domingo, 11 de dezembro de 2011

Aula de ponta-cabeça (Claudio de Moura Castro)

laudio de Moura Castro

De dois ou três séculos para cá, o jeito das aulas se fixou em uma fórmula clássica: o professor explica e depois, em casa, os alunos fazem o "dever", exercitando o que aprenderam. As variações sobre o tema têm sido mínimas, longe de, serem revoluções. Mas eis que pipoca uma novidade: quem sabe virar a rotina da aula de ponta-cabeça? O aluno aprende em casa e depois vai à aula. Nela, com a ajuda do professor, vai se exercitar no que estudou.

Essa possibilidade e suas muitas variantes sempre existiram, pois nada impede os alunos de abrir seus livros para aprender a lição em casa. Na prática, por ser bem mais árdua, jamais foi uma solução adotada amplamente.

Mas eis que um jovem graduado do MIT, Salman Khan, recebe um pedido de primos, para que explique passagens mais complicadas da matemática. Se estivessem pertinho; ele explicaria pessoalmente, mas, como moravam longe, usou o YouTube para gravar a preleção. Deu certo. Surpresa: deu mais certo do que esperava.

Logo Sal se vê produzindo aulas sobre variados temas de matemática e outros assuntos, conquistando uma freguesia cada vez maior. Bill Gates ficou sabendo e o presenteou com 1,5 milhão de dólares para criar a Khan Academy. O sucesso tem sido espantoso, com seu site (www1hanacademy.org) ultrapassando 60 milhões de acessos para suas 2700 aulinhas de vinte minutos.

O que Khan fez foi mostrar uma porta aberta, levando a muitas soluções no mesmo espírito e não apenas à sua. No YouTube, ou onde quer que seja, pode morar uma aula expositiva, mostrando a matéria, tal como apresentada por um bom professor. Mas, como está gravada, não depende do humor do mestre naquele dia ou da preparação, na véspera, além de poupá-lo da enfadonha repetição, dia após dia. Alguém no mundo deve ser o campeão de ensinar, por exemplo, regra de três. Por que contentar-se com uma aula pior? Faça um experimento. Faça um aluno de boa escola. assistir a uma aula do Telecurso sobre algum assunto que ele já viu ao vivo do próprio professor. Aposto que ele achará melhor e mais clara a do vídeo. Aliás, a fórmula do Telecurso tem essa peculiaridade, pois os alunos olham o vídeo e depois interagem com o professor da telessala.

Desemprego maciço de professores, se der certo? Sob tal cenário, seria fracasso assegurado. Mas não é nada disso. Pelas restrições de tempo de aula, explicar regra de três - ou o que seja - é um processo inevitavelmente unidirecional, só o professor fala. Se o aluno não entendeu a explicação, há pouco tempo para insistir. No YouTube, em casa, continua unidirecional, mas basta clicar para repetir, até entender. Ou seja, a tecnologia serve para congelar a melhor aula possível, sobre qualquer assunto. Quando precisar, está lá, pai-a ser instantaneamente descongelada, na tela do computador. O professor ao vivo é importante na hora de discutir o assunto e tirar as dúvidas. Isso porque na aula expositiva o aluno acha que entendeu. Só descobre que não havia entedido quando precisa aplicar o conhecimento. Sendo assim, se - o exercício vai ser feito na aula a dificuldade emerge justamente no momento em que o professor está presente para ajudá-lo e com amplo tempo para tal. De fato, a graça da fórmula é que o professor passa todo o tempo interagindo com os alunos onde é insubstituível, em vez de desperdiçar a aula repetindo uma preleção estacionada no YouTube, com direito a bis.

A história da educação é uma sequência de fórmulas mágicas que vão sendo anunciadas, com promessas redentoras. Livro, cinema, TV, vídeo, computador, CD e mais outras tantas novidades tiveram suas promessas e, mais adiante, esquecimento. Será esse o destino chocho da minirrevolução desencadeada pelas dificuldades dos primos do Khan? Depois de tantos fracassos, não há como ser excessivamente otimista. Mas a ideia é boa. Capitaliza-se na existência de comunicadores brilhantes e dispostos a gravar aulas, na conveniência e ubiquidade do YouTube, somando-se a isso a velha e insubstituível interação pessoal entre mestre e aprendiz, na hora dé aplicar os conhecimentos. Finalmente, cada ingrediente do aprendizado pode ser usado no seu lugar certo.

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"Uma boa ideia que se captializa na existência de comunicadores briIhantes e dispostos a gravar aulas, na Conveniência e ubiquidade do YouTube, somando-se a insubstituível interação pessoa entre mestre e estudante"


Expansão desarrumada

Paula Filizola

Projeto do governo de aumentar o número de instituições de ensino superior esbarra em diversos problemas

Brasília - O professor Adilson Siqueira integra o grupo de docentes da Universidade Federal de Rondônia (Unir) que ficou em greve por 79 dias neste ano reivindicando melhores condições de trabalho. Um relatório detalhado da Controladoria-Geral da União (CGU) evidencia a má conservação do campus, a falta de salas de aula e de laboratórios, além de atraso nas obras. Mas, em relatos de docentes, é possível saber que o problema é ainda maior: chega a faltar água nos bebedouros e papel higiênico nos banheiros da instituição. O quadro se repete em outras universidades do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni, instituído em 2007.

Segundo o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e vice-presidente da Regional 1 (Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima) do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Francisco Jacob Paiva da Silva, o governo vende a ideia de estar abrindo novos campus, mas a expansão não é feita de forma planejada. A maioria dos espaços vinculados a Ufam, criados pelo Reuni em cinco municípios da região, só é acessível de barco ou avião. "Eles desenvolvem novos cursos, mas a maioria não é condizente com a região e, por isso, não tem demanda. A ideia é desenvolver esses locais, mas aqui é impossível, pois essas regiões não têm estrutura de vida pública, têm custos altíssimos e não há mercado de trabalho", avalia. Em 2010, a Ufam ofereceu 5.282 vagas para 8.890 candidatos, uma relação de 1,7 interessado por oportunidade oferecida. No mesmo ano, na UnB, a relação foi de 8,1 inscritos por vaga.

Entre as principais reclamações dos professores estão a falta de infraestrutura e de profissionais. "Somos obrigados a dar aulas em mais de um curso, mas nem sempre temos o conhecimento específico. Isso é prejudicial a todos", argumenta Francisco Jacob, da Ufam. "Saímos de 6 mil alunos para 11 mil. Somos somente 610 professores. Não é suficiente", reclama Adilson Siqueira, da universidade de Rondônia. O ministro Haddad, porém, acredita que a expansão qualificou o corpo docente. "Substituímos por doutores as vagas ocupadas por especialistas, e isso contribuiu para a elevação dos indicadores de qualidade que alcançamos", afirmou.

Adilson conta que existem obras paralisadas há quase quatro anos na Unir. Já Wallace Telino, professor de zoologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco na unidade de Garanhuns - a primeira instalação do programa de interiorização do MEC -, conta que as obras ficaram paralisadas por mais de seis meses devido à falência da empresa contratada


Problemas pontuais

O secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Luiz Cláudio Costa, classifica esses problemas como pontuais. "É natural em uma expansão dessa dimensão". Segundo ele, os indicadores de matrículas e vagas demonstram um "programa de profundo sucesso". De 2003 a 2011, as vagas em graduações presenciais no país pularam de 109 mil para 235 mil. Ainda assim, o Brasil não conseguiu cumprir a diretriz do Plano Nacional de Educação (PNE) 2001-2010 de elevar para pelo menos 30% o número de matrículas no ensino superior entre alunos com 18 a 24 anos. O novo PNE, que completa um ano este mês, prevê para 2020 elevar a taxa de matrícula na educação superior em 33%, assegurando a qualidade da oferta.

De acordo com o MEC, 2.104 obras de expansão e reestruturação de universidades federais estão em curso e 1.160 foram concluídas. A pasta alega que 78 obras em andamento foram paralisadas ou tiveram contrato cancelado porque as vencedoras da licitação não conseguiram concluir o trabalho. "Fazemos o acompanhamento e o monitoramento de cada obra", garante o secretário de Educação Superior do ministério.

Para o professor Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos Pela Educação e do Conselho Nacional de Educação (CNE), o grande entrave é o modelo de gestão das universidades, que precisa ser mais inovador. "O problema não é dinheiro. O dinheiro entra, mas é preciso ficar em uma fila de projetos, esperar as licitações. É um modelo que não atende mais a velocidade dos processos", critica. Desde a criação do Reuni, a pasta investiu R$ 5,5 bilhões e entregou 14 universidades federais e 126 câmpus universitários em diferentes regiões do Brasil. Atualmente, existem 59 universidades federais e o MEC planeja abrir outras quatro até 2014.


As fraudes do senhor reitor

CÁTEDRA DA CORRUPÇÃO

As fraudes do senhor reitor

Dirigentes e ex-dirigentes de 16 universidades federais são acusados de irregularidades

Fábio Fabrini fabio.fabrini@bsb.oglobo.com.br

BRASÍLIA

Centros de excelência em formação profissional e pesquisa científica, universidades federais têm construído, paralelamente, uma escola de impropriedades na gestão de recursos públicos. Reitores, pró-reitores e ex-dirigentes de, pelo menos, 16 instituições, em 13 estados, são alvos de processos administrativos, auditorias, inquéritos e ações na Justiça por deslizes que vão do favorecimento a parentes e amigos ao desvio de verbas. Só o Ministério da Educação (MEC) apura 23 casos, envolvendo gestores de oito federais, que, se forem considerados culpados, podem perder seus cargos ou, se já afastados, ficar proibidos de voltar ao serviço público e ter as aposentadorias cassadas.

Na lista constam catedráticos que ganharam notoriedade recentemente, como o ex-reitor José Januário Amaral, que renunciou em meio a suspeitas de integrar um esquema de corrupção na federal de Rondônia (Unir). E outros que caíram em desgraça pública bem antes, casos de Timothy Mulholland, da Universidade de Brasília (UnB), envolvido em denúncias de irregularidades em fundações vinculadas à universidade; e de Ulysses Fagundes Neto, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cujos gastos em viagens ao exterior foram o estopim de sua queda. Ambos saíram em 2008, mas ainda não receberam o veredicto do MEC, cujos processos disciplinares (PADs), não raro, são tão lentos que só acabam após os delitos prescreverem.

No Piauí, o reitor da UFPI, Luiz de Sousa Santos Júnior - campeão de PADs no MEC, com oito - acumula ações na Justiça por improbidade administrativa, além de inquéritos no Ministério Público Federal (MPF) e na Polícia Federal que apuram seu envolvimento numa coleção de irregularidades. Numa das ações, ele é acusado pelo MPF de favorecer com 16 contratos, firmados sem licitação, o empresário Cândido Gomes Neto, apontado como controlador de três empresas de publicidade. Em outra, é responsabilizado por gastos abusivos com cartão corporativo, cuja soma alcança R$405 mil.

Lei de licitação pública é burlada

A Procuradoria da República no Piauí quer multar o reitor por, supostamente, descumprir ordem judicial que o proíbe de firmar convênios com a Fundação Cultural e de Fomento a Pesquisa, Ensino e Extensão (Fadex), ligada à universidade, para obras e serviços sem previsão legal. E sustenta que a entidade tem sido usada por ele para driblar a exigência de contratar mediante concorrência pública. Empresas mantenedoras da Fadex, como a Construtora F. Ramalho, e que constam em seu estatuto, aparecem no Diário Oficial da União (DOU) também como beneficiárias de contratos da fundação e da UFPI.

