 1997, determina que essas atividades ocupem entre 20% e 25% da carga horária.

Na justificativa do projeto, a autora argumenta que não é possível esperar um trabalho qualificado de um profissional do magistério "desmotivado, com baixo salário, sem estímulos na carreira, sem oportunidades de formação continuada e, principalmente, com uma jornada estafante".
Piso salarial

O Supremo Tribunal Federal deve julgar, na próxima quarta-feira, o mérito da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4.167), impetrada em 2008 por cinco estados, e que contesta pontos da Lei 11.738, sancionada no mesmo ano, também conhecida como Lei do Piso do Magistério. O piso estabelecido pelo governo federal é de R$ 1.187.

Fonte: Jornal de Brasília (DF)

Haddad defende que programas habitacionais tenham estimativa de demanda por escolas

''Se você prever a demanda potencial de Educação, o MEC pode entrar simultaneamente [construindo as escolas], enquanto constroem as casas'', disse o ministro da Educação

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O ministro da Educação, Fernando Haddad, defendeu hoje (26) que os programas habitacionais, tanto do governo federal como dos governos estaduais, façam o planejamento prévio da demanda por infraestrutura de educação.

“Se você prever a demanda potencial de educação, o [Ministério da Educação] MEC pode entrar simultaneamente [construindo as escolas], enquanto constroem as casas”, disse após participar de um seminário sobre falta de vagas em creches, na Cidade Ademar, zona sul paulistana.

Durante o evento, o ministro falou sobre o papel da educação infantil e respondeu questões e ouviu reivindicações da comunidade. Também estava presente o secretario municipal de Educação de São Paulo, Alexandre Schneider.

Haddad ressaltou ainda a importância dos convênios com entidades privadas para a ampliação do tamanho da rede de creches. “Nesse momento não podemos abrir mão da ajuda da sociedade civil organizada”, afirmou.

Segundo ele, essas instituições podem oferecer serviços tão bons quanto as mantidas diretamente pelo Estado. “A creche conveniada pode ser muito bem organizada, seguindo todos os parâmetros estabelecidos”.

Edição: Fernando Fraga

Fonte: Agência Brasil

Vítimas de bullying revelam omissão da escola e medo de falar sobre tema

G1 conversou com internautas que revelaram experiências e traumas; histórias mostram falta de atitude das instituições de ensino

Fernanda Nogueira e Alex Araújo
Do G1, em São Paulo e Belo Horizonte

Mesmo com casos diferentes um do outro, pessoas que sofrem ou sofreram bullying na escola revelam dois problemas em comum. Um deles é a dificuldade para falar sobre o problema e fazer denúncia, e a outra é a falta de atitude de professores e diretores das instituições de ensino.

O G1 pediu relatos de internautas e entrou em contato com alguns dos leitores que se manifestaram. Alguns deles pediram para não se identificar. Veja abaixo os relatos de vítimas de intimidação nas escolas.

'Um professor participava das brincadeiras de mau gosto'
“Tenho assimetria crânio facial e eu havia mudado de escola. Sofri e muito com os meus colegas de classe, sendo caçoado. Muitas vezes pegavam o meu celular, desmontavam e dividiam entre eles. Recebi apelidos, chegaram até a fazer uma história em quadrinhos para me zoar. Usaram até um programa de rádio da escola para fazer isso.

Um professor participava das brincadeiras de mau gosto que faziam comigo. Entrava na zoeira. Ele ria. Acaba incentivando os outros em vez de repreender. Cheguei a falar para ele que não estava gostando daquilo, que não achava que era uma atitude de professor. Ele me ignorou simplesmente. Nunca procurei a direção da escola.

Eu tinha dores de cabeça muito fortes, ficava muito nervoso, acabava descontando a raiva em quem só tinha amor a me oferecer. Descontava nos meus pais, meu rendimento escolar caiu. Até chegar a um limite em que meus pais perceberam. Comecei um tratamento psicológico e isso me ajudou a superar esta dificuldade."

- Diogo Sarraf, 25 anos, gerente de projetos, São Paulo (SP)

'Outro dia meu filho chegou todo sujo de ovo'
“Meu filho sofre bullying na escola. Quem faz isso é um garoto da sala dele. Começou no ano passado. No último dia 15, eu estava saindo para ir à escola reclamar disso e ele chegou chorando, todo sujo de ovo. Estava muito nervoso, tremendo. Ele disse que já estava cansado de ir à coordenação. Falou: ‘Mãe, ela chama a gente, dá uma bronca nele na minha frente e diz para me pedir desculpa. Depois, começa tudo de novo’.

Fui à escola e exigi que tomem uma providência. Quero um documento assinado pelos pais do menino em que se comprometem a proibir que o filho deles continue fazendo isso. Agora me pediram um tempo para fazer o documento e chamar os pais do garoto. Dizem que estou fora da lei, mas estou achando a escola muito passiva em relação a esse garoto. Não é só com meu filho”

- Simone, 42 anos, estudante de pedagogia, de Marabá (PA), mãe de um aluno de 13 anos

'Recebi todo tipo de apelido por ter engordado'
“Aos 8 anos me mudei para uma nova cidade. Acho que por não conhecer ninguém. Ficava sozinha e engordei. Aí, começaram apelidos de baleia, bicho, dragão. Como era uma cidade pequena, tinha pouca gente na escola. Todo mundo sabia. As pessoas riam de mim. Os meninos falavam e outros achavam graça.

Uma vez, na aula de artes, a professora pediu para descreverem os colegas. O menino que mais tirava sarro de mim me descreveu. Escreveu todos meus apelidos. A sala toda virou para rir de mim. Saí correndo da sala. A professora não fez nada. Ela leu os apelidos que colocaram. Um dos meninos era filho da coordenadora da escola e ela não fazia nada. Falei para ela. Ela deu um sermão na sala e só. Não tinha coragem de contar para os meus pais. Queriam parecer que era normal, que não acontecia nada.

Até hoje tenho vergonha de falar em público por isso, mas consegui ser oradora da minha turma na formatura de jornalismo e sou professora de inglês.”

- Carolina Barroso Ahmed, 25 anos, professora de inglês, Natal

'Minha filha era perseguida pelos colegas'
Minha filha sofria bullying desde 2008, sofria com as perseguições feitas pelos colegas em um colégio particular. Ela era chamada de baleia, fofucha, baleia fofucha, caldeirão. Minha filha sempre foi meiga e estudiosa, mas por causa do problema ficou retraída, chateada e isso refletiu em notas baixas. Ela teve problemas na aprendizagem. Minha filha começou a ter erros ortográficos, chorava e pedia para não ir à escola.

Ela, na época, tinha cerca de 68 quilos e 1,50m de altura. Com isso ela teve problemas na coluna e não podia fazer exercícios que exigissem muito do corpo. E isso também era motivo para zombação. O constrangimento foi tanto que ela não participou das olimpíadas em 2009 porque os meninos gritavam da arquibancada para xingá-la.

Procurei a escola para conversar e apresentei um projeto de como trabalhar a discriminação e o respeito ao próximo, mas a escola optou por tratar a questão no nível da religiosidade.

Os colegas da turma chegaram ao ponto não querer fazer trabalho em grupo com ela. Uma vez, ela foi a uma festinha de aniversário e voltou chorando porque os meninos não deixaram-na brincar, alegando que ela era gorda e que iria quebrar os brinquedos.

Ela fez análise e arteterapia. As duas atividades trouxeram bons resultados e melhorou a autoestima dela.

Mesmo depois que ela mudou de colégio, em 2011, ela está melhor. Ela ainda fica na defensiva, mas está um pouco mais espontânea e madura. Ela faz tratamento médico com endocrinologista e nutricionista, e também caminhadas. Um ponto positivo desta história toda é que o pai dela também está fazendo dieta e os dois estão emagrecendo."

- Psicóloga, mãe de uma estudante de 12 anos de Belo Horizonte

'Um professor me chamou de burra dentro da quadra'

“Jogava vôlei em uma escola e fui participar dos jogos escolares. No jogo, faltavam dois pontos para acabar o jogo. Errei o saque e o professor, dentro da quadra, começou a me xingar.

Começou a falar que eu era burra e que não sabia jogar. Fui embora chorando. No outro dia, começaram a me xingar. Começou a acontecer repetidamente. Fiquei tímida. Tinha medo de ir para a escola. Ficava na sala nos intervalos. Saí das aulas de educação física. Adoecia, inventava febre para não ir para a escola.

Ficaram sabendo que foi ele, todos viram, mas como na época todo mundo achava que o comportamento dele era normal, ninguém fez nada. Nunca falei com ele nem para a diretora.

Fui fazer educação física na faculdade. O tema da minha monografia é o bullying. Agora vou fazer uma palestra na escola que estudei e pretendo contar o que aconteceu comigo.”

- Gabriela Loures, 24 anos, formada em educação física, Açailândia (MA)

'Fui humilhada na escola por ser negra e ter espinhas no rosto'

“Sofri bullying desde a quinta série, quando comecei a ter espinha, a crescer, sou muito alta, sou negra. Juntavam os apelidos racistas e o fato de ter espinhas no rosto. Me alopravam e humilhavam muito. Estudei oito anos nessa escola e nenhum menino nunca quis ficar comigo. Afetou muito minha auto-estima, me sentia feia, excluída.

Professores viam, chamavam atenção, mas não faziam mais nada. Não adiantava. Depois voltava tudo de novo. Eu contava para minha mãe. Ela ficava chateada, mas a gente se conformava porque todo mundo passa por isso na vida. Ela chegou a falar com professores, mas nada podia ser feito. Eles chamavam atenção, mas depois voltava tudo de novo. Acho que podiam ter pego mais pesado, ter falado de maneira que os alunos levassem mais a sério, tivessem mais consciência.

Tudo o que aconteceu me afeta até hoje, me preocupo bastante com a aparência, mas consigo sair e paquerar, diferente daquela época.”

- Marjorie Pereira, estagiária em finanças, 22 anos, São Paulo (SP)

Fonte: G1

Faltam professores para pré-escola

Números são de um estudo feito pelo Inep que mostra a necessidade de um aumento de quase 40% no número de professores para essa faixa no Brasil

LISANDRA PARAGUASSU – Brasília

O Brasil precisa ampliar o atendimento na pré-escola nos próximos anos para incluir quase 2 milhões de crianças de 4 e 5 anos. A meta, contudo, esbarra em um problema: faltam no País mais de 100 mil professores de pré-escola apenas para suprir essa nova demanda – não entram na conta a substituição de eventuais desistências, aposentadorias ou mudanças de área.

Os números são de um estudo feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que mostra a necessidade de um aumento de quase 40% no número de professores para essa faixa no Brasil. Em algumas regiões, no entanto, esse número passa dos 50%.

No caso do Centro-oeste, por exemplo, o aumento precisa ser de 62,3%, já no Sul a demanda é de mais 53,9%. No Sudeste o aumento porcentual é de 32%, mas esse índice, embora seja mais baixo que o de outras regiões, representa mais de 30 mil professores em números absolutos.

O cálculo do Inep leva em conta que, atualmente, 75% das pré-escolas estão em redes municipais e 23% em escolas privadas, a maior parte conveniada com o poder público. Com a criação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica, que remunera mais as prefeituras que tiverem escolas infantis, a necessidade de professores nas redes públicas pode ser ainda maior.

Existem hoje no País 1.832.953 crianças de 4 e 5 anos fora da escola, segundo o Inep. Até dois anos atrás, a Educação primária obrigatória era apenas de 7 a 14 anos – o ensino fundamental. Uma emenda constitucional aprovada em 2009 ampliou essa faixa para incluir aEducação infantil e o ensino médio.

Magistério em queda
O Inep leva em conta a atual realidade das turmas de pré-escola, que varia de 13 a 20 crianças por sala, dependendo do Estado ou da região. O número ideal é de 15 alunos, mas isso não ocorre na maioria das regiões.

A formação de professores para a Educação infantil é feita pelas escolas de magistério de nível médio. A partir da aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a formação mínima para o professor alfabetizador passou a ser o nível superior. Já as antigas escolas normais passaram a formar os docentes de escolas infantis. Mas o número de alunos dessas escolas vem caindo aceleradamente nos últimos anos, o que agrava ainda mais o déficit.

Dados levantados pelo Inep a pedido da reportagem indicam que, em apenas cinco anos, as escolas de magistério perderam cerca de 155,7 mil alunos, uma queda de quase 45%. Em 2004, eram 350,2 mil estudantes – número que passou para 194,5 mil em 2009.

Em alguns locais, como Distrito Federal, Rondônia, Roraima, Espírito Santo, Mato Grosso e Acre, já não existem alunos em escolas de magistério. Em São Paulo, são apenas 630. No Distrito Federal, a formação de nível médio se tornou obsoleta: mesmo para a Educaçãoinfantil, o governo local não contrata professores sem curso superior.

Fonte: Jornal da Tarde (SP)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Mordida moderna

Edição de hoje (25) da Science traz artigo, que tem a participação de pesquisadores brasileiros, sobre a descrição de animal que viveu a cerca de 260 milhões de anos no Brasil.

O Tiarajudens eccentricus foi um dos primeiros animais a ter uma boca na qual os dentes de cima se encaixam com os debaixo, possibilitando mastigar vegetais duros. A espécie, que acaba de ser descrita, viveu há cerca de 260 milhões de anos no atual Brasil.

O extinto animal, do tamanho de um cão atual de grande porte, também tinha dentes-de-sabre, com cerca de 12 centímetros de comprimeiro nos adultos.

A descrição do Tiarajudens eccentricus foi feita por Juan Carlos Cisneros, do Centro de Ciências da Natureza da Universidade Federal do Piauí, e colegas do Brasil e da África do Sul na edição desta sexta-feira (25) da revista Science.

A inusitada boca da espécie agora descrita amplia o conhecimento a respeito da diversidade de um grupo de animais herbívoros conhecidos como anomodontos, parte do grupo dos terapsídeos, répteis mamaliformes que são ancestrais dos mamíferos.

A descoberta do Tiarajudens também oferece a mais antiga evidência de oclusão dentária - em que os dentes de cima e de baixo se encaixam para um mastigar eficiente - em terapsídeos.

A oclusão dentária pode ter ajudado a espécie e outros anomodontos a consumir plantas com muita quantidade de fibras, ajudando na expansão para novos nichos ecológicos.

Mas por que um herbívoro precisaria de dentes-de-sabre? Segundo Cisneros e colegas, o Tiarajudens pode ter usado as presas para lidar com competidores e assustar predadores.

O artigo Dental Occlusion in a 260-Million-Year-Old Therapsid with Saber Canines from the Permian of Brazil (doi:10.1126/science.1200305) de Cisneros e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org

(Agência Fapesp)

Novo plano de educação custará R$ 80 bilhões

Informação foi dada pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, na quarta-feira (23), na abertura dos trabalhos da Comissão de Educação e Cultura.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira (23), na abertura dos trabalhos da Comissão de Educação e Cultura, que o custo total para o cumprimento das metas do novo Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020 será de R$ 80 bilhões. O PNE está previsto no Projeto de Lei 8035/10, do Executivo, que será analisado por uma comissão especial criada na terça-feira (22).

O PNE estabelece metas educacionais que o País deverá cumprir até o fim da década. Segundo o ministro, a meta de investimento de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, indicado no plano, cobrirá os gastos previstos.

Um dos pontos polêmicos é justamente o que define um percentual mínimo para investimento na área. Alguns parlamentares e entidades da sociedade civil querem que o patamar seja de 10% do PIB. "Se o Congresso entender que é pouco e quiser aumentar [a meta de investimento mínimo], não vai poder mexer só nela, mas nas outras", disse Haddad. "O plano não pode ser esquizofrênico, nem recurso de menos para meta demais, nem recurso demais para meta de menos."

O ministro afirmou que organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), recomendam um investimento entre 6% e 8% do PIB. Ele disse ainda que defende sempre mais recursos para a pasta.

"Se o Congresso entender [pelo aumento] é preciso dizer no plano quais são as estratégias para que isso seja factível. Haverá aumento da carga tributária para pagar essa conta da educação? Haverá redução de gastos? Onde? Isso precisa estar no plano, caso contrário nós vamos fixar um número que não será cumprido", defendeu.

Hoje, o País investe 5% do PIB em educação. A Conferência Nacional de Educação (Conae), que discutiu em 2010 as bases do PNE, propôs que o investimento mínimo seja de 10% do PIB até o fim da década.

Emendas - Haddad foi convidado pela presidente da comissão, deputada Fátima Bezerra (PT-RN), para participar da primeira reunião do colegiado nesta legislatura. De acordo com a deputada, o projeto de lei do PNE já tem mais de 140 emendas. Ela era relatora da proposta, mas, por assumir o comando da comissão, repassou a relatoria ao deputado Angelo Vanhoni (PT-PR).

Ainda na reunião, o ministro destacou os avanços da legislação brasileira no período de 2003 a 2010. Ele citou medidas como a extinção da Desvinculação dos Recursos da União (DRU) para a educação, o estabelecimento do ensino fundamental de nove anos e a criação do Fundo de Manutenção e Valorização da Educação Básica (Fundeb) - este último aprovado pela Câmara em 2006.

(Agência Câmara)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Mudança de cor

Transformar a luz de cor vermelha em luz azul, de mais alta energia, é comum na física por meio do uso de técnicas ópticas. Porém, não havia um método químico para promover essa conversão.

Pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (Ufabc), em parceria com cientistas do Instituto de Química Orgânica e Macromolecular da Universidade de Jena, na Alemanha, reuniram as peças do quebra-cabeça e desenvolveram um método que usa energia química para converter a irradiação de luz vermelha em emissão de luz azul.

O experimento foi descrito em um artigo que será publicado em abril na capa do New Journal of Chemistry, publicação do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França. O artigo já está disponível na internet.

Para transformar a coloração das luzes, os cientistas utilizaram um laser vermelho que promove a reação química entre oxigênio e uma molécula orgânica. O produto dessa reação é um composto instável e de alta energia chamado de dioxetano. Em temperatura ambiente, o dioxetano se decompõe, liberando sua energia na forma de luz de coloração azul em um processo conhecido como quimiluminescência.

"É como fazer a água de uma cachoeira subir. Com essa reação química conseguimos mandar a energia da luz 'ladeira acima", disse Erick Leite Bastos, professor da Ufabc e um dos autores da pesquisa, à Agência Fapesp.

De acordo com o pesquisador, tanto o uso da luz na preparação do dioxetano quanto a sua quimiluminescência, ou seja, a emissão de luz quando esse composto se decompõe, já eram conhecidos.

Porém, essas duas descobertas ainda não haviam sido reunidas em um sistema no qual a luz usada para formar o dioxetano tivesse menor energia do que aquela emitida na sua decomposição. "O que fizemos foi juntar todas as etapas do processo, criando algo absolutamente novo", afirmou.

Possíveis aplicações - No artigo, os pesquisadores descrevem apenas o mecanismo básico da reação quimiluminescente, mas, segundo eles, a descoberta pode ter uma ampla gama de possíveis aplicações.

Entre elas, podem-se propor sistemas analíticos de alta sensibilidade para detecção de oxigênio em meio biológico, dispositivos de aquisição de imagem, sinalização de segurança e criptografia.

"Esperamos que outros cientistas encontrem aplicações totalmente novas, que, por enquanto, nem podemos imaginar", disse Josef Wilhelm Baader, professor do Instituto de Química da USP e autor principal da pesquisa.

Alemão radicado no Brasil há mais de 20 anos, Baader desenvolve pesquisas sobre os mecanismos básicos envolvidos em transformações quimiluminescentes. A colaboração com o grupo em Jena, coordenado por Rainer Beckert, teve início há mais de dez anos e permitiu o intercâmbio de vários alunos de pós-graduação.

Foi durante seu pós-doutorado empresarial na Universidade de Jena, financiado pela EMP Biotech, que o primeiro autor da pesquisa, Luiz Francisco Monteiro Leite Ciscato, teve a ideia para o desenvolvimento do método de conversão de luz.

"A ideia surgiu durante a criação de um sistema industrial de proteção contra falsificação baseado em quimiluminescência", disse Ciscato.

O artigo Chemiluminescence-based uphill energy conversion (doi:10.1039/C0NJ00843E) pode ser lido em http://pubs.rsc.org/en/content/articlelanding/2011/nj/c0nj00843e.

(Elton Alisson da Agência Fapesp)

Governadores do Nordeste admitem rever construção de usinas nucleares na região

O acidente nuclear ocorrido há duas semanas na Usina de Fukushima, no Japão, voltou a colocar em pauta, em todo o mundo, a segurança das usinas nucleares.

E, no Brasil, alguns governadores do Nordeste decidiram reavaliar se região deve receber uma das quatro novas usinas que o governo federal pretende construir no país até 2030.

"Quem é que vai, em meio à atual discussão, [dizer] "eu quero agora uma usina nuclear para o meu estado". Só se for idiota. E eu não sou idiota", disse o governador do Piauí, Wilson Martins (PSB), à Agência Brasil, hoje (23). Martins fez questão de frisar que "não recuou" da disputa com outros estados nordestinos cotados para abrigar uma das usinas, mas deixou claro que o projeto a cargo do Ministério de Minas e Energia deve ser "repensado".

"Agora, mudou tudo. O mundo inteiro está repensando os investimentos em energia nuclear, até então considerada segura e limpa. E o Piauí, assim como o Brasil como um todo, não vai deixar de repensar também", afirmou o governador, alegando que a situação exige bom-senso.

O governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), também já havia mencionado, em nota, a necessidade de o país rediscutir a expansão da matriz nuclear com segurança. "A pretensão do estado de Sergipe em disputar a instalação de uma usina no nosso território pressupõe garantias plenas de segurança das instalações. Sem essas garantias, não há como defender tais empreendimentos", afirmou o governador, cuja preocupação recebeu o apoio inclusive do setor produtivo sergipano.

"Apoiamos a decisão de que a instalação de uma usina nuclear em Sergipe deve ser precedida por uma reavaliação dos sistemas de segurança atualmente em vigor", manifestou o Fórum Empresarial de Sergipe em um documento redigido na reunião da última terça-feira (15). "Cabe-nos, porém, alertar que uma ação isolada de Sergipe não é eficaz, pois o risco para nossa população é semelhante se [uma usina for] instalada em regiões limítrofes, sendo assim sugerimos uma ação integrada com os demais estados nordestinos".

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), também tem repetido que a população pode ficar tranquila pois qualquer decisão quanto à instalação de novas usinas deve demorar ao menos quatro anos, tempo suficiente para que os aspectos de segurança sejam discutidos. A cidade pernambucana de Itacuruba, a 460 quilômetros da capital, Recife, foi apontada pela Eletronuclear como uma das melhores opções para a instalação de uma usina nuclear no Nordeste.

"Entendemos as preocupações de muitos quando ocorrem eventos como os do Japão. De fato, é preciso avançar ainda mais nos estudos sobre a segurança das plantas, inclusive em situações extremas, como o recente terremoto. No caso brasileiro, porém, temos que entender que nosso programa nuclear é muito maior que uma usina nuclear e não pode ser estigmatizado. Visa, por exemplo, a desenvolver aplicativos para a área médica, propiciando diagnósticos e tratamentos de muitos males, como o câncer. No tocante à geração de energia, é preciso ter em mente que não há qualquer decisão para a construção de novas usinas no Brasil. É só olhar nosso planejamento plurianual para ver que não há previsão orçamentária nem decisão política tomada pelo governo", disse.

Na terça-feira (22), o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, assegurou que o Brasil não tem pressa para construir novas usinas e, quando isso ocorrer, será muito mais rigoroso na questão da segurança das novas instalações, em conformidade com os novos padrões adotados internacionalmente após a tragédia japonesa.

O Brasil tem duas usinas nucleares em operação, Angra 1 e 2, ambas administradas pela Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras. Angra 3 está em fase de construção. Ontem (23), quando perguntado se o governo pode desistir de construir as quatro novas usinas, o presidente da Eletrobras, João da Costa Carvalho Neto, disse apenas que a decisão cabe ao Conselho Nacional de Política Energética e à Presidência da República.

(Agência Brasil)

terça-feira, 22 de março de 2011

Professores terão bolsas de mestrado

Docentes precisam se comprometer a lecionar na rede pública por cinco anos após o término do curso

Larissa Leite

O governo federal anunciou ontem que os cerca de 1,9 milhão de professores da Educaçãobásica terão direito a bolsas de mestrado profissional a distância.

O benefício será oferecida no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (UAB), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que pela primeira vez atende os docentes dos ensinos fundamental e médio.

“Queremos garantir o prosseguimento do estudo do professor, agora com mais que uma especialização, com um mestrado”, afirmou o ministro da Educação, Fernando Haddad.

De acordo com o Ministério da Educação, os docentes que receberão a bolsa serão selecionados pelas instituições de ensino onde lecionam e poderão acumular o valor do estudo com o salário.

Mas há uma contrapartida: o professor assumirá o compromisso de continuar na rede pública por um período de cinco anos após a conclusão do mestrado. O não cumprimento do acordo implicará a devolução dos recursos, que devem seguir o modelo das bolsas tradicionais de mestrado da Capes. Atualmente, a instituição paga R$ 1,2 mil por mês.

O anúncio do benefício ocorreu durante a cerimônia no Palácio do Planalto em que a presidente Dilma Rousseff homenageou 11 educadoras brasileiras com medalhas da Ordem Nacional do Mérito.

No evento, Dilma lembrou que 81% dos professores da Educação básica são do sexo feminino. “As educadoras são as verdadeiras construtoras do nosso futuro”, disse a presidente.

Fonte: Correio Braziliense (DF)

Dilma discursa em defesa da Educação e relembra Lula

Dilma afirma que ''este é um momento histórico'', porque o governo quer assegurar Educação para mais pessoas e com melhor qualidade

A presidente Dilma Rousseff concedeu hoje a medalha da Ordem Nacional do Mérito a onze educadoras de diversos Estados. A cerimônia contou com a presença de 12 ministros e deu prosseguimento às comemorações do mês da mulher. Em discurso, Dilma citou duas vezes o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela afirmou que está continuando os avanços naEducação que teriam começado no governo passado "como prioridade estratégica".

Dilma salientou que é importante que existam pessoas que dedicam seu esforço à construção de uma sociedade mais justa, com "valor e ética". Ela citou a necessidade de melhorar a qualidade do ensino fundamental e a urgência de aumentar as vagas no ensino fundamental e médio. A presidente disse ainda que "a escola pública de qualidade é o espaço onde devem ser corrigidas as desigualdades em benefício das nossas crianças e nossos jovens".

Na cerimônia, o ministro da Educação, Fernando Haddad, anunciou a assinatura de uma nova medida que permitirá aos professores de Educação básica acesso a bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para mestrado, desde que, depois, retornem para as salas de aula do ensino público.

Dilma falou por quase 20 minutos e disse que "este é um momento histórico", porque o governo quer assegurar Educação para mais pessoas e com melhor qualidade. Depois de destacar o fato de que 81% dos professores são do sexo feminino e de que 85% das escolas públicas são dirigidas por mulheres, Dilma falou de sua promessa de campanha, de melhoria nas condições para essa categoria e para a qualidade do ensino fundamental, principalmente.

"Nós todos aqui sabemos que a formação de professores, a garantia de condições adequadas de trabalho, e a remuneração para os profissionais de Educação são os eixos aglutinadores que foram manifestos na minha campanha, mas também no plano nacional deEducação, que o então presidente Lula lançou e ao qual eu tenho integral adesão, que está em tramitação no Congresso. Este projeto corresponde ao anseio da sociedade pela democratização do acesso à adequação", afirmou.

Segundo a presidente, as educadoras homenageadas sabem o quanto é preciso melhorar a qualidade do ensino, em especial do ensino fundamental e da urgência de aumento de vagas para o ensino fundamental, Educação infantil e no ensino médio. "E é nisso que estamos trabalhando",afirmou. "Vamos oferecer milhares de vagas para que um número muito maior de jovens recebam formação educacional e profissional de qualidade".

Para Dilma, o desenvolvimento é algo que não se terceiriza e nem se delega. É responsabilidade de cada um dos brasileiros e brasileiras. "Estou convencida de que aEducação pública de qualidade é o alicerce insubstituível desta ordem soberana e democrática que estamos desenvolvendo conjuntamente", ressaltou.

Fonte: O Estado do Paraná (PR)

Opinião: Educação em debate

Artigo de Rogério Lustosa Victor, doutorando em história na UFG, discute a polêmica decisão de modificar a lei que determina o limite do número de alunos por sala no Ensino Médio

* Rogério Lustosa Victor

Em 1996 o presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, sancionou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) decretada pelo Congresso Nacional. No que se refere ao tema debatido com certo nervosismo no Estado de Goiás nos últimos dias, qual seja, o da quantidade limite do número de alunos por sala no ensino médio, especialmente na rede privada de ensino, a citada Lei Federal diz no seu 25º artigo:

"Será objetivo permanente das autoridades responsáveis alcançar relação adequada entre o número de alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais do estabelecimento". Portanto, a lei não definiu o número exato de alunos por sala, mas transferiu responsavelmente tal poder para as autoridades estaduais, tendo em vista as imensas peculiaridades regionais do Brasil.

Assim, disse o legislador em parágrafo único do citado artigo: "Cabe ao respectivo sistema de ensino, à vista das condições disponíveis e das características regionais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto neste artigo".

Nesse sentido, em Goiás, em dezembro de 1998 foi sancionada pelo governador, depois de decretada pela Assembleia legislativa, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação do Estado de Goiás, Lei Complementar nº 26/1998, que em seu 34º artigo regulamenta a polêmica questão da seguinte maneira:

"A relação adequada entre o número de alunos e oprofessor, nas redes pública e privada, deve levar em conta as dimensões físicas das salas de aula, as condições materiais dos estabelecimentos de ensino, as necessidades pedagógicas de ensino e aprendizagem, visando à melhoria da qualidade do ensino e, também, o máximo de:

a) 25 alunos para a pré-escola;
b) 30 alunos para as duas primeiras séries do ensino fundamental;
c) 35 alunos para as terceiras e quartas séries do ensino fundamental;
d) 40 alunos para as quinta a oitava séries do ensino fundamental e para o ensino médio".

Portanto, os Poderes Executivo e Legislativo do Estado de Goiás entenderam naquele momento que 40 alunos deveriam ser o máximo por sala no ensino médio na rede privada (para nos ater apenas à discussão em voga).

Assim, de maneira sensata, o poder público estabelecia um critério que sem dúvida contribuiria para melhorar o ensino em Goiás, já que a variável número de alunos por sala influencia sim na qualidade de ensino, de modo que se essa quantidade decresce ela contribui ao desenvolvimento do educando e para o bem-estar do professor. E, ao contrário, se o número de alunos aumenta em sala de aula, esse aumento contribui para a queda da qualidade do ensino.

Mas é claro que qualidade de ensino envolve muitas variáveis, como a formação doprofessor, o projeto pedagógico da Escola, a condição social e cultural dos educandos, o equipamento físico da Escola (por exemplo, bibliotecas, videotecas, áreas para a prática de esportes, de música, de teatro), a prática cotidiana Escolar, as diretrizes curriculares etc.

Assim, supomos que uma Escola "A" tenha maior número de alunos por sala que uma Escola"B". A Escola "A" não está fadada a ter qualidade de ensino pior que a da Escola "B", pois ela pode ter vantagens substanciais nas outras variáveis. Porém, nos interessa ressaltar que a Escola "A" comparada a ela mesma, tenderá a ter resultados melhores se ao invés de 65 alunos por sala, tiver, por exemplo, 35.

Infelizmente, a Lei nº 26/1998 jamais foi efetivada no Estado, pois nós padecemos ainda de velha realidade do País em que há leis que pegam e leis que não pegam. Porém, o Conselho Estadual de Educação insistia em fazer valer a lei a partir de 2011 e tudo indicava que tal ganho coletivo se daria.

Mas para consternação de muitos, a Assembleia Legislativa aprovou lei de autoria do deputado Thiago Peixoto (PMDB), retirando limite de alunos por sala de aula no ensino médio das Escolas privadas, apesar de parecer contrário do Conselho Estadual daEducação. Atualmente, como secretário estadual da Educação, Thiago Peixoto tem reiteradas vezes defendido a lei de sua autoria.

Perguntamos então ao secretário por que na França o número máximo em sala de aula do ensino médio permitido por lei é de 35 alunos e em Portugal de 30? Será que não é porque a Educação é mais levada a sério e considerada assunto de interesse público nesses países europeus?

* Rogério Lustosa Victor é doutorando em história na UFG
Colaborou: Jeová Canhete, historiador

Fonte: O Popular (GO)

segunda-feira, 21 de março de 2011

RUY CASTRO - A cola e a escola

RIO DE JANEIRO - A tentação é grande. Ao receber a incumbência de produzir um texto sobre um assunto xis, o aluno -de qualquer grau, escola ou universidade- vai ao Google, digita-o entre aspas, clica e recebe uma chuva de referências, páginas e até livros inteiros a respeito. Certo ou errado, não importa -está "tudo" ali, ao alcance dos dedos.
E copiar é ainda mais fácil. Pode-se puxar o texto para nosso arquivo sem precisar sequer digitá-lo. Sob o pretexto de fazer "pesquisa", e graças à internet, o plágio se tornou uma prática maciça entre os estudantes brasileiros. Se temos cola, para que escola?
Por sorte, os professores estão aprendendo. Primeiro, eles já não aceitam que determinado aluno, que passou o ano com a cabeça em Shakira ou Lady Gaga, possa de repente citar Cassirer ou Merleau-Ponty em seu trabalho. Para se certificar de que estão diante de um plágio, vão eles próprios ao Google, digitam entre aspas um trecho do trabalho, clicam -e o original completo, de autoria alheia, aparece gloriosamente na tela do monitor.
Outro motivo de suspeita é quando o mesmo trecho, com as mesmas palavras, aparece nos trabalhos de metade da turma, sinal de que foram à mesma fonte ou se copiaram uns aos outros.
É verdade que, no tempo da caneta-tinteiro, da pena de ganso e do mata-borrão, também existiam a preguiça, a cópia e o plágio. Mas o acesso aos livros era menor, havia menos títulos circulando e estes eram conhecidos pelos professores. Era preciso grande descaro para transcrever trechos mais longos.
Às vezes, mandam-me trabalhos escolares sobre a bossa nova, Nelson Rodrigues, Garrincha ou Carmen Miranda. Passo os olhos na esperança de encontrar alguma novidade e, de repente, deparo com páginas que me soam familiares. Vou conferir e descubro, com divertido espanto, que sou o autor delas.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Ameaça nas patentes

ALLAN ROCHA DE SOUZA, FRANKLIN RODRIGUES DA COSTA E VANIA LINDOSO


A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil faz ressuscitar desejo antigo de implementar mecanismos que padronizem à concessão de patentes em um sistema conhecido como Patente Mundial.

O Brasil, por meio de sua representação diplomática, sempre combateu essa agenda, em todas as oportunidades que fora apresentada. Espera-se, agora, que os interesses do país continuem a ser preservados pela presidente Dilma Rousseff, de modo que o Brasil consiga romper com a política subserviente, em termos verdadeiros. As dificuldades, para tanto, são enormes.

E o que acontece quando se confere tratamento idêntico a situações completamente distintas? No caso da propriedade intelectual, traz danos para os menos desenvolvidos, como o Brasil: a) aplicação antecipada da lei de propriedade industrial (para se adequar ao Trips, o Brasil aplicou a Lei nº 9.279/96 antes dos países desenvolvidos ignorando os prazos conferidos pelo artigo 65, do Acordo); b) desequilíbrio da balança comercial, com substanciais remessas de royalties; c) sucateamento da indústria nacional, com instalação de eventual processo de desindustrialização ; d) preços de medicamentos muito mais caros (a Índia usou todos os prazos do TRIPS e por isso vende os medicamentos até 94% mais barato que os nacionais); e) comprometimento de programas sociais do governo federal, como o programa oferecido pelo Ministério da Saúde, DST/Aids e Hepatites Virais, que fornece gratuitamente todo o tratamento para os portadores da síndrome de imunodeficiência adquirida e é referência mundial.

A retórica dos países desenvolvidos, contra a política voltada às realidades locais, vem ensejando uma série de propostas de acordos com objetivos semelhantes aos alcançados no TRIPS, só que mais rigorosos e restritivos.

E é com esse manto de candura e a justificativa de pôr fim ao atraso no exame das patentes, conhecido como backlog, que se encontra escondido o real objetivo do Patent Prosecution Highway (PPH): encontrar um "caminho mais curto" para transferir o exame de patenteabilidade do Inpi para o USPTO ou deixar na mão do examinador de patentes a responsabilidade de fazer a Escolha de Sofia, qual seja, aceitar o exame americano ou refazê-lo, o que se afigura de todo inaceitável.

Estamos diante de situação semelhante ao problema das patentes pipeline (mecanismo inserido na LPI para conceder proteção a patentes de medicamentos), que na leitura do Inpi não necessitavam ser examinadas, se concedidas no país de origem. Inúmeras demandas se arrastam até hoje, no Judiciário, envolvendo os questionados dispositivos que regulam o assunto, com enormes custos sociais e econômicos.

É desta mesma fonte que nasceu a divergência entre Anvisa e Inpi, quanto aos termos que deveriam ser dados à Anuência Prévia (art. 229-C, da LPI), que prevê a possibilidade de a concessão da patente ser um ato complexo, com a interação entre dois órgãos que são autoridades no assunto, e cujo deslinde até o momento, não foi alcançado.

Disso resulta uma indagação pertinente: a Anvisa não pode atuar no exame dos requisitos das patentes farmacêuticas, mas a oficina americana pode? Qual instituição está habilitada e interessada em defender o interesse e a posição do Brasil? A Anvisa ou o escritório americano de patentes?

E, diante dos efeitos ao mesmo tempo amplos e profundos para o destino e soberania do país, como isso poderia ser feito através de um singelo adendo ao acordo vigente de cooperação técnica entre as oficinas de patentes?

Isso nos parece uma verdadeira falácia que, na prática, resultará na transferência do exame de patenteabilidade para o escritório americano de patentes, que, obviamente, atuará na defesa dos interesses econômicos do seu país e do seu governo.

ALLAN ROCHA DE SOUZA é professor e pesquisador do PPED/UFRJ. FRANKLIN RODRIGUES DA COSTA é procurador regional da República no Distrito Federal. VANIA LINDOSO é procuradora federal da Advocacia-Geral da União na Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz (Rio)

quarta-feira, 16 de março de 2011

33a. Olimpíada Brasileira de Matemática abre inscrições

A competição envolve a participação de professores e alunos das redes pública e particular de todo o País.


Já estão abertas, até o dia 30 de abril, as inscrições para a 33ª Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM). A competição envolve a participação de professores e alunos das redes pública e particular de todo o País. As instituições interessadas devem fazer o cadastro pelo site: www.obm.org.br. As inscrições são gratuitas.



A participação dos estudantes é dividida em quatro níveis. A primeira fase será realizada, 18 de junho, a segunda fase, 3 de setembro e a terceira e última fase nos dias 15 e 16 de outubro. Os resultados serão divulgados em dezembro e os vencedores serão convidados a participar da 15ª Semana Olímpica, evento a ser realizado em janeiro de 2012. Além das medalhas e prêmios, os vencedores participam do processo de seleção para formar as equipes que representam o Brasil nas diversas olimpíadas internacionais de Matemática.



A competição é uma iniciativa realizada nas modalidades de ensino fundamental, médio e universitário atingindo atualmente mais de 350 mil estudantes e que desempenha um importante papel relacionado à melhoria do ensino e descoberta de talentos para a pesquisa em matemática.



A Olimpíada Brasileira de Matemática é um projeto conjunto da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Matemática (INCTMat).



Mais informações pelo telefone (21) 25295077 ou pelo email: obm@impa.br.

terça-feira, 15 de março de 2011

Opinião: Uma revolução na Educação pública

''Quanto maior for a pressão por uma Educação pública de qualidade, maior a vontade de experimentar soluções, fugindo dos modelos tradicionais'', diz Gilberto Dimenstein

Gilberto Dimenstein

Imagine uma escola pública dirigida pela comunidade, com a liberdade de escolher e demitir os diretores e os professores, além de estabelecer seu próprio currículo e o número de horas que os alunos estudam. Esse tipo de escola independente gera um intenso debate nos Estados Unidos, mas virou um objeto de desejo dos pais e criou enormes filas de espera --e, por isso, apesar da resistência dos sindicatos e dos burocratas, se dissemina.

Nesta semana será apresentado, em um encontro sobre educação promovido pelo MIT em São Paulo, um detalhado estudo feito por economistas americanos mostrando que, nas áreas urbanas deterioradas, essas escolas, aqui chamadas de 'Charter', fazem o aluno prosperar expressivamente.

Os motivos que levam a essa melhora são foco de intensa polêmica. Mas o fato é quanto maior for a pressão por uma educação pública de qualidade, maior a vontade de experimentar soluções, fugindo dos modelos tradicionais --e maior será o foco no mérito.

Talvez não seja a solução para melhorar a escola pública, mas é uma das soluções. E precisa muita vontade de brigar para tirá-la do papel.

PS - Coloquei na internet (www.catracalivre.com.br) o texto que será apresentado pelo MIT (em inglês), mas também um ótimo relatório em português feito pelo Instituto Fernand Braudel sobre as escolas independentes.

Fonte: Folha.com

segunda-feira, 14 de março de 2011

Câmara pode votar nesta terça projeto sobre banda larga nas escolas

Reunião de líderes definirá se a proposta entrará na pauta de sessão extraordinária; sete MPs trancam as votações das sessões ordinárias

O Plenário poderá votar, em sessão extraordinária a ser marcada para esta terça-feira (15), o Projeto de Lei 1481/07, do Senado, que estabelece a meta de conectar todas as escolas públicas à internet de banda larga até 2013, com prioridade para as situadas na zona rural. Nas sessões ordinárias, sete medidas provisórias trancam os trabalhos.

O projeto permite o uso de recursos do Fundo de Universalização de Serviços de Telecomunicações (Fust) para essa finalidade e, de acordo com o substitutivo da Comissão Especial de Redes Digitais de Informação, o Ministério das Comunicações definirá, anualmente, a parcela dos recursos do fundo que deverá ser aplicada para alcançar essa meta.

A votação do PL 1481/07 tem acordo entre os partidos, mas a matéria será discutida no Colégio de Líderes antes de ser analisada, segundo informou o presidente da Câmara, Marco Maia. A reunião de líderes será realizada nesta terça-feira, às 15 horas.

Licitações
Entre as MPs que trancam os trabalhos, destaca-se a 510/10, que exige das empresas reunidas em consórcio solidariedade tributária no pagamento dos tributos federais relacionados ao empreendimento.

Nessa MP deve ser discutida, com a apresentação de emenda do relator, deputado Hugo Leal (PSC-RJ), a criação de um regime diferenciado para licitações de obras destinadas às Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Esse assunto foi motivo de obstrução pela oposição quando da análise da MP 503/10 – aprovada no final de fevereiro –, que referendou a formação da Autoridade Pública Olímpica (APO) para gerenciar os preparativos desse evento.

Trem-bala
Também tranca a pauta das sessões ordinárias a Medida Provisória 511/10. Ela autoriza a União a garantir um empréstimo de até R$ 20 bilhões, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ao consórcio vencedor da licitação para construir o Trem de Alta Velocidade (TAV), conhecido popularmente como trem-bala. O leilão está previsto para 29 de abril deste ano, após dois adiamentos em 2010.

Educação e Correios
A primeira MP pautada para as sessões ordinárias é a 508/10, que concede crédito extraordinário de R$ 968 milhões ao Ministério da Educação para reforço aos programas nacionais de Apoio ao Transporte Escolar (Pnate) e de Alimentação Escolar (Pnae). Ambos são geridos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Já a MP 509/10 prorroga, de novembro de 2010 para 11 de junho de 2011, o prazo legal que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem para licitar as franquias de seus serviços. Com isso, os contratos ainda não substituídos serão prorrogados até essa data.

Confira as outras MPs que trancam os trabalhos:

- MP 512/10: concede incentivos fiscais à indústria automotiva instalada nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste se vinculados a projetos de novos investimentos e pesquisas;

- MP 513/10: autoriza o Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) a assumir os direitos e obrigações do Seguro Habitacional do Sistema Financeiro da Habitação (SH/SFH);

- MP 514/10: detalha novas regras da segunda etapa do programa Minha Casa, Minha Vida, permitindo a atividade comercial em conjuntos habitacionais destinados a famílias de baixa renda.

Reportagem – Eduardo Piovesan
Edição – Marcos Rossi

Fonte: Agência Câmara

Campanha propõe trocar um parlamentar por 688 professores

Campanha na internet propõe trocar um parlamentar por 688 professores com formação superior. É o que cada um vale no mercado do Brasil de hoje. Você sabia?

No futebol, o Brasil ficou entre os 8 melhores do mundo e todos estão tristes. Na Educaçãoé o 85º e ninguém reclama. No momento em que surge a informação de que o Brasil não tem nenhuma instituição entre as 100 melhores universidades do mundo (segundo o ranking elaborado pela Times Higher Education), um modesto professor brasileiro de Física lança uma campanha na internet, propondo a troca de um parlamentar por 688 professores com formação superior.

No ranking mundial da Educação, a Universidade de São Paulo (USP) só apareceu na 232ª posição, e acabou representando todas as instituições da América do Sul. A universidade de Harvard é a líder com pontuação máxima em todos os critérios.

O ranking foi montado a partir de uma pesquisa somente para convidados de mais de 13 mil professores de 131 países do mundo. Reforça a posição dominante das instituições dos EUA e consagra a boa reputação de universidades do Reino Unido e do Japão.

Rússia, China, Cingapura e Hong Kong aparecem com instituições entre as 50 melhores do ranking. No grupo entre as posições 51º e 100º, há universidades de países emergentes como Coreia do Sul, Taiwan e Índia. O Brasil é o único dos BRICs a não ter nenhuma instituição de ensino superior entre as melhores.

Confira agora a campanha que circula pela internet, estarrecendo os brasileiros que ainda lutam para que este país se dê ao respeito:

“Sou professor de Física, de ensino médio de uma Escola pública em uma cidade do interior da Bahia e gostaria de expor a você o meu salário bruto mensal: R$650,00. Eu fico com vergonha até de dizer, mas meu salário é R$ 650,00. Isso mesmo! E olha que eu ganho mais que outros colegas de profissão que não possuem um curso superior como eu e recebem ainda menos.

Será que alguém acha que, com um salário assim, a rede de ensino poderá contar comprofessores competentes e dispostos a ensinar? Não querendo generalizar, pois ainda existem bons professores lecionando, atualmente a regra é essa: O professor faz de conta que dá aula, o aluno faz de conta que aprende, o Governo faz de conta que paga e aEscola aprova o aluno mal preparado. Incrível, mas é a pura verdade!

Sinceramente, eu leciono porque sou um idealista e atualmente vejo a profissão como um trabalho social. Mas nessa semana, o soco que tomei na boca do estomago do meu idealismo foi duro! Descobri que um parlamentar brasileiro custa para o país R$ 10,2 milhões por ano… São os parlamentares mais caros do mundo. O minuto trabalhado aqui custa ao contribuinte R$ 11.545.

Na Itália, são gastos com parlamentares R$3,9 milhões; na França, pouco mais de R$ 2,8 milhões; na Espanha, cada parlamentar custa por ano R$ 850 mil e na vizinha Argentina R$1,3 milhões.

Trocando em miúdos, um parlamentar custa ao país, por baixo, 688 professores com curso superior. Diante dos fatos, gostaria muito, amigo, que você divulgasse minha campanha, na qual o lema será: TROQUE UM PARLAMENTAR POR 688 PROFESSORES.”

Fonte: Tribuna da Imprensa (RJ)

Gasto cresce, mas qualidade do ensino ainda é baixa

Samuel Pessôa: ''É preciso racionalizar os gastos, melhorar a gestão das Escolas e investir no ambiente doméstico''

O Brasil universalizou o acesso das crianças à Educação e elevou os gastos na área a algo próximo dos padrões internacionais, mas segue com níveis baixíssimos de qualidade e gastando muito mais com o ensino superior do que com o fundamental e o médio. Para mudar o quadro, o país precisa, na opinião dos economistas Fernando de Holanda Barbosa Filho e Samuel Pessôa, racionalizar gastos, melhorar a gestão das Escolas e investir na melhora do ambiente doméstico.

No capítulo dedicado ao tema, Barbosa Filho e Pessôa derrubam alguns mitos. Um deles, a ideia de que o país investe pouco em Educação. O Brasil gasta anualmente 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB), face a 5,7% do PIB aplicados, em média, pelos países da OCDE. O dispêndio brasileiro é maior que o do Japão (4,9% do PIB).

O problema, no caso brasileiro, é a composição da despesa. Em termos de paridade do poder de compra (PPP na sigla em inglês) - medida que permite comparação mais acurada entre os países -, o Brasil gastou, em 2007, US$ 2.080 por aluno do ensino fundamental, diante de US$ 8.216 médios da OCDE. Nos casos da pré-escola e do ensino médio, as distâncias são ainda maiores -US$ 1.599 e US$ 5.447 no primeiro caso, e US$ 1.427 e US$ 8.746 no segundo.

"O país possui um padrão de gasto distinto do observado em outros países, em que há elevação dos gastos por aluno entre a pré-escola e o ensino médio, enquanto no Brasil os gastos com Educação no ensino médio são inferiores aos gastos com a pré-escola e o fundamental", observam os autores. "Gastamos seis vezes a mais por aluno no ensino terciário do que no ensino fundamental, razão muito acima da observada em qualquer outro país."

Outro dado revelado pela pesquisa: em termos de fração do PIB per capita, que é uma forma de avaliar o esforço do governo com a Educação, o gasto com ensino superior no Brasil é bem superior à média da OCDE. Nesse grupo de países, gasta-se, em média, 40% do PIB per capita com ensino superior. No Brasil, a despesa salta para 102% do PIB per capita. Já no ensino médio, enquanto na OCDE o gasto vai a 40% do PIB per capita, no Brasil é de apenas 13%.

Nos últimos anos, o país colocou 95% das crianças entre 5 e 14 anos nas Escolas. O problema não é mais, portanto, de acesso, mas de qualidade. No teste internacional Pisa, aplicado pela OCDE, o Brasil apareceu em 53º lugar, num ranking de 65 nações, na prova de matemática realizada em 2006. Pessôa e Barbosa Filho sustentam que a solução para esse problema não passa pela simples elevação do gasto por aluno.

Estudos mostram que o aprendizado de crianças e jovens independe do gasto por aluno. O que se conclui é que a qualidade deixa de responder à elevação da despesa quando um nível mínimo de gasto por estudante - suficiente para dotar a rede Escolar de equipamentos e instalações de boa qualidade - é atingido. Enquadram-se nesse caso os EUA, onde a qualidade vem caindo há vários anos. Além disso, é possível, dizem os autores, que a gestão da rede Escolar e os incentivos induzidos por ela sejam tais que não haja clara relação entre gasto e qualidade.

Em estudo anterior, Pessôa e Barbosa Filho constataram, a partir de pesquisa feita na rede pública de São Paulo e do Rio Grande do Sul, que a remuneração dos professores não está relacionada com seu desempenho. O tempo de serviço, por sua vez, é determinante na evolução da remuneração. As regras de aposentadoria no serviço público provocam ineficiências.

"As regras de aposentadoria produzem aposentadorias precoces com valor médio superior ao salário dos professores da ativa, fato que compromete parte substancial dos recursos gastos na Educação. Por último, há baixíssima desigualdade salarial dentro da rede de ensino público, sugerindo a falta de instrumentos para distinguir os profissionais por seu desempenho", explicam os economistas, sugerindo que se dissemine a prática, adotada emEscolas do Rio e São Paulo, de premiar professores das Escolas com melhor desempenho nas avaliações públicas. (CR e FT)

Fonte: Valor Econômico (SP)

CLAUDIA COSTIN - O papel da família na Educação

Estudos evidenciam a relação direta entre escolaridade dos pais e sucesso escolar, o que poderia, de certa maneira, prognosticar triste destino às crianças nascidas em lares não letrados. Mas há também evidências de que parte deste resultado se dá pelo envolvimento de pais com maior formação na aprendizagem de seus filhos.

Assim, toda medida voltada ao aumento da participação da família no dia a dia da escola pública é bem-vinda.

Quando começamos este esforço para dar um salto na qualidade da Educação no município do Rio de Janeiro, uma das estratégias importantes foi envolver professores e famílias em todo o processo.

Não se faz reforma educacional indo contra o professor, peça-chave no processo. Da mesma maneira, não é possível transformar a aprendizagem sem um diálogo constante com pais.

Começamos com o estabelecimento de um currículo municipal claro que pudesse ser conhecido tanto pelos professores como pelos pais.

Para tanto, mesmo com a consciência de que muitos não acessam a internet (embora 75% dos alunos tenham computadores em casa), colocamos o currículo de cada disciplina, série a série, na rede. Elaboramos, também, cartilhas para os pais.

Uma primeira orienta os pais sobre como acompanhar os estudos dos filhos, entender o Ideb, as provas bimestrais e outras exigências da rede municipal carioca.

Cada escola organizou reuniões para ler a cartilha (alguns pais são iletrados) e complementar as orientações.

Outra procura explicar aos responsáveis o Regimento Escolar, um verdadeiro manual de convivência na escola. Enviamos também mais dois documentos: um com recomendações sobre como apoiar em casa o processo de alfabetização, para os responsáveis por alunos do primeiro ano, outro para os pais de adolescentes, sobre a educação escolar nesta rica fase de vida. O acesso ao currículo e a informações sobre como trabalhar com o aluno em casa tem mudado o tom das reuniões mensais feitas com o Conselho de Pais criado pela Secretaria de Educação.

Para a família das crianças menores, foi criada a Escola de Pais, onde recebem orientação sobre saúde, estimulação dos bebês e sobre fortalecimento de vínculos familiares.

Mas a grande mudança na relação com as famílias acontece com o Cartão da Família Carioca, um programa de transferência de renda, introduzido pelo prefeito Eduardo Paes para as famílias socialmente mais vulneráveis.

Para ter acesso ao valor, a criança deve ter presença em 90% das aulas e os pais devem frequentar as reuniões bimestrais. Se a criança tiver de 0 a 3 anos, devem participar da Escola de Pais.

Isso faz todo sentido: não há possibilidade de desenvolvimento saudável na primeira infância sem vínculos familiares fortes, cuidados com a alimentação e estimulação adequada.

Com cada vez mais crianças atendidas em creches, dando-se prioridade para os beneficiários do Cartão, e com o envolvimento das famílias haverá um nivelamento das desigualdades no desempenho escolar. Dar um salto na qualidade da Educação, neste contexto, será muito mais fácil e viável.

CLAUDIA COSTIN é secretária de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro.

ENTREVISTA - DREW FAUST: A ordem é globalizar

A universidade Harvard , a melhor do mundo em vários rankings internacionais, decidiu se lançar em busca de tesouros -estudantes, professores e, sim, dinheiro

Fotos Stephanie Mitchell/Harvard Staff Photographer

Drew Faust conversa com estudantes brasileiros e chilenos

LUCIANA COELHO
EM CAMBRIDGE (EUA)
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA, EM CAMBRIDGE (EUA)

Globalização, crise, diversificação. As palavras que regem a expansão internacional de tantas empresas americanas têm levado a melhor universidade do mundo, Harvard, a se lançar em uma busca por recursos humanos e financeiros no exterior.
Desde que assumiu a reitoria, em 2007, Drew Faust visitou China, Japão, África do Sul e Botsuana, além de Canadá e países europeus. Na semana que vem, ela visita o Brasil e, em seguida, o Chile.
A meta sempre é estreitar o laço com os países visitados e recrutar alunos, professores e fundos. Em 2010, 1 em cada 5 alunos de Harvard veio de fora dos EUA.
Faust também impulsionou a presença internacional da universidade inaugurando, em 2008, escritórios na Índia e na China. Antes, a instituição fincou o pé no Brasil, na Argentina, no Chile, na Itália, na França, na Grécia e no Japão.
A reitora recebeu a Folha na semana passada em seu gabinete, em um dos prédios mais modestos do campus da universidade em Cambridge, Massachusetts, para explicar como atrai os alunos que fazem Harvard ser o que é.
Falou também de expansão, crise e diversificação -graças à recente reforma do programa de bolsas, a instituição, fundada em 1636, está deixando de ter cara de "elite branca" para acolher estudantes brilhantes das mais diversas origens. Afinal, diz ela, muito do aprendizado por aqui se dá na convivência entre as diferenças.



FOLHA - O que a sra. espera de sua viagem ao Brasil?
Drew Faust -
Estou animada em ir. É um lugar vibrante, que está crescendo e se torna cada vez mais importante no mundo.

Há hoje mais gente interessada em estudar o Brasil?
Há. A melhor representação disso é a questão dos BRICs, quando o Brasil passou a ser visto como uma das principais forças emergentes na economia internacional.

Ainda assim não há tantos estudantes e professores brasileiros ou especialistas em Brasil aqui em Harvard.
Recebemos uma doação generosa de um brasileiro, o Jorge Paulo Lemann [milionário cujo fundo já foi dono da AmBev e acaba de comprar o Burger King], que apoiou nossa expansão em estudos brasileiros. Avançamos alguns passos, esperamos continuar.
O escritório no Brasil está indo muito bem. Há bastante interesse por parte de nossos professores e estudantes em fazer conexões e tocar programas [de extensão] lá.
Além disso, a [Harvard] Business School está interessada em fazer estudos de casos do Brasil. Estamos bem otimistas com as nossas conexões com o país, e minha viagem é para reforçar isso.

Harvard está se expandindo. O que estão fazendo para atrair mais estrangeiros, estudantes e professores?
Nós nos tornamos uma universidade muito mais global nos últimos anos. Hoje, 20% do total de nossos alunos são estrangeiros.
Também passamos a dar ênfase, na graduação, à importância de se ter uma experiência internacional. É uma mudança cultural para nossos alunos, que costumavam ser desestimulados a passar tempo fora de Cambridge.
Oferecemos, inclusive, apoio financeiro, caso não tenham meios de arcar com isso -1/4 dos estudantes teve alguma experiência internacional no ano passado.
Se olharmos a forma como nossos professores pesquisam, ela também mudou. Temos uma proliferação de professores viajando para trabalhar e buscando os serviços que nosso departamento internacional fornece.
Aumentamos o número de escritórios internacionais nos últimos anos e temos um novo modelo em Xangai, que é um espaço com salas de aula e que oferece oportunidades para atividades.

Qual a relação com o governo federal e as instituições privadas no financiamento à pesquisa científica?
Nós recebemos uma proporção majoritária no nosso financiamento à pesquisa do governo federal. Está em cerca de 21% de nosso orçamento hoje [US$ 3,7 bilhões].
Nosso orçamento também conta com uma contribuição significativa de nosso fundo de doações ["endownment"]. Hoje, cerca de 35% de nosso orçamento operacional vêm desse fundo. E há ainda as anuidades.

O fundo sofreu com a crise econômica?
[A crise] nos obrigou a ter um olhar mais duro com o que estávamos fazendo, estabelecer prioridades e decidir sobre o que poderíamos passar sem. O fundo caiu 27%. Foi um momento de autoexame intenso na universidade, e acabamos fazendo algumas mudanças.

Mas pelos números, o investimento em pesquisa não caiu. Essa é a prioridade?
Sim, ao lado da ajuda financeira aos estudantes.

Como Harvard recruta estudantes?
Tentamos mandar a mensagem que queremos ter aqui gente talentosa independentemente da situação financeira e localização geográfica. Fazemos isso por meio de nosso escritório de admissões, cuja equipe viaja pelo país e pelo mundo todo.
E procuramos reforçar isso com um pacote de ajuda financeira, que faz a universidade parecer acessível. Nos últimos anos, criamos uma série de iniciativas para famílias de baixa renda. Com essa mensagem, conseguimos 35 mil inscrições neste ano.

Quão importante é ter os melhores aqui? E quanto os estudantes aprendem uns com os outros?
Não tenho como dar um percentual, mas este é um ambiente muito mais diverso do que qualquer outro em que os estudantes já tenham vivido. São pessoas diferentes deles, às vezes de outras partes do mundo, com outras ideias, outros talentos, e isso é muito enriquecedor.

Mesmo com tanta tecnologia, não há como substituir a convivência...
A tecnologia mudou muita coisa no ensino. A sala de aula deixou de ser um espaço apenas para transmitir informação e passou a ser para debatê-la. Mas achamos que esse tipo de aprendizado, pela convivência com gente diferente, é essencial. Temos até o sistema de alojamento, no qual os graduandos aprendem a viver juntos, a dividir o banheiro, o refeitório, os projetos. Aprender vai além do computador.

MULTIMÍDIA

Confira texto e vídeo da entrevista da reitora
folha.com/sa449656


PERFIL

Drew Faust foi a 1ª reitora em 375 anos de Harvard

DE CAMBRIDGE (EUA)

A historiadora Drew Gilpin Faust, 62, tornou-se em 2007 a primeira mulher a ser reitora de Harvard. "Primeiro recebi um monte de cartas. Mas agora acho que as pessoas já se acostumaram", diz.
Casada com o também historiador Charkes Rosenberg e mãe de duas filhas, Faust escreveu seis livros, incluindo "This Republic of Suffering: Death and the American Civil War", de 2008, um finalista no prêmio Pulitzer.
Entre os dias 23 e 26, ela vai a São Paulo e ao Rio, onde se reunirá com lideranças acadêmicas, representantes de Harvard no país, ex-alunos e universitários que colaboraram em projetos comuns. (LC e GD)


Harvard tenta barrar conflito de interesses

Preocupação inclui ainda casos de plágios e origem de financiamentos

Ter docentes atuantes no mercado, para a reitora, é importante, mas traz problemas inéditos à instituição

DE CAMBRIDGE (EUA)

No topo do ranking de universidades da Times Higher Education, Harvard não é poupada de polêmicas. E duas delas, que lidam essencialmente com a forma como a universidade produz, estão motivando revisões em suas políticas internas.
A primeira é a questão do conflito de interesses, exposta mais recentemente no oscarizado documentário "Trabalho Interno". O filme questiona a porta giratória entre a academia e os grandes bancos e corporações.
O argumento é o de que os interesses das instituições financeiras transpiram para as salas de aula por meio de professores que estão ou estiveram em suas folhas de pagamento -como o ex-reitor Larry Summers, que volta este ano a Harvard.
"A universidade está hoje muito mais envolvida no mundo do que há 15 anos", disse a reitora Drew Faust à Folha. "Isso é bom, pois traz experiências do mundo real, torna a pesquisa mais conectada. Mas levanta questões que a universidade não havia enfrentado antes."
O resultado foi a adoção, no ano passado, de uma inédita política de conflito de interesses redigida por uma comissão encabeçada pelo vice-pró-reitor Dabid Korn.
A meta agora é que cada uma das 15 escolas da universidade decida sobre políticas específicas. A mais avançada, afirma Faust, é a da escola de medicina (muita coisa descoberta ali é patenteada e comercializada).
A queda do reitor da respeitada London School of Economics, por ter aceitado doações do ditador líbio Muammar Gaddafi, ainda que por canais legais, também abriu uma discussão sobre quem financia as pesquisas nessas instituições. Em Harvard, no ano passado, por exemplo, 7% de seu orçamento veio de doações de empresas e indivíduos.
A universidade está aumentando também o escrutínio sobre sua produção após vir à tona, no ano passado, que o conhecido biólogo evolucionista Marc Hauser, professor da instituição, mentia na conclusão de um de seus estudos. Há uma investigação em curso e o pesquisador está afastado.
Na revisão de parâmetros, os estudantes são parte importante. Neste semestre, professores da escola de governo passaram a enfatizar que trabalhos contendo plágio -e referências a outros trabalhos sem a devida citação - serão anulados. "Parte do que temos feito para resguardar a integridade acadêmica é educar os estudantes", diz a reitora.

