A falta de engenheiros para tocar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e demais investimentos que vão garantir o crescimento da economia nos próximos anos elevou a oferta de cursos à distância.
De 2007 a 2009, mais do que quadruplicou a quantidade de alunos de engenharia nessa modalidade -de 1.724 para 8.596.
Eles recebem material impresso de apoio, têm aulas por plataformas da internet, participam de fóruns virtuais e podem tirar dúvidas on-line. Periodicamente, têm que comparecer a polos de ensino presencial para atividades práticas e provas.
A formação de engenheiros à distância, no entanto, não é consenso entre profissionais da área, que questionam essa forma de ensino para uma atividade que é essencialmente prática.
Na única universidade autorizada pelo MEC (Ministério da Educação) a ensinar engenharia civil à distância, as aulas práticas acontecem um final de semana por mês.
A favor desses cursos pesam o menor custo, a facilidade e a rapidez. Enquanto numa faculdade privada tradicional de São Paulo o aluno tem que desembolsar R$ 1.400 por mês, a mensalidade do curso de engenharia civil à distância sai por cerca de R$ 600, com desconto para quem paga em dia ou já tem outra graduação.
Para o presidente do Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) do Paraná, Álvaro Cabrini, o grande problema que o país vai enfrentar diante da escassez de profissionais de engenharia é justamente a qualidade do ensino.
Crítico da formação em engenharia à distância, diz que "as pessoas estão preocupadas com quantidade e não qualidade". "Talvez seja melhor ficar distante das obras desses engenheiros", afirma.
O apagão era previsto em levantamento feito pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em 2006.
Na terça-feira (1/2), o Ministério do Desenvolvimento anunciou um levantamento da oferta de profissionais, a ser iniciado em julho.
A busca pelos cursos regulares de engenharia cresceu 67% entre 2004 e 2009, segundo o Ministério da Educação -o número de concluintes passou de 33 mil para 55 mil. Esse aumento do interesse ocorreu após quase duas décadas de estagnação.
Existe, porém, uma dispersão desses profissionais. Dos 55 mil engenheiros formados em 2009, as entidades do setor estimam que só 32 mil passaram a atuar na área.
Para o assessor especial da CNI/Senai e vice-presidente da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), Marcos Formiga, há muito "preconceito" no Brasil em relação a esses cursos. "É fácil entrar, mas é difícil sair porque há uma exigência forte na avaliação."
Segundo ele, a ferramenta foi utilizada com sucesso em países como Coreia e Reino Unido. Mas admite que é preciso "maturidade" do aluno para se dedicar às aulas.
Profissional será rejeitado, diz sindicato
Apesar da falta de profissionais disponíveis no mercado, "as construtoras não vão querer funcionários de cursos à distância", afirma o vice-presidente de relação capital-trabalho do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) de São Paulo, Haruo Ishikawa.
Segundo ele, os cursos tradicionais já "são preocupantes" e "deficientes" na formação prática.
"O número de estagiários nas grandes incorporadoras nunca foi tão grande. A gente vê que o aprendizado prático é baixo." Por isso, diz, "curso à distância se torna péssimo para o setor".
Diego Argentino, da coordenação do Ceit (Centro de Engenharia e Inovação Tecnológica), parceiro da Universidade de Uberaba na oferta de curso de engenharia à distância, diz que os alunos nessa modalidade aprendem mais.
"No ensino presencial, o aluno senta e anota. Na educação à distância, ele tem que ir atrás, pesquisar, e acaba fixando melhor." Ele cita que atividades práticas são oferecidas em um final de semana por mês.
De acordo com Argentino, o perfil do aluno de curso à distância também é diferente, com predominância de profissionais que já estão no mercado.
(Sheila D'Amorim e Angela Pinho)
(Folha de SP, 2/2)
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