O MEC apura a participação da D&P, empresa que pertenceu ao professor Iônio Alves da Silva, ex-coordenador de Comunicação da universidade e ligado ao reitor, em licitação para serviços de publicidade - o processo parou na Justiça. Também está sob investigação o suposto dano ao erário em obras do campus de Bom Jesus. E o uso da Comissão Permanente de Seleção (Copese) para favorecer parentes e pessoas ligadas aos seus integrantes. Por esse motivo, o pró-reitor de Pesquisa, Saulo Brandão, responde a ação de improbidade do MPF.

Na UFPI, foi necessária a intervenção de procuradores da República até para que o nome de uma colega do reitor no Departamento de Química, posto como homenagem num prédio da universidade, fosse retirado. Em representação, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a Associação de Docentes (ADUFPI) pedem que o MEC apure a suposta concessão de bolsas, pela Fadex, a Santos Júnior e a uma de suas filhas. Ele nega.

País afora, também estão sob investigação casos de irregularidade em licitações e malversação de verbas na federais de Rio, Amazonas, Pará, Minas, Sergipe, Acre e Pernambuco. No Rio Grande do Sul, o ex-reitor da Universidade de Santa Maria (UFSM) é réu da Operação Rodin, da Polícia Federal, que apurou o suposto desvio de R$44 milhões do Detran-RS, por meio de fundações ligadas à universidade. Ele também é um dos investigados no controle interno do MEC. Em Pernambuco (UFPE), um dos alvos são contratações reiteradas das mesmas empresas para fornecer materiais de construção.

Em 23 de novembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) mandou suspender licitação da federal de Juiz de Fora (UFJF) para ampliar o hospital universitário. A obra está orçada em R$136,8 milhões. Os motivos são um sobrepreço de R$15,7 milhões, apontado na auditoria, restrições à competitividade e indícios de conluio entre as únicas três construtoras que participaram da concorrência. Os preços apresentados por elas foram tão parecidos que a primeira classificada, com o maior desconto, tinha uma diferença de apenas 0,38% em relação ao valor de referência.

Na decisão, relatada pelo ministro José Múcio, o tribunal pede à PF e ao MPF que apurem o caso. E afirma que, embora tenha pedido correções no edital em ocasião anterior, a universidade não o fez.

No Rio, o TCU aplicou este ano multas de R$20 mil ao ex-reitor da UFRJ Aluísio Teixeira, e de R$5 mil à vice-reitora de sua gestão, Sylvia da Silveira Mello Vargas, por impropriedades em parceria com o Sindicato Nacional dos Oficiais de Marinha Mercante (Sindmar) para a instalação de um simulador aquaviário. Os recursos do projeto foram destinados por emenda da deputada Jandira Feghali (PCdoB). O equipamento foi instalado na entidade, presidida na época pelo marido da parlamentar, Severino Almeida Filho.

Segundo o relatório que embasou a decisão, a aquisição feriu a Lei de Licitações e foi direcionada ao Sindmar. Além disso, permitiu-se "o envolvimento da universidade em benefício de uma organização sindical". O equipamento, sustenta o tribunal, sequer era necessário à UFRJ. A reitoria nega irregularidades. Houve recursos ao acórdão, mas o tribunal manteve as multas e deu prazo para o pagamento.


sábado, 10 de dezembro de 2011

Mais ousadia e realismo na educação

Editorial do Correio Braziliense de hoje (8).

De pouco adiantam metas ambiciosas sem investimentos capazes de realizá-las. Da mesma forma, a elogiável universalização do ensino nas duas últimas décadas serve pouco ao país sem a correspondente universalização do saber. As duas premissas precisam balizar os debates finais na Câmara dos Deputados em torno do segundo Plano Nacional de Educação (PNE), a ser implementado nos próximos 10 anos.

O relator propõe que o Estado invista no setor 8% do Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas aqui produzidas. Mais tímida, a proposta do governo é avançar dos atuais 5% para 7%. Entidades representativas da sociedade civil reclamam 10%. A medida certa, naturalmente, é a maior possível. A questão é defini-la com realismo e fazê-la cumprir, sobretudo garantindo resultados tão expressivos em termos de quantidade quanto de qualidade.

Eficiência - e, consequentemente, competitividade - é o ingrediente que falta para completar a ponte que permitirá ao Brasil (cuja economia está prestes a se tornar a sétima maior do planeta) chegar ao Primeiro Mundo. Eficiência, inclusive e principalmente, para bem qualificar os cidadãos. É inquietante que o desenvolvimento recente do País tenha estrangulado, em vez de expandido, a oferta de mão de obra qualificada.

O PNE 2 está em debate há quase um ano, tendo recebido perto de 3 mil emendas. A previsão do relator, Angelo Vanhoni (PT-PR), é de que seja votado ainda este mês, após as cinco sessões da Câmara a que estará aberto a novas emendas. Vinte metas estão estabelecidas. Além do investimento de um ponto percentual a mais do PIB, o texto supera a proposta do governo também ao propor erradicar o analfabetismo funcional até 2020. Originalmente, propunha-se reduzir à metade o número de brasileiros que não sabem ler nem escrever.

Peça fundamental nesse tabuleiro, os professores foram lembrados com a garantia de plano de carreira para a rede pública. Estão previstos, ainda, o aumento das vagas em creches, a expansão das escolas em tempo integral e o crescimento das matrículas em cursos técnicos e universidades federais. Outra meta é reduzir o índice de reprovação no ensino fundamental. Mais: o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) fica encarregado de acompanhar o PNE, com análises bienais.

É imprescindível definir as fontes de onde sairão os recursos. Dos 5% do PIB hoje investidos no setor, apenas 0,98% cabe à União. Estados e municípios se encarregam do restante. É igualmente imperioso dar à educação status de principal estratégia do desenvolvimento nacional. Não só como responsabilidade do Estado, como também da iniciativa privada. Esse é um esforço de todos, pelo bem de todos.

Bom exemplo vem da Coreia do Sul. Com escolas-modelo, o país saltou de uma economia agrária para o topo do ensino qualificado no planeta. Até passou a liderar setores de ponta, como pesquisa e tecnologia. Para tanto, trocou o plano das boas intenções pelo da realidade. É o que falta ao Brasil: parar de fazer de conta que ensina, seja na rede pública, seja na particular.

Quanto mais, menos

Artigo de Luiz Roberto Liza Curi publicado na Folha de São Paulo de hoje (9).

A expansão do ensino superior no Brasil saltou de 1,945 milhão de matrículas em 1998 para 6.379.299 em 2010. Desse volume de matrículas, 4.736.001, perto de 75%, pertencem às instituições privadas. A pós-graduação cresceu mais de 150% em menos de dez anos. São 173 mil matrículas, sendo 144.911 (95%) em instituições públicas. Titula 50 mil mestres e doutores por ano, com um padrão de qualidade internacional.

Mas se o aumento dos pesquisadores no Brasil é comemorado como um bem nacional, o do número de graduados nem tanto. Essa expansão, sancionada por um complexo e consistente sistema de avaliação, é um significante com diversos significados.

De um lado, é apontada com certa desconfiança por parcelas da opinião pública. Algumas organizações profissionais associam explicitamente a expansão do ensino superior com a má formação. De outro lado, ela é vista como um termômetro de mobilização de investimentos financeiros pelas chamadas redes de instituições.

De nenhum lado, no entanto, a expansão, especialmente do setor privado, foi vista ou analisada como fator essencial ao desenvolvimento e à sustentação da nação. Será justo admitir que essa expansão seja um problema capaz de gerar uma lacuna no País?

No Brasil, a universalidade do acesso ao ensino superior é, de fato, um problema. Temos menos de 16% da população de 18 a 24 anos matriculada em cursos superiores. Perdemos do Paraguai (18%) e da Argentina (48%), passamos longe de Portugal (50%) e não conseguimos divisar a Coreia (78%).

Configura-se, assim, uma situação aparentemente injusta. Um índice de cobertura da população tão baixo em um setor tão criticado pelo ritmo de sua expansão! Devemos esperar uma qualidade cada vez mais suspeita na medida em que as matriculas crescem?

É preciso reconhecer que não. É louvável o acesso dos cidadãos de baixa renda e a ampla inclusão da chamada nova classe média ao ensino superior. O problema da entrada vai se resolvendo. Falta, ainda, resolver o da saída.

O êxito de universidades, centros universitários e faculdades deve, principalmente, ser expressão da qualidade de seus concluintes, e não do número de ingressantes. O excelente trabalho que o Ministério da Educação desenvolve na avaliação do ensino superior, que por si faz muito pelo País, deve incentivar a transformação de currículos e conteúdos na direção dos desafios sociais e tecnológicos contemporâneos.

Seria bem-vinda uma ampla interação entre a avaliação e outras políticas públicas que estimulassem as instituições de ensino superior a formar profissionais em áreas estratégicas e prioritárias ao desenvolvimento do país. Sem essa articulação a avaliação vai se transformando num instrumento do Estado destinado a proteger a sociedade de uma expansão tida como suspeita. A dimensão do sistema de ensino superior brasileiro não pode, na direção e na velocidade econômica que o país necessita, representar, apenas, milhões de matriculas.

Luiz Roberto Liza Curi, sociólogo, é diretor nacional de educação superior e pesquisa do SEB SA. Foi diretor de políticas de educação superior do Ministério da Educação.

Barreiras para o ensino superior

Projeto do governo federal de aumentar o número de instituições de ensino superior esbarra em obras paralisadas por empresas que descumprem contratos, falta de professores e até desinteresse dos alunos.

O professor Adilson Siqueira integra o grupo de docentes da Universidade Federal de Rondônia (Unir) que ficou em greve por 79 dias neste ano reivindicando melhores condições de trabalho. Um relatório detalhado da Controladoria-Geral da União (CGU) evidencia a má conservação do campus, a falta de salas de aula e de laboratórios, além de atraso nas obras. Mas, em relatos de docentes, é possível saber que o problema é ainda maior: chega a faltar água nos bebedouros e papel higiênico nos banheiros da instituição. O quadro se repete em outras universidades do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni, instituído em 2007.

Segundo o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e vice-presidente da Regional 1 (Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima) do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Francisco Jacob Paiva da Silva, o governo vende a ideia de estar abrindo novos campus, mas a expansão não é feita de forma planejada. A maioria dos espaços vinculados a Ufam, criados pelo Reuni em cinco municípios da região, só é acessível de barco ou de avião. "Eles desenvolvem novos cursos, mas a maioria não é condizente com a região e, por isso, não tem demanda. A ideia é desenvolver esses locais, mas aqui é impossível, pois essas regiões não têm estrutura de vida pública, têm custos altíssimos e não há mercado de trabalho", avalia. Em 2010, a Ufam ofereceu 5.282 vagas para 8.890 candidatos, uma relação de 1,7 interessado por oportunidade oferecida. No mesmo ano, na Universidade de Brasília, a relação foi de 8,1 inscritos por vaga.

Entre as principais reclamações dos professores está a falta de infraestrutura e de profissionais. "Somos obrigados a dar aulas em mais de um curso, mas nem sempre temos o conhecimento específico. Isso é prejudicial a todos", argumenta Francisco Jacob, da Ufam. "Saímos de 6 mil alunos para 11 mil. Somos somente 610 professores. Não é suficiente", reclama Adilson Siqueira, da universidade de Rondônia. O ministro Haddad, porém, acredita que a expansão qualificou o corpo docente. "Substituímos por doutores as vagas ocupadas por especialistas, e isso contribuiu para a elevação dos indicadores de qualidade que alcançamos", afirmou, recentemente.

Adilson conta que existem obras paralisadas há quase quatro anos na Unir. Já Wallace Telino, professor de zoologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco na unidade de Garanhuns - a primeira instalação do programa de interiorização do MEC -, conta que as obras ficaram paralisadas por mais de seis meses devido à falência da empresa contratada.

Problemas pontuais - O secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Luiz Cláudio Costa, classifica esses problemas como pontuais. "É natural em uma expansão dessa dimensão", minimiza. Segundo ele, os indicadores de matrículas e vagas demonstram um "programa de profundo sucesso". De 2003 a 2011, as vagas em graduações presenciais no País pularam de 109 mil para 235 mil. Ainda assim, o Brasil não conseguiu cumprir a diretriz do Plano Nacional de Educação (PNE) 2001-2010 de elevar para pelo menos 30% o número de matrículas no ensino superior entre alunos com 18 a 24 anos. O novo PNE, que completa um ano em dezembro, prevê para 2020 elevar a taxa de matrícula na educação superior em 33%, assegurando a qualidade da oferta.

De acordo com o MEC, 2.104 obras de expansão e reestruturação de universidades federais estão em curso e 1.160 foram concluídas. A pasta alega que 78 obras em andamento foram paralisadas ou tiveram contrato cancelado porque as vencedoras da licitação não conseguiram concluir o trabalho. "Fazemos o acompanhamento e o monitoramento de cada obra", garante o secretário de Educação Superior do ministério.

Para o professor Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos Pela Educação e do Conselho Nacional de Educação (CNE), o grande entrave é o modelo de gestão das universidades, que precisa ser mais inovador. "O problema não é dinheiro. O dinheiro entra, mas é preciso ficar em uma fila de projetos, esperar as licitações. É um modelo que não atende mais a velocidade dos processos", critica. Desde a criação do Reuni, a pasta investiu R$ 5,5 bilhões e entregou 14 universidades federais e 126 campi universitários em diferentes regiões do Brasil. Atualmente, existem 59 universidades federais e o MEC planeja abrir outras quatro até 2014.

Deficit de 3,5 mil - Para solucionar a falta de professores nas universidades federais, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) propôs ao MEC que transforme o Projeto de Lei nº 2.134/2011, que cria mais de 77 mil cargos em instituições federais de ensino, em uma medida provisória. Estima-se que o deficit de professores para 2012 chegue a 3.500 cargos em todo o País.

Melhor no Sul - Enquanto instituições de ensino do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) do Reuni no Norte e no Nordeste concentram as piores estruturas no país, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu (PR), é um retrato de que as diferenças regionais estão também na educação superior. Criada em 2009, a Unila iniciou há cerca de seis meses as obras da sua sede efetiva. Em ritmo acelerado, a previsão é de que os alunos possam ser transferidos no fim de 2012 para as novas instalações.

Atualmente, os 12 cursos da instituição funcionam em uma sede provisória no parque tecnológico da Hidrelétrica Itaipu Binacional, que firmou um termo de cooperação com a direção da instituição de ensino e doou parte do terreno para a construção de um dos espaços da universidade.

Niemeyer - O projeto do arquiteto Oscar Niemeyer prevê a construção de nove prédios com salas de aula, laboratórios de pesquisa, um edifício para a reitoria e as salas de professores, um anfiteatro com palco giratório para uma área de eventos com capacidade de até 10 mil pessoas e um restaurante universitário. A estimativa inicial da obra é de R$ 500 milhões.

A primeira universidade federal bilíngue do País deve reunir 10 mil estudantes e 500 professores da América do Sul em cinco anos. Como polo de integração no continente, a instituição conta com 50% de alunos brasileiros e a outra metade latino-americana.

(Correio Braziliense)

sábado, 3 de dezembro de 2011

Uma aposta contemporânea

A educação profissionalizante vive a maior fase de expansão já experimentada no Brasil, mas é preciso vencer entraves para atrair jovens e garantir uma formação de qualidade

POR NELSON ROCCO

O ENSINO TÉCNICO vem passando por uma revolução no Brasil. Foi essa a mensagem que o ministro da Educação, Fernando Haddad, transmitiu ao apresentar os detalhes do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec), projeto do governo federal que prevê criar 8 milhões de vagas até 2014 para profissionais que precisam de qualificação e estudantes do nível médio. "Hoje, já temos 1 milhão e matrículas anuais, o dobro do que tínhamos em 2008. Nossa meta é chegar a 2020 com 2 milhões de matrículas", afirmou Haddad, durante a abertura do seminário "Ensino técnico: uma necessidade para o País, uma alternativa para os jovens", realizado pelas revistas Carta na Escola, Carta Fundamental e CartaCapital, em São Paulo com o patrocínio da Petrobras.

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"Vamos superar os desafios com a articulação de todas as instituições" diz Luiz Caruso, do Senai

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Além de Haddad, participaram do evento José Renato Ferreira de Almeida, coordenador-executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), Pedro Alexandre Barbosa, secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do governo do estado de São Paulo, Cláudio Ricardo Gomes de Lima, presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, Luiz Caruso, gerente-executivo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Waldir Quadros, professor colaborador do Instituto de Economia e membro do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Gabriel Grabowski, professor e assessor de assuntos institucionais da Universidade Feevale e consultor do Ministério da Educação.

Antes de explicar os detalhes do Pronatec, o ministro analisou os antecedentes ao programa. "A situação era anômala na educação profissional de nível médio no Brasil", disse. Até o início dos anos 1990, lembrou Haddad, o ensino médio técnico era obrigatório. "Muita gente desconhece a certificação que obteve. Era um grande faz de conta: o poder público fingia que obrigava (a aplicação dos cursos) e as escolas fingiam que cumpriam", criticou.

Segundo o ministro, a educação técnica saiu da obrigatoriedade para o extremo oposto. A formação passou a ser voluntária, porém foi banida da legislação. "A rede de educação técnica foi brindada com um dispositivo que vedava sua expansão", conta Haddad. Além disso, o sistema "S", composto pelas entidades que recebem recursos das empresas, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e o Senai, foi sucateado entre o final dos anos 1970 e o início dos anos 1980 e os cursos oferecidos por essas entidades passaram a ser pagos. "Apesar de uma enorme receita que incide sobre todas as empresas, a gratuidade não era mais um princípio. Durante 30 anos, a gratuidade ficou solapada até o ponto que, em 2008, no Senac, não havia mais cursos gratuitos na área de comércio e serviços."

A partir de 2004, o governo federal adotou três medidas estruturais. A primeira foi revogar o dispositivo legal que vedava a ampliação do ensino técnico federal. "Em 2005, demos impulso ao maior projeto de expansão da rede federal que se tem notícia. De 1909 a 2002, foram construídas apenas 140 unidades. Nós, em oito anos de governo, fizemos 214 unidades. Fechamos 2010 com 354 unidades", disse. "E a presidenta Dilma (Rousseff) já lançou a construção de mais 208 unidades dentro do Pronatec. Serão 400 unidades em 12 anos."

A segunda medida foi a criação do programa Brasil Profissionalizado, que recebe verbas do MEC para a expansão das atividades do ensino médio em nível estadual. "Quase todos os estados já receberam recursos. Os convênios são de mais ou menos 1,8 bilhão de reais para reformar, equipar, ampliar e construir escolas técnicas estaduais", relata o ministro.

O terceiro pilar dessa estrutura foi a reforma do sistema "S" depois de 2008. ) plano, diz Haddad, é comprometer gradativamente um porcentual maior da receita da contribuição sobre a folha de salários que as empresas pagam para a implementação de cursor gratuitos. O acordo do governo com a: entidades de classe vai de 2009 a 2014. Nesse último ano, dois terços da receita proveniente das contribuições deverão ser destinados aos cursos gratuitos do sistema "S".

Cláudia Ricardo Gomes de Lima, presidente do conselho Nacional das Instituições da Rede Federal, lembra que a receita anual do sistema "S" é da ordem de 10 3ilhões de reais. "Como resultado das mudanças, tivemos 300 mil trabalhadores nos cursos já no ano passado", conta. No Senai, afirma Luiz Caruso, já foram treinados 40 mil profissionais para as áreas de petróleo e gás dentro do escopo do programa, acrescenta.

"Nós vamos superar os desafios (da lacuna na educação técnica) com a articulação de todas as instituições. Isso não significa que não tenhamos gargalos em algumas áreas", avalia o gerente-executivo do Senai. "Nós estamos construindo grandes hidrelétricas em locais que muitas vezes não têm a quantidade de pessoas para trabalhar. Em Jirau e Santo Antônio, nós formamos 30 mil pessoas em tempo recorde. E ago a acontece o mesmo em Suape, em Pernambuco. Precisamos articular políticas pedagógicas para superar esses gargalos", reivindica Caruso.

Fernando Haddad explica que o Pronatec aprofunda as três estruturas já criadas pelo governo federal, com diversas medidas. A primeira é que o programa recém-lançado desonera os investimentos privados em educação, "como uma Lei Rouanet". O segundo ponto é que o programa autoriza a União a condicionar o seguro-desemprego à matrícula numa escola profissionalizante. "Hoje são gastos 24 bilhões de reais por ano com seguro-desemprego. É quase duas vezes a verba do Programa Bolsa-Família. Se nós garantirmos ao trabalhador acesso à educação profissional, talvez ele tenha de recorrer menos ao seguro-desemprego", defende o ministro.

Outro ponto foi a criação de uma bolsa, a Bolsa de Formação, dentro do sistema "S". Ela prevê que as secretarias estaduais de Educação selecionem alunos para frequentarem os cursos do sistema "S". "Temos 40% das matrículas do ensino médio no noturno. E as escolas do sistema "S" têm ociosidade nesse período. Já aportamos por medida provisória 460 milhões de reais para essa finalidade, para que se criem cursos noturnos", contabiliza Haddad.

O programa também prevê a expansão do Financiamento ao Ensino Superior (Fies) para os cursos técnicos particulares e oferece recursos à taxa de juros de 3,4% ao ano para os estudantes interessados. Além disso, o dinheiro também pode ser tomado pelas empresas com a mesma taxa para custear a educação do? funcionários. Quem recebe o dinheiro e a escola e quem paga é o empresário.

Gabriel Grabowski, da Feevale, avalia que o programa tem bons pressupostos e boas iniciativas, mas afirma que e preciso evitar que ele se transforme em mais um programa de governo. "Cada governo que entra procura criar seu programa, sem se importar com o que vem sendo feito." O professor lembrou que são necessários mecanismos para atrair os jovens para as escolas técnicas, pois há uma série de entraves nessa área, que vão do requisito de experiência na hora da seleção, carga de trabalho excessiva, falta de emprego para todos até a oferta de empregos por baixos salários.

Nesse sentido, Waldir Quadros, da Unicamp, afirma que todo país desenvolvido é país industrializado. "O que ocorreu pós-1980 foi a desindustrialização", diz, para justificar a falta de dinamismo da economia de 1981 a 2004, período em que o País gerou poucas oportunidades de trabalho. Segundo o professor, passado o pior da crise de 2008, o Brasil entrou em um cenário alternativo promissor. "Há um desenvolvimentismo em voga. Esse cenário alternativo seria o Brasil se tornar uma grande Petrobras, que está fazendo uma política industrializante", avalia.

Quadros afirma que o País passou por oito anos de dinamismo social, puxado pelo crescimento da economia. Pelos seus cálculos, levando em conta dados do governo federal, o número de ocupados no País passou de 76,5 milhões, em 2003, para 88 milhões, em 2009. "Houve um aumento no numero de ocupados de mais de 11,4 milhões de pessoas. Porém houve a redução no número de miseráveis (com rendimentos de até um salário mínimo) de 10,5 milhões. No total, o efetivo de ocupados cresceu 21,9 milhões, o que dá quase 30% de elevação sobre o estoque de 2003", afirma. Não foi apenas o número de empregos que cresceu, mas houve uma mobilidade entre as camadas sociais. Na sua opinião, esse fato abre espaço para um cenário mais otimista na sociedade e entre os jovens, o que estimula a procura por educação e cursos profissionalizantes.

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"O Brasil passou 20 anos sem fazer obras. Então hoje faltam engenheiros", provocou Waldir Quadros

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Paulo Alexandre Barbosa, secretário do governo de São Paulo, exibiu grandes números de nível internacional, mas disse que eles ainda não são suficientes para atender as necessidades de mão de obra. Segundo ele, o estado de São Paulo conta com 540 instituições de nível superior, ou 24% do total de todo o País. "São 225 mil profissionais de nível superior formados todos os anos." Além disso, a rede estadual de escolas de ensino profissionalizante tem 11 mil unidades. "Ao mesmo tempo em que temos esses números expressivos, ainda temos carência de profissionais no mercado. O Brasil é o país que mais importa engenheiros", criticou. Waldir Quadros rebateu: "O Brasil passou 20 anos sem fazer obras. Então hoje faltam engenheiros. Quem ia fazer um curso de engenharia civil se não havia emprego?"


Por má qualidade, MEC corta mais 2,8 mil vagas de cursos superiores da área de saúde

Desde que foram divulgados os resultados do CPC de 2010, o ministério já cortou mais de 7 mil vagas em faculdades que oferecem cursos consideradas de baixa qualidade.

O Ministério da Educação (MEC) anunciou ontem (1°) o corte de mais 2.794 vagas em 153 cursos que obtiveram resultado insatisfatório nas avaliações de qualidade promovidas pela pasta. A medida atinge graduações nas áreas de biomedicina, nutrição e fisioterapia que tiveram nota 1 ou 2 no Conceito Preliminar de Curso (CPC) de 2010.

O indicador afere a qualidade da oferta do ensino em uma escala que vai de 1 a 5. As informações foram publicadas no Diário Oficial da União. O corte faz parte do processo de supervisão pelo qual passam esses cursos em função dos resultados insuficientes. A redução atinge 29 cursos de biomedicina (811 vagas), 50 cursos de nutrição (772 vagas) e 74 cursos de fisioterapia (1.211 vagas).

Desde que foram divulgados os resultados do CPC de 2010, o ministério já cortou mais de 7 mil vagas em faculdades que oferecem cursos consideradas de baixa qualidade. Além das áreas anunciadas ontem, também houve redução da oferta de vagas em medicina, odontologia e enfermagem. O MEC informou que pretende suspender, até o fim do ano, 50 mil vagas. As medidas também atingirão graduações de ciências contábeis e administração. Na avaliação do ano passado, 594 dos 4.143 cursos avaliados tiveram CPC 1 ou 2. A nota 3 é considerada satisfatória e CPCs 4 e 5 indicam que o curso é de boa qualidade.

As instituições de ensino terão um ano para cumprir as exigências do termo de saneamento de deficiências que será firmado com o governo. Após esse período, o MEC fará uma nova avaliação para verificar o cumprimento das exigências. Se as deficiências não forem corrigidas, as instituições poderão, ao fim do processo, ser descredenciadas pelo MEC.

(Agência Brasil)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A educação na agenda política - Antonio Jacinto Matias

A crescente preocupação com as condições do ensino brasileiro vem fortalecendo no país um movimento de busca de alternativas. No contexto dessa mobilização, alguns gestores públicos assumiram a liderança ao protagonizar mudanças importantes em suas redes de ensino, que já alcançam resultados. Contudo, são iniciativas recentes para mostrar impactos e suprir o desafio colocado.

Apesar do aparente consenso sobre a necessidade de priorizar medidas que melhorem a qualidade do ensino público no Brasil, as agendas econômica e política foram aos poucos obscurecendo os temas da educação. A morosidade na tramitação do novo Plano Nacional da Educação no Congresso Nacional, por exemplo, é um sinal claro de que o tema não recebe a importância devida na agenda política.

Dilemas como as obras da Copa, a pressão da inflação, a sempre conturbada cena política e a crise econômica global ameaçam nos afastar mais uma vez daquele que deveria ser o principal objetivo no campo das políticas públicas: a transformação da educação no país.

Vivemos nos últimos anos um período de bonança, fruto de políticas continuadas de estabilidade econômica que atravessaram diferentes governos desde meados dos anos 90 do século passado. Milhões saíram da pobreza, o Brasil viu nascer uma nova classe média e a economia se fortaleceu a ponto de ser um dos portos seguros de um mundo cercado de incertezas.

Mas boa parte do cenário não resistirá no futuro se não resolvermos este problema básico da vida brasileira: como se sabe, estamos longe de ocupar um posto de excelência no campo da educação no mundo.
Os resultados da Prova ABC, avaliação realizada pelo Todos pela Educação com crianças que concluíram o 3º ano do ensino fundamental, demonstram que há muitos desafios a serem superados. Apenas 56% dos alunos aprenderam o que era esperado em leitura para esse nível do ensino, 53% alcançaram o esperado em escrita e 42% em matemática.

O que mais chama atenção na pesquisa são as grandes desigualdades no aprendizado entre as várias regiões do país. No Nordeste, 43% das crianças apresentaram o conhecimento adequado em leitura para esse nível, ao passo que no Sudeste foram 62%. A mesma disparidade se verifica entre as redes pública e privada. Na média nacional, 74% dos alunos de escolas particulares demonstraram o conhecimento adequado para o seu nível, mas apenas 32% dos estudantes da rede pública estão nessa condição.

A superação dessas diferenças combinada à melhoria do ensino de forma mais equânime seguramente será uma tarefa árdua que exigirá dos governos vontade política, qualificação dos quadros de servidores da educação, bem como uma sinergia de toda a sociedade.

O aumento do investimento na educação básica não será suficiente para que o ensino público seja capaz de garantir o direito ao aprendizado a todas as crianças e adolescentes brasileiros se a gestão não for aprimorada. O conhecimento sobre o real custo de cada aluno na escola pública e a transparência sobre a distribuição dos recursos entre a educação básica e outros níveis de ensino é fundamental.

A qualidade da educação depende certamente do fortalecimento de suas instituições com o envolvimento das equipes técnicas dos estados e municípios. E o investimento no desenvolvimento de lideranças e na formação de quadros qualificados de gestores de todos os níveis da rede será determinante para garantir que os recursos possam gerar resultados.

Uma vez fortalecida a gestão, será possível aumentar a autonomia das escolas na administração dos recursos e na contratação de professores, medidas apontadas por especialistas como forma eficiente de melhorar a qualidade. Como contrapartida, o uso dos sistemas de avaliação para monitorar os ganhos de aprendizagem.

Também não se pode prescindir de uma gestão eficiente dos recursos humanos na educação que torne a carreira atrativa, por meio do estabelecimento de um sistema de meritocracia, formação inicial e continuada, com apoio específico e adequado a cada realidade.

Enfim, o caminho não passa por medida única, tampouco será rápido e livre de obstáculos. Mas para dar conta de todas as necessidades urgentes existentes hoje no sistema educacional é preciso ampliar, apoiar e universalizar as iniciativas positivas que vêm sendo tomadas para que a educação ocupe de fato o topo das prioridades na política nacional.

Vice-presidente da Fundação Itaú Social e do Conselho de Governança do movimento Todos pela Educação

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

José Clovis de Azevedo - O desafio do Ensino Médio

O Ensino Médio concentra os problemas mais graves da Educação Básica. Desde os anos 1930 que a então denominada educação secundária foi dividida em ensino propedêutico, formação geral voltada ao prosseguimento dos estudos, e educação técnica, com afunilamento profissional. Estabeleceu-se, na prática, o chamado sistema dual.

O ensino profissional para os alunos das classes menos favorecidas, e o ensino das letras e das ciências para os socialmente bem situados. Em 1971, a Lei 5.692 tentou quebrar essa dualidade, implantando compulsoriamente o ensino profissionalizante para todos. O caráter impositivo da medida e a ausência de condições materiais e intelectuais para a sua implantação determinaram seu insucesso. Desde então, o Ensino Médio perdeu a sua identidade, com resultados danosos para a juventude.

O diagnóstico desse nível de ensino revela-nos um quadro insustentável, com resultados que agridem a ética e os padrões mínimos de qualidade que se esperam de uma atividade pública financiada pelo esforço do conjunto da sociedade. Temos hoje na rede pública do Estado um índice de reprovação e abandono que reproduz a situação nacional, superior a 30%.

Ou seja, de cada mil alunos que ingressam, 300 são reprovados ou abandonam a escola. Significa que, dos aproximadamente R$ 2 bilhões que o Estado investe a cada ano no Ensino Médio, um terço perde-se no “ralo” do abandono e da reprovação. Mas mais grave que a perda material é a perda humana – os milhares de jovens que veem frustrados os sonhos de conquista de uma vida melhor pela educação.

Em tempo, o Conselho Nacional de Educação emitiu as novas diretrizes para o Ensino Médio, que irá orientar-se pelos eixos – Trabalho, Ciência, Cultura e Tecnologia – que deverão estruturar o currículo em quatro áreas: Linguagens e suas tecnologias; Ciências Humanas e suas tecnologias; Ciências da Natureza e suas tecnologias e Matemática e suas tecnologias.

Seguindo estas diretrizes, o governo do Estado colocou em discussão, desde setembro, uma ampla reforma curricular propondo um Ensino Médio que dialogue com o mundo do trabalho, embora não profissionalizante, e o Ensino Médio profissionalizante, com a educação profissional integrada à educação geral.

Esta proposta será implantada em três anos, oportunizando o amplo debate com comunidades escolares, entidades educacionais e, sobretudo, com o protagonismo dos educadores. O nosso objetivo é superar a desmotivação da nossa juventude e resgatar a identidade deste nível de ensino, possibilitando a formação de cidadãos globais humanizados e tecnicamente competentes.


José Clovis de Azevedo Secretário de Estado da Educação do RS

Pré-sal, ciência, tecnologia e educação

Artigo de Sérgio Mascarenhas publicado no jornal O Estado de São Paulo de hoje (28).

Enquanto governadores, deputados e senadores brasileiros se engalfinham num cabo de guerra político pela partilha federativa dos recursos a serem gerados com a exploração do petróleo da camada pré-sal, vai passando quase despercebida e mais uma vez negligenciada a oportunidade histórica de o País garantir o uso desses recursos para dar um salto inédito e há muito necessário nas áreas de ciência, tecnologia e educação.

Se não bastasse atentar para a dívida humana e social que representa o atraso brasileiro nos indicadores de desempenho educacional e nos rankings internacionais de pesquisa e desenvolvimento, vale notar que nenhum país poderá ter um real desenvolvimento, neste século, sem um programa robusto de impulso à inovação que passe, também, pela inclusão intelectual das novas gerações.

Um verdadeiro plano de desenvolvimento da ciência, tecnologia e educação no Brasil não poderá ser feito só com protocolos de intenções, redução da burocracia e fomento pontual a programas e instituições de excelência. Nosso problema não é a falta de instrumentos, é de recursos. Numa palavra, é preciso destinar mais dinheiro, muito mais dinheiro, para que o País possa irrigar essa cadeia de capital humano que começa nas creches, passa pelo ensino fundamental e médio até chegar nas universidades, programas de pós-graduação e centros de inovação associados a empresas capazes de aplicar tecnologias inovadoras na geração de riqueza.

A própria competência para explorar o petróleo do pré-sal e os serviços dele derivados, com autonomia e inteligência, em médio e longo prazos, depende da constante renovação e evolução dessa cadeia intelectual. Nunca o País precisou tanto de engenheiros, geólogos, físicos, químicos, cientistas da computação, matemáticos, entre

tantos outros profissionais cujo talento e formação se empregam em todas as etapas de geração e aplicação do conhecimento.

E não basta dar a esses futuros profissionais um diploma de nível superior. Será preciso, sim, investir na qualidade dessa formação, de modo que sejam dadas as condições para que possam inovar, gerar novas técnicas, processos e produtos intelectualmente apropriáveis e sustentar uma continuada e acirrada competição tecnológica com seus colegas norte-americanos, europeus e asiáticos.

Nas últimas décadas, os ciclos de produção e aplicação do conhecimento se encurtaram, levando a uma convergência temporal entre ciência e tecnologia. Enquanto foram necessários 40 anos desde o estabelecimento das leis da eletricidade e magnetismo até o funcionamento do motor elétrico, a tecnologia mais recente da luz laser, por exemplo, já encontrou utilidade no mesmo ano de seu invento.

Cada vez mais, produtos, processos e serviços tecnológicos têm vida curta, pressionados por um novo ciclo de inovação dentro de uma economia globalizada e com competitividade acelerada. Vale então perguntar: em que, exatamente, o Brasil tem se mostrado inovador? Até hoje, não temos um único Prêmio Nobel, nem científico nem literário. Se quisermos comparar, basta lembrar que a Universidade Rockefeller, de Nova York, sozinha, já recebeu 26 deles, e o mais recente na área da medicina. O fato é que nossos jovens nunca foram devidamente educados para uma cultura baseada em ciência e tecnologia.

Basta olhar em torno. Campos de pelada há em todo lugar, do centro às periferias. Carnaval fora de época, quase todo fim de semana. Já museus de ciência, planetários e bibliotecas são raros, e parecem cada vez menos procurados, assim como a própria carreira de professor, como mostrou estudo recente da Fundação Carlos Chagas. Para mudar isso, ciência e tecnologia precisam impregnar o sistema educacional. Nossa inovação deveria começar pelos métodos e processos de ensino. Ainda estamos longe da "escola parque" sonhada por Anísio Teixeira. Nossos redutos de educação ainda respiram um ar cartorial, com estruturas engessadas, onde a tecnologia é mal-empregada e crescem os impulsos ao bullying e à violência.

Nesse ambiente, os professores vivem uma espécie de síndrome de quatro medos: o medo do aluno, o medo do seu próprio desamparo pedagógico, o medo do conhecimento avassalador que jorra pela internet e o medo do futuro de sua carreira, desprezada não só pelo Estado, mas também pelos sistemas privados, com salários irrisórios e cargas didáticas intensas.

Mas não estamos perdidos. Há diversos bons exemplos de como virar esse jogo espalhados pelo Brasil. Um deles é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que aproximou a ciência e tecnologia do agronegócio nacional. Ainda falta popularizar a banda larga, informatizar escolas, disseminar o uso de computadores pessoais, criar centenas de museus e centros de ciência, promover o uso cívico das redes sociais e a produção de conteúdos educativos por agências multimídia, entre outras propostas que tive a oportunidade de apresentar durante a 4.ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, em 2010, em Brasília.

Agora, nossas esperanças repousam na angustiada solicitação da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para que parte dos recursos do petróleo do pré-sal seja destinada, em lei, para esses urgentes investimentos em ciência, tecnologia e inovação, formando o alicerce do desenvolvimento futuro do País. A meta deve ser, no mínimo, duplicar o volume de recursos investidos ao ano nessas áreas. Esse, sim, seria um verdadeiro salto de desenvolvimento do Brasil.

Sérgio Mascarenhas é físico, presidente honorário da SBPC, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e professor emérito do Instituto de Física de São Carlos, da USP.

A situação das universidades brasileiras

Artigo Wanderley de Souza publicado no Jornal do Commercio de 21 de novembro.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação em vigor (Lei No. 9.394 de 20/12/1996) dedica um capítulo especial ao ensino superior (capítulo IV) onde deixa clara a possibilidade desta modalidade de ensino ocorrer em "instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou especialização" (como especificado no substitutivo do Senado, Universidades, Centros de Educação Superior, Institutos, Faculdades e Escolas Superiores). Consequentemente, as instituições que desejam atuar no campo do ensino superior contam com múltiplas possibilidades de organização institucional. Na maioria das vezes, no entanto, preferem receber a denominação de universidade.

É fundamental que os Conselhos Nacional e Estadual de Educação, bem como o MEC, estejam permanentemente atentos no sentido de preservar o conceito internacional da denominação "Universidade". Esta instituição centenária foi criada para atuar, como explicitado na LDB, para "estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo" bem como "incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia e da criação e difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive".

Carlos Chagas Filho, pioneiro na atividade científica na universidade brasileira, definia universidade como "um centro de pesquisa, e porque pesquisa, ensina". Logo, uma verdadeira Universidade deve contar com um corpo docente de excelente formação, exercendo permanentemente uma atividade criativa nos mais variados campos do conhecimento, tendo participação ativa na formação de quadros de alto nível necessários, por um lado, para o avanço do conhecimento e, por outro, para o desenvolvimento do País.

No caso do Brasil, o Conselho Nacional de Educação e o MEC estabeleceram regras mínimas para que uma instituição possa ser considerada uma Universidade. Esta regra exige apenas que a instituição conte com pelo menos três cursos de pós-graduação em nível de mestrado e um de doutorado. A partir de 2013 haverá necessidade de quatro cursos de mestrado e dois de doutorado.

Estudo realizado recentemente por Antônio Freitas, que integra o CNE, tendo como bases os dados da Capes, verificou que cerca de 40% das universidades brasileiras não preenchem os requisitos mínimos mencionados acima. Algumas, inclusive, não contam com nenhum curso de pós-graduação, infringindo claramente a legislação vigente.

Algumas, mantidas por governos estaduais, chegam a ter a coragem de afirmar que, tanto o CNE como o MEC, não têm competência legal para legislar sobre a matéria. Esquecem que a própria LDB deixa claro no seu Título IV, Artigo oitavo, Parágrafo primeiro, que "caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas, e exercendo função normativa, xxxx"". Os Conselhos Estaduais atuam na área do ensino superior público por delegação do CNE.

Cabe ao MEC e ao CNE atuarem com rigor com o objetivo de preservar o conceito de Universidade em nosso país. Uma simples análise da produção de conhecimento no Brasil permite constatar que são poucas as instituições que, efetivamente, merecem ser consideradas como Universidades.

A grande maioria das instituições de ensino superior no Brasil se enquadra perfeitamente, e sem nenhum demérito, no conceito de Centro Universitário. Afinal, esta última instituição desempenha importante papel na formação de quadros profissionais nas mais diferentes áreas do conhecimento e que são importantes para o desenvolvimento do país. Elas podem ou não exercer atividade de pesquisa ou contarem ou não com cursos de pós-graduação, nada impedindo que venham posteriormente a se transformarem em Universidades.

Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ, diretor de Programas do Inmetro, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A USP e a corrosão do caráter

Artigo de Roberto Romano publicado no O Estado de São Paulo de hoje (23).

Acadêmicos brasileiros pouco afeitos à cultura imaginam que noções éticas, morais, científicas surgem apenas em textos considerados relevantes nas seitas universitárias. A preguiça e a pressa na publicação, unidas, logo brotam juízos "definitivos" sobre algum campo do pensamento. Assim ocorre com o tema antigo sobre a presença ou ausência de caráter nas pessoas. Os supostos pesquisadores consideram que o conceito de uma corrupção do caráter aparece com o sociólogo norte-americano Richard Sennett. Esse teórico, é certo, muito ajuda a entender a vida moderna. Seu livro sobre o caráter corrompido integra uma série de textos que narram, com olhar clínico, as mudanças e o estilhaçamento de valores na sociedade urbana ocidental. Com a flexibilização do trabalho e a insegurança resultante, temos a massa dos que perderam a confiança nos governos e nos mercados. Outra obra de Sennett indica a crise da sociedade e do Estado. Trata-se do monumental O Declínio do Homem Público. Ali, ele demonstra o quanto as formas do Estado foram enfraquecidas, após o século 18, em proveito das "intimidades tirânicas", os movimentos que prometem às minorias a defesa de seus direitos sem passar pelos mecanismos do poder público.

Baseando-se na "identidade" assumida pelos indivíduos, tais movimentos assumem formas repressivas das quais é quase impossível escapar. Antes de ser um cidadão, o sujeito pertenceria à sua "comunidade", cujas causas importam mais do que as coletivas. A primeira vítima da corrosão do caráter é a vida pública. Movimentos como os descritos por Sennett conduzem milhões às ruas para exercer pressão sobre a sociedade e o Estado. Mas pouco ou nada fazem diante de descalabros ocorridos na economia, no Judiciário, no Executivo, nos Parlamentos. A identidade maior deixa de ser a cidadania e se transfere para instâncias que defendem particularidades. Sennett respeita os referidos modelos intimistas, mas também mostra o quanto sua pauta é unilateral e autoritária, tiranizando seus adeptos. A corrosão do caráter é potencializada quando os grupos e indivíduos assumem o perfil da militância. O militante padrão, por mimetismo, sacrifica normas éticas, sociais e políticas em proveito de seu movimento, visto por ele como a fonte última dos valores. Todos os demais âmbitos seriam movidos por interesses escusos. A maior parte do material histórico e sociológico usado por Sennett vem dos EUA e da Europa.

No Brasil, temos um campo mais complexo. Aqui, longe de permanecerem distantes e hostis aos poderes públicos, lutando contra eles na concorrência para dominar indivíduos e grupos, movimentos sociais mantêm excelentes tratos com os governos e Parlamentos. Eles sabem aplicar ventosas nos cofres estatais (as ONGs...) de modo a expandir suas forças, mas guardam a retórica contrária ao Estado. A busca de verbas põe a militância ao dispor de partidos políticos hegemônicos. O militante exerce seu fervor de tal modo que, em pouco tempo, pratica o que suas doutrinas condenavam ou condenam. O militante, cujo caráter foi corroído, julga que os interesses sociais alheios à sua pauta são "burgueses", "abstratos", "conservadores". Ele se imagina autorizado a manter em lugares estratégicos oligarcas exímios na arte de roubar os cofres públicos. Na superfície, movimentos como a UNE (e suas subsidiárias) arvoram palavras de esquerda. Mas dão suporte às mais retrógradas forças políticas. Líderes estudantis que ontem lutavam contra a corrupção, ao subirem ao poder de Estado, guardam excelentes relações com oligarcas truculentos.

Entre as manifestações contra Fernando Collor e o realismo de hoje não existiria, para a esquerda oficial, nenhum elo. Os valores antes repetidos qual ladainhas são ditos "bravatas" pelos que aderiram à razão de Estado corrompida. A militância é processo corrosivo a ser notado em todas as profissões. Em todos os setores da vida social e política ela dissolve valores efetivos em prol dos dirigentes demagógicos e de suas alianças em proveito próprio.

A que assistimos na USP nos últimos dias? Lutas contra o arbítrio autoritário dos oligarcas? Denúncias de corrupção política (que lesa milhões de brasileiros em termos de educação, saúde, cultura, ciência e tecnologia)? Batalhas contra a falta de democracia nos grandes partidos, nos quais os dirigentes são donos das alianças, das candidaturas, dos cofres, sem ouvir as bases? Movimentos contra o privilégio de foro, algo que faz de nosso Estado um absolutismo contrário à República? A pauta dos militantes, professores e alunos é alienada em todos os sentidos, da marijuana ao populismo rasteiro. Militantes fazem sua revolução em escala micrológica contra o reitor, mas os dirigentes nacionais do movimento estudantil negociam apoio aos donos do poder, os verdadeiros soberanos.

Aviso aos bajuladores do petismo: a noção de caráter é velha como o saber humano e foi estudada, sobretudo, por um pensador "burguês", Immanuel Kant. Para ele, o caráter é "marca distintiva do ser humano como racional, dotado de liberdade". O caráter "indica o que o ser humano está preparado para fazer a si mesmo". Dentre as técnicas para a corrosão do caráter, as drogas são as piores. É irresponsabilidade ética afirmar que elas não prejudicam os usuários ou "ajudam a melhorar a imaginação nas artes e nas ciências". A leitura de pesquisas como a de Alba Zaluar, sobre a indústria das drogas, traria prudência aos seus apologetas nos campus. Militantes sempre ignoram e combatem a liberdade e a dignidade alheias, basta ver as multidões que apoiaram tiranias modernas, do fascismo ao stalinismo. Hoje, na USP, a militância aposenta a busca de "mudar o mundo". Sobram os coquetéis Molotov para a defesa do nada, da irrelevância absoluta, da morte.

Roberto Romano é filósofo, professor de Ética e Filosofia na Unicamp, é autor, entre outros livros, de "O Caldeirão de Medeia" (Perspectiva).

A pesquisa acadêmica e as políticas públicas no Brasil

Artigo de Luciano Mendes de Faria Filho enviado ao JC Email pelo autor.

No Brasil, a maior parte das pesquisas acadêmicas é financiada com recursos públicos. Em algumas áreas, como as ciências humanas e sociais, o financiamento público chega a quase 100%. De uma pesquisa assim custeada, espera-se que contribua para o entendimento e/ou solução dos grandes dilemas vividos pela população que a financia. Disse dilemas e não problemas, justamente para fugir da idéia de que o financiamento público só é legítimo para aquelas pesquisas que tragam soluções para os problemas do cotidiano da população. Afinal, como já dizia o poeta, "a gente não quer só comida..." e um sonho pode, tanto quanto a falta de comida, trazer à baila os grandes dilemas do humano.

Dito isto, é preciso reconhecer legítimo cobrar, também, que parte da pesquisa acadêmica, qualquer que seja a área esteja relacionada os problemas que afligem a população, notadamente aqueles problemas que são afetos aos direitos e deveres definidos por nossa Carta maior e que são objeto de atenção das políticas públicas. Ou seja, e legítimo cobrar que as pesquisas custeadas pela população por meio dos impostos não estejam voltada apenas para o atendimento dos critérios e modos de consagração acadêmicos. E, para isto, parte significativa da comunidade acadêmica brasileira está atenta.

Mas o problema que estamos enfrentando, hoje, no Brasil, é de outra natureza: o que se observa, muitas vezes, é a desconsideração, por parte dos gestores públicos, do conhecimento acumulado nas diversas áreas, conhecimento este que poderia ajudar a entender e resolver alguns dos graves problemas que afligem a nossa população. O debate público sobre o Código Florestal é disso um exemplo eloqüente e, infelizmente, não é o único. E olhe que nós estamos falando na mais importante instituição legislativa do país, que conta com uma assessoria técnica das mais competentes e bem pagas da República! Ou seja, não raras vezes o legislativo, o executivo e o judiciário brasileiros, atendendo a interesses muito pouco públicos (e publicáveis!), não se incomodam em ignorar aqueles conhecimentos já disponíveis, mas que contrariam os seus interesses e daqueles que os financiam.

Mas se o caso do Código Florestal é eloqüente, nem de longe é o único. Em artigo publicado aqui neste mesmo JC E-mail, defendi a idéia que não é por falta de conhecimento sobre a realidade educacional brasileira que as nossas escolas têm uma qualidade muito aquém do que nossa população merece. E não se trata apenas da escola pública. Boa parte da rede de escolas privadas no Brasil apresenta uma qualidade no mínimo duvidosa, apesar do alto custo que representa para as camadas médias que abdicaram do direito à educação pública. Afirmava, na ocasião, que existe um acúmulo muito grande de conhecimento sobre a escola brasileira, fruto sobretudo do que se produz nos Programas de Pós Graduação, mas que os mesmos não são mobilizados pelos operadores das políticas públicas para a área. Ou seja, há variáveis, notadamente políticas, que se interpõem entre o conhecimento disponível e as opções realizadas pelos gestores das políticas públicas.

Ainda no campo da educação, recentemente, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República mobilizou vários setores do Brasil e do exterior, inclusive um prêmio Nobel, para discutir e propor alternativas para as políticas para a primeira infância no Brasil. No entanto, o convidados, as discussões que se processaram no evento e que foram publicadas pela imprensa e a leitura dos textos de referência disponíveis no site do Seminário Cidadão do Futuro revelam que, estranhamente, a enorme produção que há, no Brasil, a respeito do tema, muitas vezes financiada pelo próprio MEC, foi totalmente ignorada. E não se pode dizer, ressalte-se, que seja porque ela não tem qualidade ou que não seja operacionável como política pública. Só pode dizer isto que não conhece o que se produz a respeito do atendimento à primeira infância na USP de Ribeirão Preto, na Fundação Carlos Chagas, na PUC do Rio, na Federal de Santa Catarina ou do Rio Grande do Sul, apenas para dar uns poucos e parcos exemplos da enorme comunidade acadêmica brasileira sobre o tema.

Um dos temas centrais do seminário, a necessidade integração das políticas para a primeira infância, tem sido sistematicamente estudada e defendida pelos pesquisadores da área de educação infantil no Brasil. Por que será que estes foram esquecidos na mesma proporção que foram muito lembrados os pesquisadores da saúde e da economia que estudam o mesmo assunto? Será que estaremos, agora, voltando aos anos 60 e 70 do século 20 e defendendo a medicalização da primeira infância e o investimento no capital humano desde criancinha ou às preconceituosas políticas compensatórias, tão criticadas entre nós desde os anos 70 pelo menos?

Se é legítimo cobrar que a pesquisa acadêmica financiada com recursos públicos ajude a responder os grandes dilemas e problemas que afligem a população que a financia, é legítimo também que a comunidade acadêmica cobre dos gestores públicos que levem em conta o conhecimento hoje disponível na operacionalização das políticas. Não é legítimo, assim, que as disputas e os interesses políticos divergentes entre os gestores públicos leve à ignorância do conhecimento produzido para melhorar a política pública ou que tais disputam acabem por reforçar doutas ignorâncias sobre a realidade brasileira, mesmo que estas sejam de um ganhador do prêmio Nobel!

Luciano Mendes de Faria Filho é professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil - 1822/2022.

sábado, 19 de novembro de 2011

Por que nossas firmas não inovam?

Um dos principais meios para aumentar o crescimento econômico de forma consistente ao longo de vários anos é por meio do crescimento da produtividade. Quando a produtividade cresce, o país produz mais com o mesmo nível de capital e trabalho, e assim sua renda per capita cresce mais rapidamente. Um dos principais problemas do Brasil nas últimas décadas tem sido o baixo crescimento da produtividade, que decorre, em grande parte, da baixa taxa de inovações das firmas brasileiras, apesar da existência de uma série de incentivos. Por que as firmas brasileiras resistem tanto a inovar?

O nosso problema com a produtividade vem de longa data. Pesquisas indicam que a produtividade agregada da economia brasileira vem caminhando a passos lentos desde meados da década de 70. Mais recentemente, entre 1995 e 2005, enquanto a produtividade no mundo avançava a uma taxa de 1% ao ano (mesma dos Estados Unidos) e 1,5% na China, no Brasil ela declinava 0,3% ao ano. Entre 2005 e 2008, o crescimento anual médio da produtividade foi de 4,1% na China e 2,3% na Índia, enquanto no Brasil ela declinou 0,8%. Há algo de errado por aqui.

Com relação às inovações, os dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica do IBGE (Pintec) mostram que a parcela de firmas inovadoras na indústria cresceu apenas 6,5 pontos percentuais nos últimos 10 anos, passando de 32% no período entre 1998 e 2000 para 38% entre 2006 a 2008. Pior ainda, a porcentagem de empresas do setor industrial que investem em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para gerar novas ideias e produtos, passou de 10% em 2000 para apenas 4,2% em 2008.

O mais surpreendente é que nós temos no Brasil um conjunto de leis que se destinam especificamente a financiar a inovação. Tanto a Finep como o BNDES tem vários programas para fomentar a inovação, subsidiando atividades de P&D, inclusive com recursos não reembolsáveis (a fundo perdido). Além disso, o governo federal tem introduzido várias leis nos últimos anos para tentar aumentar as inovações, sem nenhum efeito substantivo. Afinal, por que as empresas brasileiras resistem tanto a inovar?

Parece que no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, não é necessário inovar para sobreviver e crescer. Existem no Brasil fortes barreiras à competição, que fazem com que empresas ineficientes operem em todos os setores da economia. A falta de competição advém da dificuldade de abrir novas firmas e de obtenção de crédito barato para expansão das pequenas empresas existentes. Essas dificuldades são agravadas pelas políticas de favorecimento às grandes empresas, predominante no atual governo. O País protege e subsidia setores que precisariam de mais competição. O recente aumento do IPI para os veículos importados é um exemplo claro de política econômica equivocada nessa linha. Para as empresas que poderiam inovar, é muito mais fácil (e menos arriscado) gastar recursos para obter favores do governo (lobby) do que investir em P&D.

O outro fator que limita as inovações é a baixa qualificação da nossa mão de obra. A figura ao lado, por exemplo, mostra a relação entre a nota de matemática no Pisa (exame internacional realizado pela OCDE em 2009 com alunos de 15 anos de idade) e o número de aplicações internacionais para patentes na "World Intellectual Property Organization" (Wipo) para alguns países. A relação é bastante clara. Países como a Finlândia e Coreia do Sul têm sistemas educacionais de alto nível e, portanto, facilidade para lançar novos produtos e desenvolver novas ideias. Portanto, têm uma alta taxa de patentes. Por outro lado, países como o Brasil, Argentina, Colômbia e Peru estão na situação oposta.

Em suma, apesar das perspectivas sombrias pela frente, os Estados Unidos tiveram um crescimento de produtividade invejável nas últimas décadas, com lançamento constante de novos produtos, cujo maior ícone foi Steve Jobs. Enquanto isso, por aqui proliferam políticas anticompetitivas, com favorecimento a grupos específicos e empresas gastando recursos com lobby para entrarem no clube. Tudo isto é agravado por uma deficiência crônica de mão de obra qualificada. Por isso as empresas brasileiras não inovam.

Naercio Menezes Filho é professor titular da Cátedra IFB, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, e professor associado da FEA-USP.

Alunos analfabetos

Artigo de Frei Betto no Correio Braziliense de hoje (18).

No primeiro semestre deste ano, aplicou-se a Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) em turmas de alunos que concluíram o 3º ano do ensino fundamental, em todas as capitais do País. Uma iniciativa do movimento Todos pela Educação com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

O resultado é alarmante. Constatou-se que 43,9% dos alunos são deficientes em leitura e 46,6% em escrita. Ou seja, são semialfabetizados. Não captam o significado do que leem e redigem uma simples carta com graves erros de sintaxe e concordância.

Quanto à leitura, quase metade (48,6%) dos alunos da rede pública correspondeu ao resultado esperado. Na rede de escolas particulares, o desempenho foi bem melhor: 79%. No item escrita, tiveram bom resultado apenas 43,9% dos alunos da rede pública. Na rede particular, 86,2% dos alunos se saíram bem em redação.

Os índices demonstram que, no Brasil, a desigualdade social se alia à desigualdade educacional. Alunos da rede pública, oriundos, na maioria, de famílias de baixa renda, não trazem de berço o hábito da leitura. Seus pais possuem baixa escolaridade e o livro não é considerado um bem essencial a ser adquirido, como ocorre em famílias de renda mais elevada.

De qualquer modo, é preocupante o fato de alunos, tanto da rede pública quanto da particular, não atingirem 100% de alfabetização ao concluir o 3º ano do ensino fundamental. O que demonstra falta de método de alfabetização, embora esta seja a nação que gerou Paulo Freire.

Uma criança que, aos 8 anos, tem dificuldade de leitura e escrita sente-se incapaz de lidar com os textos de outras disciplinas escolares, o que prejudicará seu aprendizado. Uma alfabetização incompleta constitui incentivo ao abandono da escola ou a uma escolaridade medíocre.

É hora de se perguntar se a progressão automática, isto é, fazer o aluno passar de ano sem provar estar em condições, é uma pedagogia recomendável. Com certeza, no futuro, o adulto com insuficiente escolaridade não merecerá aprovação automática em empregos que exigem concurso e qualificação.

Priscila Cruz, do Todos pela Educação, frisa a importância da educação infantil (creches, jardim da infância etc.) para dar à criança uma boa alfabetização. Para que se desperte na criança a facilidade de síntese cognitiva é importante que ela comece a ouvir histórias ainda no ventre materno.

O Brasil é um país às avessas. A Constituição de 1988 cometeu o erro de incumbir a União do ensino superior; o estado, do ensino médio; e o município, do ensino fundamental. Ora, uma nação se faz com educação. E a base reside no ensino fundamental. Dele devia cuidar o MEC.

Nenhum governo implementou, ainda, a revolução educacional sonhada por Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, Paulo Freire e tantos outros educadores. Como acreditar que apenas quatro horas de permanência na escola são suficientes para uma boa educação? Por que os alunos não permanecem de seis a oito horas por dia na escola, como ocorre em tantos países?

No Brasil, 10% da população adulta é considerada analfabeta. No Chile, 3,4%. Na Argentina, 2,8%. No Uruguai, 2%. Em Cuba e na Bolívia, 0%. Outros fatores que contribuem para a semialfabetização são o desinteresse dos pais pelo desempenho escolar do filho e o longo tempo que este dedica à tevê e a navegar aleatoriamente na internet. Nessa era imagética, há o sério risco de se multiplicar o número de analfabetos funcionais ou de alfabetizados iletrados, aqueles que sabem ler, mas não interpretar o texto, e muito menos evitar erros primários na escrita.

O governo deve à nação uma eficiente campanha nacional de alfabetização, inclusive entre alunos dos 3º e 4º anos. Para isso, há que ter método. Há vários. Quem se interessar por um realmente eficiente, basta indagar do deputado Tiririca como ele se alfabetizou em dois meses, a tempo de obter seu diploma na Justiça Eleitoral.

Frei Betto é escritor.

Pesquisa cria 'superisopor' feito de metal

Pouco denso e muito leve, composto por níquel, o material também é elástico como a borracha, diz grupo nos EUA
O produto foi criado em pesquisa financiada por Boeing e GM e poderia ser aplicado em bateria ou como amortecedor
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON


Um novo tipo de material ultraleve, com um centésimo da densidade do isopor, combina a resistência dos metais com a elasticidade da borracha. O produto, criado em pesquisas financiadas pela Boeing e pela GM, promete aplicações que vão de amortecimento de choque a baterias elétricas sofisticadas.
Composto por hastes tubulares microscópicas de níquel, o material foi capaz de retomar 98% de sua forma original após ser comprimido a 50% de seu tamanho.

Cientistas dos Laboratórios HRL (centro de pesquisa que as duas empresas mantêm na Califórnia) descrevem essa microarmação metálica em estudo na revista "Science".

"A tabela periódica tem um número limitado de elementos, e e a ciência já está esgotando as possibilidade sobre o que é possível fazer com novas misturas e novas ligas metálicas", disse à Folha Tobias Schaedler, cientista autor da invenção. "O que estamos fazendo agora é levar a produção de material a um novo nível, no qual aproveitamos materiais sólidos e ligas maciças, mas os estruturamos de maneira ordenada."

A nova microarmação de níquel, que possui detalhes microscópicos e nanoscópicos (da escala de milionésimos de milímetro) é feita a partir de um material especial, um tiol, polímero líquido que vira sólido ao ser irradiado com luz ultravioleta.

Desenhando uma armação com raios luminosos dentro de um tanque, os cientistas despejam o tiol no recipiente, e a substância se solidifica onde os feixes de luz correm, formando micro-hastes.
Depois, os cientistas as recobrem com níquel e retiram polímero de dentro, restando só a armação oca de microtubos de metal.

Apesar de ser altamente resistente, 99,99% do produto é puro ar, por isso fica tão leve -só 0,9 miligramas por centímetro cúbico. Segundo os cientistas, todo esse vazio torna o material interessante também em placas de isolamento acústico e térmico.

Schaedler diz que a Boeing e a GM já estão utilizando o material em projetos novos, mas ainda não pode revelar quais são. "Você pode imaginar que um material tão leve seria extremamente útil dentro de qualquer coisa que voe", diz o cientista.

A microarmação de níquel superou tentativas anteriores de fazer materiais com as mesmas propriedades. Espumas metálicas e um gel sólido de sílica, por exemplo, conseguiram obter densidades até menores, mas foram esmigalhados quando submetidos à mesma pressão.

Schaedler diz que ainda não sabe exatamente quanta pressão o novo material aguenta, porque os testes iniciais se concentraram no estudo de elasticidade.

"É claro que nossa microarmação de níquel não é tão resistente quanto blocos maciços do mesmo metal, mas ela perde muito pouco da resistência se comparada a espumas metálicas, que têm estrutura aleatória."
Ele afirma que a inspiração para as microarmações veio, em parte, da arquitetura.

"Grandes edificações, como a Torre Eiffel, são muito fortes e muito leves graças à qualidade do projeto de suas estruturas arquitetônicas."

"Nós estamos tentando usar esse conceito agora ao estruturar materiais na escala micrométrica e nanométrica", disse o pesquisador.

Por que professor ganha menos que executivo? - KLAUS SCHWAB

As críticas ao capitalismo aumentaram muito nos últimos meses. Movimentos de protesto, como o "Occupy Wall Street", expressam indignação com os excessos dos banqueiros, que, segundo os manifestantes, são os principais culpados pela atual crise econômica - mas, aparentemente, não estão sendo responsabilizados.

Crescente número de vozes, de várias esferas da sociedade, está demonstrando a sua solidariedade às atividades contra o capitalismo, um reflexo da frustração generalizada dos cidadãos. E por boas razões: porque até agora foi o contribuinte - o cidadão médio - que teve de pagar pela crise econômica e pelas dívidas nos Estados Unidos e na Europa. Aumento do desemprego, mais impostos e cortes nos sistemas de bem-estar e de saúde nos trouxeram à beira de uma crise social.

Sem dúvida, esses protestos contra o capitalismo conseguiram captar a essência dos nossos tempos. Mas não basta simplesmente condená-lo por seus inegáveis excessos. Precisamos fazer uma análise mais profunda do sistema capitalista e por que, em sua atual forma, ele não se encaixa mais no mundo ao nosso redor.

Quando a crise começou, em janeiro de 2009, durante minha palestra de abertura em Davos, eu disse: "Hoje, as pessoas ao redor do mundo estão me perguntando como foi possível tomar decisões - baseadas em ganância ou incompetência e sem nenhuma fiscalização efetiva - que tiveram consequências terríveis, não somente para a economia global, mas também para pessoas reais, que perderam suas aposentadorias, suas casas e seus empregos. Essas pessoas estão desnorteadas, confusas e com medo e raiva".

Naquela época, o mundo esperava que a crise fosse produzir uma reavaliação básica do comportamento de executivos de alto escalão no mundo dos negócios, em especial no setor de serviços financeiros. Depois de praticamente três anos, ainda não aprendemos com os erros do passado. O sistema que nos levou até essa crise é obsoleto, e não é de hoje. A crise não será superada no longo prazo se continuarmos renegando a necessidade de revisar o sistema. O capitalismo precisa ser reformulado, por três motivos:

O capitalismo é desequilibrado. O uso do capital virtual para especular aumentou muito e de maneira desproporcional comparado com o capital real, e está fora de controle. Precisamos de transações financeiras para equilibrar os riscos, mas não transações especulando sobre a própria especulação.

O sistema original capitalista apresentava uma divisão clara: entre o empreendedor, que suportava o risco do investimento, cuja recompensa é o lucro; e o executivo, cuja tarefa profissional é garantir o futuro da empresa no longo prazo e proteger os interesses de todas as partes interessadas. Com um sistema de bônus excessivo, o executivo alia-se aos interesses dos proprietários do capital, desvirtuando o sistema. Este é o problema fundamental da situação hoje: os salários excessivos corroeram a ética empresarial dos executivos.

O capital deixou de ser um fator decisivo para a produção, na atual economia global. Ideias inovadoras ou serviços intangíveis estão ocupando o espaço das vantagens competitivas, reduzindo a importância do capital. Além disso, com padrões de vida em ascensão, o foco geral está mudando de quantidade para qualidade. O sucesso econômico, no futuro, não será mais decidido pelo capital, mas pelo "talento" como fator de produção. Então, nesse sentido, estamos migrando do capitalismo para o "talentismo".

As demonstrações que estão ocorrendo ao redor do mundo são perigosas quando usadas como meio de iniciar uma guerra entre as classes sociais. Precisamos de novos impulsos que nos levem a reavaliar a situação e implementar as ações corretivas necessárias para remediar o sistema. Devemos converter o capitalismo de volta a uma economia de mercado social. Como o passado demonstrou claramente, outros sistemas econômicos, como o socialismo doutrinário, não oferecem alternativas viáveis. Ponto-chave de uma tal reforma precisa ser a redução dos excessos de produtos financeiros e da participação de executivos nos lucros.

Acima de tudo, o trabalho do executivo deve voltar a ser um posto profissional. Algumas empresas justificam o pagamento de salários e prêmios estratosféricos pelo fato de o talento ser frequentemente o principal fator de sucesso. Porém o talento não é importante apenas na profissão do executivo, mas em qualquer emprego.

Por que um professor excelente deveria ganhar menos que um executivo? Por que um cirurgião reconhecido mundialmente deveria ganhar menos que o CEO de uma empresa global?

Num mundo ideal, todos devem ganhar de acordo com sua responsabilidade e seu desempenho. A maior motivação profissional deve ser a vocação - não somente o desejo de lucrar. Medidas para diferenciar executivos de pessoas que correm riscos também devem reprimir transações financeiras em que os lucros beneficiem apenas os indivíduos envolvidos, enquanto os riscos são coletivos e o contribuinte acaba pagando a conta quando tudo der errado.

Outro princípio orientador importante na reforma do nosso sistema econômico é o conceito de partes interessadas, que defini pela primeira vez há mais de 40 anos. O conceito de partes interessadas assume que a empresa é uma comunidade social de muitas partes diferentes - ou seja, diferentes grupos sociais que estão ligados direta ou indiretamente pela empresa. O objetivo de uma liderança responsável é garantir o sucesso no longo prazo e a viabilidade da companhia e, assim, atender a todos os intervenientes, não somente aos interesses de curto prazo dos acionistas.

Em suma, precisamos avançar do capitalismo excessivo para uma economia de mercado em que a responsabilidade e as obrigações sociais não sejam palavras vazias.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Cresce número de jovens que priorizam o trabalho

Mais pessoas entre 18 e 22 anos têm deixado estudos de lado, mostra PNAD
Economia aquecida pode ter contribuído para decisão de buscar emprego antes de pensar na faculdade
ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO



Leticia Moreira/Folhapress
Vinicius Lima, 19, que trabalha no HSBC
Vinicius Lima, 19, que trabalha no HSBC

Uma parcela cada vez maior de jovens entre 18 e 22 anos tem engavetado ou abandonado os planos de estudo para apenas trabalhar.

Entre os homens dessa faixa etária, mais da metade já se dedica exclusivamente ao trabalho -o percentual aumentou de 46,8% em 2001 para 51,1% em 2009. Já as mulheres que só trabalham representavam 31% do total em 2009 contra 27,5% em 2001.

Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e foram levantados pelo economista Naercio Menezes Filho, do Insper.

Segundo especialistas, o fato de que mais jovens têm conseguido terminar a escola com a idade de 17 anos ajuda a explicar essa tendência. A fatia de alunos "atrasados" cursando o ensino médio caiu de 52,2% do total em 1992 para 32,9% em 2009.

"Se o jovem tem 18, 19 anos e ainda está no ensino médio pode ter de adiar os planos de trabalhar ou acabar conciliando estudo e trabalho", diz Menezes Filho.

ECONOMIA AQUECIDA
O crescimento mais acelerado da economia brasileira nos últimos anos pode estar contribuindo para a decisão dos jovens de ir direto da escola para o mercado de trabalho, pulando -ainda que temporariamente- a etapa da faculdade.

O contexto de maiores oportunidades de negócios foi, por exemplo, um dos fatores que levaram Filipe Travassos da Silva, 22, a assumir o negócio de terraplenagem do pai, que queria se aposentar. Ele tinha feito um curso de tecnólogo em informática.

"Eu sempre quis me tornar independente, ter meu próprio dinheiro", diz Silva, que considera fazer um curso curto de empreendedorismo, mas não cursar faculdade.

Há casos, no entanto, de jovens que não estão no ensino superior por falta de dinheiro.
"Eu queria fazer publicidade, mas não tinha dinheiro para pagar ", afirma Vinicius Sampaio Lima, 19.
Lima, que terminou o ensino médio com 18 anos e está trabalhando na área de expedição do HSBC, não tentou entrar em uma universidade pública. Ele espera conseguir juntar dinheiro para pagar um curso de fotografia.

Rodrigo Capelato, diretor do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), afirma que, com a expansão da classe média e o aumento de vagas em faculdades privadas, a procura por cursos até aumentou.

"Mas uma fatia grande de alunos acaba trancando o curso porque não consegue pagar a mensalidade ou porque escolhe o curso que pode pagar, mas não se identifica com o mesmo", diz ele.
Yasmin Hussein Chamas, 19, diz que tem vontade de estudar psicologia, mas ouve dizer que "não dá grana". Ela trabalha em uma empresa de telemarketing.


PREOCUPAÇÃO
O afastamento entre os jovens e o ensino superior preocupa especialistas. O problema é agravado pelo fato de que também tem aumentado o percentual de jovens de 18 a 22 anos que não está nem estudando nem trabalhando.
"Os dados são assustadores. Essa é a faixa onde as pessoas estão em seu curso universitário. E as empresas buscam pessoas cada vez mais bem formadas", diz José Tolovi Jr., CEO global da organização Great Place to Work.


Análise

Abertura da economia nos anos 1990 teve efeito sobre os empregos no Brasil

JOSÉ MÁRCIO CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A abertura da economia à concorrência internacional na década de 90, ao mesmo tempo em que aumentou a produtividade e a competitividade da economia nacional, teve um efeito importante sobre o mercado de trabalho brasileiro.

A redução de tarifas de importação e a eliminação de barreiras não tarifárias geraram aumento de produtividade, forte queda nos preços dos produtos industriais e levaram a um aumento das importações desses bens.

Com isso, muitos setores que sobreviviam devido aos elevados níveis de tarifas e de restrições não tarifárias às importações desapareceram. A redução dos preços dos bens de capital incentivou o aumento dos investimentos.

Inovações tecnológicas que normalmente vêm incorporadas aos bens de capital foram introduzidas na economia. Setores que tinham vantagens comparativas claras, como a agroindústria, contudo, tiveram bom desempenho no período.

Tais mudanças geraram bem-estar para a sociedade brasileira, mas tiveram efeitos importantes sobre o mercado de trabalho do país.

MUDANÇAS
A demanda por algumas ocupações desapareceu, enquanto outras se tornaram escassas. Como é muito oneroso requalificar trabalhadores adultos, a taxa de desemprego deles aumenta.
Não obstante, a adaptação da estrutura de oferta de qualificação depende de trabalhadores que se qualificam nas ocupações cuja oferta é escassa, o que aumenta as chances de terem sucesso no mercado de trabalho.

Esta nova geração de jovens, com mais acesso à educação e qualificação, começou a entrar no mercado de trabalho em 2000 fazendo com que a proporção de profissionais entre 17 e 22 anos que só trabalhavam aumentasse, como mostra o IBGE.


Ao mesmo tempo, o índice de jovens de 15 a 17 anos que só estudam, e que estudam e trabalham, também subiu.

O resultado, por fim, indica que uma parte importante dos jovens brasileiros continua a acreditar no investimento em capital humano como forma de ascensão social. Um bom sinal.

JOSÉ MÁRCIO CAMARGO é professor do Departamento de Economia da PUC/Rio e economista da Opus Investimentos

Magistério, uma profissão em extinção?

Artigo de Luciano Mendes de Faria Filho enviado ao JC Email pelo autor.

Acabou-se o mês de outubro, tradicionalmente dedicado ao professor, mas o drama destes profissionais e da educação brasileira continua. E, em vários atos:



1º Ato: levantamento do professor João Waldir, coordenador do Colegiado Especial das Licenciaturas da UFMG, uma das maiores universidades do País, mostra que em 1990 "em 2000, dos 17 cursos mais concorridos, seis formavam professores. Em 2012, não há um único curso de licenciatura entre os 15 mais concorridos. Há dez anos, Biologia, História, Pedagogia e Educação Física tinham mais de 20 candidatos por vaga; atualmente, eles têm, respectivamente, 3,5; 4,8; 3,0 e 2,1. Mantida a atual tendência, em cinco anos não teremos candidatos aos cursos de Licenciatura."



2º Ato: "Se eu ganhasse R$712,00 eu ia ser servente de pedreiro", fala de Flávio Castro, do assessor do Lider do Governo na ALMG, aos professores em greve.



3º. Ato: "Mas você é tão inteligente, porque vai fazer licenciatura?", fala que os alunos de graduação ouvem de seus professores de vários departamentos das universidades pelo Brasil afora.



4º Ato: "Antes de mais nada, os relatos deixam claro que as alunas tiveram de vencer o preconceito de suas famílias e de seu meio social mais amplo em relação ao curso de Pedagogia. Via de regra, esse curso não é visto por parentes e amigos como adequado ao perfil social e escolar relativamente alto das alunas." Trecho do texto 'O gosto e as condições de sua realização: a escolha por pedagogia entre estudantes com perfil social e escolar mais elevado', de Claudio Marques Martins Nogueira e Flávia Goulart Pereira, publicado na revista Educação em Revista, em dezembro de 2010.



Ao longo do século XX não foram poucos aqueles que apostaram que as novas tecnologias, do rádio à internet, acabariam por substituir os professores no cotidiano das salas de aula. Neste vaticínio, o magistério acabaria pois os professores seriam substituídos pelas máquinas. O auge desta utopia pode ser vista no filme Matrix em que as pessoas aprendem por meio de uma conexão com o computador! No entanto, ninguém jamais imaginou que a profissão poderia acabar porque as novas gerações deixariam de escolhê-la como uma maneira de ganhar a vida e de contribuir para o desenvolvimento social. Pois não é que no Brasil estamos em vias de ver isto ocorrer?!



Findado o mês dos professores, talvez devêssemos perguntar o que estamos, de fato, fazendo para que o magistério volte a atrair as novas gerações. E, convenhamos, nós somos criativos o suficiente para isto! Vejam, por exemplo, o que fizemos para resolver a falta de engenheiros no país: aumentamos o número de vagas nas universidades, prometemos aos jovens enviá-los para estudar nas melhores universidades do mundo com bolsa pagas pela população brasileira, remuneramos seus estágios dignamente, aumentamos os seus salários, mostramos na mídia a contribuição deste profissional para o desenvolvimento econômico e social do país etc. E aos futuros professores, o que nós todos, como sociedade, e não apenas o Estado brasileiro, prometemos? Cursos em faculdade particulares com duvidosas condições de ensino-aprendizado; um estágio de R$500,00 por 6 horas de trabalho diário; um salário de R$1.187,00 por uma jornada de 40 horas semanais; o escárnio da família, dos seus professores e colegas; e um bom lugar no céu! Amém!



Luciano Mendes de Faria Filho é professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil - 1822/2022.



Uma versão deste texto foi publicada sábado (12), no jornal Hoje em Dia de Belo Horizonte.