Quando imaginamos um líder, características como conhecimento, ousadia, educação e carisma vêm à mente. Mas será que isso se aplica ao líder de um cardume de peixes ou um bando de zebras, onde um animal determina o comportamento de todo o bando? A novidade é que dois pesquisadores demonstraram que, para uma população se dividir em líderes e liderados, basta que exista uma pressão evolutiva que favoreça a ação conjunta do grupo. Para surgirem líderes, os animais sequer precisam se comunicar.
Para simular o surgimento de líderes, cientistas construíram modelos matemáticos baseados em um jogo conhecido entre os teóricos como "guerra entre os sexos". Imagine um casal em que ambos desejam encontrar o parceiro todas as noites, mas estão impedidos de se comunicar. A única coisa que o homem sabe é que a mulher gosta de ir todas as noites ao bar A. E a única coisa que a mulher sabe é que o homem gosta de ir todas as noites ao bar B.
Se a cada noite ambos forem aos seus bares preferidos, nunca irão se encontrar. Se ambos abrirem mão de seu bar preferido e forem ao bar do parceiro, tampouco vão se encontrar. Para haver um encontro é necessário que um seja turrão e não abra mão de sua preferência e o outro abra mão de seu bar.
Agora imagine que o casal pratica esse jogo todas as noites e a única informação que cada um dispõe para decidir onde ir na noite seguinte é o comportamento do parceiro na noite anterior. Se o incentivo para o casal se encontrar todas as noites for alto (eles se amam), a melhor estratégia para o par é que um se torne o líder (vá ao bar que prefere) e o outro se torne liderado (vá ao bar preferido pelo parceiro). Com essa estratégia eles se encontrarão todas as noites (e serão felizes para sempre).
Nesse jogo, líder e liderado não precisam se comunicar para definir seus papéis, mas é preciso que um dos membros seja turrão e o outro, mais compreensivo, de modo que o objetivo dos dois (namorar) seja atingido. O turrão se tornará o líder, o outro, o liderado.
Usando esse modelo, extrapolando essas condições para populações grandes em que essas interações ocorrem de maneira repetitiva, e imaginando que o sucesso reprodutivo de cada membro é proporcional à sua capacidade de encontrar o parceiro, os cientistas construíram modelos matemáticos capazes de simular, variando os diferentes parâmetros, o surgimento de líderes e liderados. O resultado mostra que a partir de uma população homogeneamente "turrona", basta ocorrer uma mutação que aumente ou diminua o grau de intransigência de um membro para que em poucas gerações a população se divida em poucos líderes e muitos liderados.
A velocidade com que essa mudança ocorre depende de dois fatores. Primeiro, quão vantajoso para o grupo é a ação conjunta; segundo, qual o grau de frustração que o liderado tem de tolerar para seguir o líder. Se uma zebra sempre for morta pelo leão ao não acompanhar o grupo, os genes "separatistas" dessa zebra serão rapidamente eliminados. O mesmo ocorre com o rapaz que se recusa a ir ao bar aonde vão todas as moças.
O interessante é que nesses modelos a população rapidamente se agrupa em dois grupos e os intermediários, que a cada noite assumem papel diferente (um dia se comportam como líderes, outro como liderados), ficam em tamanha desvantagem que são eliminados após poucas gerações.
Esses modelos matemáticos demonstram que líderes podem ser selecionados independentemente de inteligência, ousadia ou carisma. Basta ser mais turrão que a média. Claro que nas sociedades humanas e em outros animais sociais as interações são muito mais complexas e outros fatores influenciam a seleção dos líderes. Mas é interessante pensar que talvez essas formas sofisticadas de liderança tenham evoluído a partir de sistemas relativamente simples.
Se por um lado isso explica por que líderes têm opiniões fortes e muitas vezes são intransigentes, o modelo também ajuda a entender matematicamente por que certos bares, quando na moda, atraem grande número de pessoas, enquanto é comum encontrar um estabelecimento mais confortável e vazio ao lado.
BIÓLOGO
MAIS INFORMAÇÕES: EVOLUTION OF PERSONALITY DIFERENCES IN LEADERSHIP. PNAS, VOL. 108, PÁG. 8.373, 2011
Concordo com a tese de que o grupo sob uma pressão evolutiva irá se dividir entre líderes e liderados, mas não concordo quando é afirmado que nesse processo não é preciso comunicação. O posto do líder é conquistado por autoridade ou pelo poder. No caso dos animais, é notório que ĺíder é o mais forte do bando, nesse caso, a liderança é adquirida pelo poder. Já nós humanos, utilizamos também o poder para liderar, mas essa liderança só funciona no começo, pois os relacionamentos ficam enfraquecidos e líder caí logo em seguida. A verdadeira liderança é baseada na autoridade conquistada com respeito, tolerância, cuidado e amor. Não julgo ser possível definirmos a quantidade de líderes somente via um cálculo matemático, visto que a habilidade de liderar pode ser aprendida e o processo de comunicação é fundamental para tal desenvolvimento.
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