Amanhã (26), será lançado livro com as conclusões de cinco anos de estudos do Grupo de Trabalho sobre Educação Infantil, criado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 2007. O lançamento acontece durante seminário internacional promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que traz uma pauta focada em alfabetização, um dos principais temas do grupo e um dos maiores problemas da educação brasileira.
Integrado por especialistas em aprendizagem de diferentes áreas: neurociências, psicologia cognitiva, economia, o GT passou anos compilando estudos internacionais e analisando as mudanças nas diretrizes de políticas de alfabetização de diferentes países que alteraram suas estratégias nessa área em função dessas evidências científicas. Entre eles França, Inglaterra, EUA, Austrália, Israel e Finlândia.
De acordo com a publicação, o Brasil usa métodos de alfabetização superados, cuja ineficácia já foi exaustivamente comprovada por inúmeros estudos científicos internacionais, que vêm orientando há duas décadas profundas mudanças nas políticas de alfabetização de diversos países. Os métodos fônicos, baseados em instruções explícitas sobre a relação entre grafema (letra) e fonema (som), são, segundo esses estudos, os que apresentam melhores resultados quando se trata de alfabetizar. Outra constatação científica que contradiz as práticas brasileiras diz respeito a idade para alfabetizar. As pesquisas indicam que seis anos é a idade ideal, na qual essa aprendizagem é mais fácil.
Seminário - O relatório do grupo, que inclui ainda estudos sobre o desenvolvimento infantil em idade pré-escolar, será lançado pela ABC durante seminário internacional promovido pela FGV. O encontro contará com a presença do prêmio Nobel de Economia, James Heckman, autor de um estudo que mostra que a taxa de retorno (tanto em termos de desenvolvimento e renda dos indivíduos como das nações) obtida pelos investimentos em educação é tanto maior quanto mais precoce a faixa etária focada por esses investimentos.
Este é o quarto seminário científico internacional realizado no Brasil este ano que apresenta conclusão similar sobre a alfabetização no Brasil. O primeiro, promovido pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) em São Paulo reuniu 50 palestrantes de vários países. Apesar disso, o que ainda se ouve no Brasil é "esta polêmica entre construtivistas e defensores do método fônico não tem nada de novo; está provado que método não tem importância, o que conta é a competência do professor".
Não é o que dizem os levantamentos de estudos científicos feitos pelos governos de vários países e agora compilados pelo grupo da ABC. O mais grave é que os estudos constatam que o uso de métodos de alfabetização ineficientes tem impacto negativo muito mais forte sobre as crianças de classes socioeconômicas mais baixas.
O professor João Batista Oliveira, psicólogo especialista em educação e presidente do Instituto Alfa e Beto (IAB) apresentará no seminário as conclusões do grupo de estudo na área da alfabetização.
O tema é bem oportuno. Afinal, na última avaliação de leitura do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, de 2009), o Brasil ficou em 54º lugar num ranking de 65 países, atrás de nações como Sérvia Romênia e Trinidad Tobago. O exame, que analisa a capacidade de leitura de estudantes de 15 anos da rede pública, concluiu que a maioria deles no Brasil apenas identifica palavras ou frases simples, não sendo capazes de compreender textos. Numa classificação de 1 a 5, em que 5 equivale à leitura fluente e 1 à capacidade de identificar palavras, a média nacional (de alunos de 15 anos!) ficou em 2, mas com grande contingente no nível 1, que é onde teria ficado a média global caso tivessem sido considerados apenas os meninos. Segundo a Prova Brasil, metade dos estudantes de 5º ano são analfabetos.
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