sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Novo escolhido para a Ciência possui perfil técnico

SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULO


A escolha do físico Marco Antonio Raupp para comandar o Ministério da Ciência e Tecnologia mostra uma preferência da presidente Dilma Rousseff por um perfil técnico e gerencial para a pasta.Raupp carrega no seu currículo passagens pelo comando do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e da AEB (Agência Espacial Brasileira). Também é pesquisador-titular do LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica).Foi presidente da SPBC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), principal entidade científica do país. É a SBPC que encabeça as discussões correntes sobre a política científica e tecnológica, e atua como uma espécie de interlocutor entre os cientistas e o governo.Mas foi na AEB que Raupp ganhou mais projeção. À frente da instituição nos últimos dez meses, onde esteve por indicação de Aloizio Mercadante, Raupp tentou fazer uma espécie de "varredura".A missão dele era sincronizar o complicado calendário espacial brasileiro, que coleciona atrasos no envio de satélites nacionais e está distante do setor privado. "Falta uma Embraer no setor espacial", ele costumava dizer.Uma das ideias mais ousadas do físico ao sair do Inpe para assumir a AEB foi tentar unir as duas instituições. Para Raupp, não faz sentido o país ter uma instituição para fazer pesquisa, formar pessoas e projetar satélites (o Inpe) e outra para coordenar a política espacial (a AEB).Do ponto de vista acadêmico, Raupp também tem um currículo denso. Fez doutorado em matemática na Universidade de Chicago e é livre-docente pela USP.Também foi professor adjunto da UnB (Universidade de Brasília) e professor do IME (Instituto de Matemática e Estatística) da USP.Além de sua ligação com a pesquisa espacial, Raupp gosta de assuntos ligados à inovação. Ele segue a linha de Mercadante na tentativa de ligar o setor acadêmico ao privado.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Enem se firma como atalho às federais

Autor(es): MARIANA MANDELLI
O Estado de S. Paulo - 16/01/2012

Por meio do Sistema de Seleção Unificada, 108.527 estudantes usam nota do Enem e obtêm vaga em 95 universidades e institutos federais do País


A maior edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aprovou, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), 108.527 candidatos em 95 universidades e institutos federais de ensino superior de todo o Brasil. Com um histórico de falhas, as inscrições do Sisu deste ano ocorreram normalmente. O número de calouros equivale a dez vezes o total de vagas anuais da Universidade de São Paulo (USP) e a mais de 31 vezes o que a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) oferece em seu vestibular.

Os dados da primeira chamada do Sisu mostram a força da Região Sudeste. O Rio foi a unidade da federação com o maior número de inscrições: 381.721. Minas Gerais, com 367.259, e São Paulo, com 292.742, aparecem a seguir.

O curso mais concorrido também está na região: é o de Administração no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), com 1.248 candidatos para cada uma das oito vagas.

O Cefet-MG também é dono da segunda e quarta carreiras mais desejadas: Engenharia de Produção Civil (874 candidatos por vaga) e Letras (511), respectivamente - de todos os cursos, nenhum registrou menos de seis interessados por cada vaga disponível.

Já o curso que registrou o maior número absoluto de inscritos, com mais de 21 mil pessoas, foi Análise e Desenvolvimento de Sistemas, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). O segundo lugar também é paulista: Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do ABC (UFABC), com mais de 19 mil interessados em cursá-lo.

Nordeste. Apesar dos números impressionantes da Região Sudeste, foi uma instituição nordestina que registrou o maior número - quase 172 mil - de inscrições: a Universidade Federal do Ceará (UFC). Entre as suas 4.197 vagas distribuídas em mais de 100 cursos, foram as de Administração as que registraram o maior interesse.

Outro destaque do Nordeste vai para a Universidade Federal do Piauí (UFPI), terceira colocada - está atrás da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - no número de inscritos: quase 130 mil. Pedagogia, com 15 mil interessados, foi o curso mais procurado.

Para entender a dimensão do maior processo seletivo para o ensino superior do País, veja ao lado o raio X do Sisu preparado pelo Estado.

José Maria Alves da Silva - A educação entre o MEC e o MCT

Transferir o ensino superior para a pasta de Ciência enfatiza a preparação só para o mundo do trabalho, em detrimento da política, da filosofia e das artes



O senador Cristovam Buarque é autor de um projeto que propõe a transferência das instituições federais de ensino superior do Ministério da Educação (MEC) para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). As justificativas apresentadas pressupõem vantagens em direcionar o foco do MEC para a educação básica. O MCT ficaria responsável por gerir o ensino superior.

Segundo o autor, a mudança produziria um desejável equilíbrio entre o MEC e o MCT em termos de importância orçamentária e de estruturas administrativas. Ele afirma ainda que não existiriam gastos públicos adicionais, bastando remanejar funcionários entre os dois ministérios já existentes.

A proposta foi discutida e amplamente rejeitada pelos participantes do seminário "Ciência e tecnologia no século 21", que foi realizado em Brasília, em novembro. O Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes-SN), que organizou o evento, também já havia analisado o projeto e levantado várias objeções.

A nosso ver, o espírito do projeto reflete uma concepção estreita da educação. Ela enfatiza a preparação do homem para o mundo do trabalho, em detrimento de outras dimensões da vida.

Assim, se for aprovado, o projeto irá contribuir para ampliar o já grande viés tecnológico das universidades brasileiras. