quinta-feira, 3 de novembro de 2011

IDH: subiu ou desceu?

Artigo de Flavio Comim publicado no jornal O Globo de hoje (3).

Todos já viram: o Brasil subiu em 2011 uma posição no ranking do IDH em relação ao ano passado. Mas como pode, perguntarão alguns, se o Brasil estava ano passado na posição 73 e se ele ocupa agora a posição 84? Não seria mais correto afirmar que o Brasil caiu 11 posições no ranking do IDH? Como justificar que a posição brasileira no IDH subiu quando parece evidente que ela caiu?



O fato é que as duas listas do IDH, a de 2010 e a de 2011, não são comparáveis porque a lista de 2010 trazia 169 países, enquanto a lista desse ano traz 187 - 18 países a mais do que no ano passado. Para que essa comparação fosse possível, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) recalculou o valor de 2010 para essa lista maior de 187 países, com dados atualizados, e somente a partir disso procedeu a uma comparação. Incluindo nove países (como Cuba, Líbano e Dominica, entre outros) que entraram na frente do Brasil nessa nova lista, o país estaria em 2010 na posição de 85, tendo subido para 84 em 2011 por efeito de seu relativo crescimento da renda e expectativa de vida.



O que deve estranhar não é o procedimento de fazer uma comparação em bases equânimes, mas sim que foram introduzidos tantos países de um ano para outro. A explicação para isso pode ser encontrada nas inovações metodológicas introduzidas no cálculo do IDH do ano passado que restringiram o número de países incluídos na lista em 2010. O mesmo fenômeno não deve se repetir nos próximos anos, fazendo com que o ranking de 2011 seja um caso particular.



Segue, no entanto, o fato de que o IDH brasileiro tem crescido a taxas decrescentes, passando de um crescimento médio anual de 0,87% ao ano no período 1980-2011, para 0,86% ao ano de 1990-2011 até os atuais 0,69% ao ano de 2000-2011. O Brasil avança a passos lentos nas áreas de saúde e educação. O lançamento do novo IDH deve servir como um alerta para que o país possa se ver no mundo dentro da ótica do desenvolvimento humano, não como sua sétima economia, mas como um país que ainda deve muito aos seus cidadãos.



Flavio Comim é PhD Universidade de Cambridge, professor UFRGS e ex-economista do Pnud.

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