PROFESSORES Harvard também estabelece critérios rigorosos para contratar seus professores. Primeiro a universidade trabalha com uma ampla base de nomes, cuja produção é meticulosamente avaliada pelo atual corpo docente.
Os selecionados passarão por mais três fases de escrutínio -colegas do mesmo campo, a diretoria da escola em questão e a reitoria. "E depois temos uma comissão ad-hoc, com gente de fora da universidade, para examinar as credenciais do indivíduo."
O processo busca os melhores. E os melhores custam caro. A universidade pagou US$ 1 bilhão a seus 2.100 professores em 2009.
A reitora nega rumores de que haja salários de US$ 1 milhão ao ano. O atrativo em Harvard, ela diz, é o ambiente e a oportunidade intelectual, com colegas que desafiam o acadêmico a melhorar sempre, além de instrumentos para pesquisa, verba de viagem e boas instalações.
E os salários? "Bom, estamos no mercado."
(LUCIANA COELHO)

Frase

"A universidade está hoje muito mais envolvida no mundo do que há 15 anos. Isso é bom, pois traz experiências do mundo real (...). Mas levanta questões que não havíamos enfrentado antes"

Invenções de alunos são motor para inovação

EM CAMBRIDGE

Pesquisa e inovação são o principal vértice de Harvard, e com tantos institutos e acadêmicos desenvolvendo seu trabalho nas 15 escolas da universidade, não raramente as descobertas vêm dos alunos, inclusive de graduação.
"Tem uma história que eu adoro, de um grupo da graduação na escola de engenharia", conta a reitora Drew Faust. "Eles criaram uma bola de futebol que, quando você chuta, gera energia que fica armazenada em uma bateria. Ou seja, após jogar futebol, você volta para casa, pluga ali seu telefone celular e pode recarregá-lo."
A bola já está sendo usada na África, e agora os estudantes buscam meios de viabilizá-la comercialmente.

FACEBOOK
A inovação mais famosa, é claro, é o Facebook, surgido em um dos dormitórios da universidade pelas mãos do ex-aluno Mark Zuckerberg. A rede social -e o filme sobre ela- estão até servindo como atrativo para novos alunos.
"Eu estive em Londres em novembro e um ex-aluno veio contar que, na antiga escola dele, embora ninguém se inscrevesse em Harvard antes, neste ano houve 18 inscritos por conta do filme."
Cada vez mais, concursos de inovação com alunos de Harvard atraem a atenção de investidores. Com 44 prêmios Nobel, a universidade só perde para o vizinho Massachusetts Institute of Technology, o MIT, que tem 74.
Nos últimos sete anos, Harvard criou seu Instituto para Pesquisa em Células Tronco, com 70 pesquisadores e mais de mil estudantes de pós-graduação.
A universidade também ampliou sua divisão de engenharia e ciências aplicadas até fazer dela uma nova escola e criou o Instituto Wyss para engenharia inspirada em biologia (frequentemente criando soluções tecnológicas na medicina).
(LC e GD)


ANUIDADE
AMERICANOS PAGAM POUCO POR HARVARD

Se, para alunos estrangeiros, estudar em Harvard custa cerca de R$ 65 mil, para americanos o valor a ser desembolsado é menor.
Para famílias que ganham R$ 8.300 por mês não há taxa. Os valores crescem conforme a renda.
"É menos do que em qualquer universidade nos EUA", diz a reitora da instituição, Drew Faust.

sábado, 12 de março de 2011

A pesquisa científica é vital para o crescimento econômico

Editorial da revista Science (4/03) trata dos cortes feitos no orçamento para pesquisa científica nos Estados Unidos. Escrito por Raymond L. Orbach* e traduzido por José Monserrat Filho.

Foi com um misto de espanto e consternação que presenciei a aprovação pela Câmara de Representantes (Deputados) dos Estados Unidos (EUA) do projeto de lei HR 1 destinado a financiar o Governo federal no que resta do ano fiscal de 2011. Deixados intactos, os cortes maciços na pesquisa científica feitos no projeto aprovado em 19 de Fevereiro irão, de fato, pôr fim à tradicional posição dos EUA de líder da comunidade científica mundial e colocar o país em clara desvantagem para competir com outras nações no mercado global. Países como China e Índia estão aumentando os recursos para a pesquisa científica porque entendem o seu papel no fomento aos avanços tecnológicos e inovações. Se os EUA desejam competir na economia global, devem também continuar investindo em programas de pesquisa.


Como subsecretário de Ciência do Departamento de Energia no Governo George W. Bush, posso atestar pessoalmente que o financiamento da pesquisa científica não é questão partidária, ou, pelo menos, não deveria ser. Os cortes propostos no projeto HR 1 desfazem o compromisso bipartidário de dobrar em dez anos o orçamento da pesquisa científica da Fundação Nacional de Pesquisa [National Science Foundation], da Secretaria de Ciência do Departamento de Estado [Ministério das Relações Exteriores], e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia [National Institute for Science and Technology]. Este objetivo nacional, apoiado pelos presidentes Bush e Obama, foi sancionado bem recentemente, em dezembro último, pela Lei A América Competitiva.


Os cortes previstos no projeto aprovado terão efeito devastador sobre uma série de pesquisas científicas fundamentais. Por exemplo, eliminam-se 900 milhões dólares do orçamento da Secretaria de Ciência, o braço da pesquisa básica do Departamento de Estado - redução de cerca de 20%. O projeto afeta em especial o Laboratório de Pesquisas Biológicas e Ambientais [Office of Biology and Environmental Research], diminuindo seu orçamento em 50%; tais reduções, ao todo, simplesmente eliminam o financiamento de três centros de pesquisa biológica e a esperança de se desenvolverem combustíveis derivados de usinas de celulose. O enorme sucesso dos Centros de Pesquisa Energia de Fronteira (Energy Frontier Research Centers), que apóiam projetos de pesquisa em 28 universidades e 16 laboratórios nacionais, será interrompido no meio do caminho.


Os centros das universidades sustentam os 1300 estudantes que, trabalhando na conversão da luz solar e do calor em eletricidade, melhoraram a eficiência da fotossíntese das plantas para a produção de combustíveis e aumentaram a eficiência da combustão para ampliar a quilometragem dos carros. O trabalho agora em risco nos laboratórios nacionais inclui projetos voltados para o aperfeiçoamento da luz gerada em dispositivos de matéria condensada e a conversão do carvão em produtos químicos e combustíveis. Esta pesquisa é de vital relevância se os EUA quiserem ser líderes no esforço de mudar como os seres humanos obtém e utilizam a energia em nível global, de modo a preservar a viabilidade social e econômica.


Para piorar as coisas, o projeto também desestabiliza grandes instalações científicas operadas pela Secretaria de Ciência do Departamento de Estado. Tais pesquisas incluem o trabalho do país com poderosas fontes de luz (que outros países estão copiando em massa), tão essencialmente importantes para as comunidades científicas de Biologia, Medicina e de materiais dos EUA. Incluem, também, os aceleradores restantes no país, responsáveis pelos avanços das comunidades científicas das áreas nuclear e de altas energias; sua fonte de espalação (fragmentação) de nêutrons e seus centros de nanotecnologia, extremamente valiosos tanto para as universidades quanto para as comunidades industriais; e a busca de energia ilimitada e ambientalmente benigna através do investimento no Reator Termonuclear Experimental Internacional.


O déficit orçamentário é grave. Para escapar de suas garras, são necessários crescimento econômico e reduções orçamentárias. Bem mais da metade do crescimento econômico dos EUA no século passado pode ser atribuída a investimentos em ciência e tecnologia. Para competir na economia global, os EUA precisam permanecer líderes em ciência e tecnologia. Para que isso ocorra, o Senado deve restaurar as dotações para a ciência no orçamento do ano fiscal de 2011. Se não o fizer, relegará os EUA à posição de segunda classe na comunidade científica mundial e ameaçará o crescimento econômico e a prosperidade das futuras gerações de norte-americanos.


* Raymond L. Orbach é diretor de Energia do Instituto da Universidade do Texas, Austin. Foi Segundo Secretário da Ciência no Departamento de Energia na gestão do presidente George W. Bush. É membro do Conselho de Administração da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês).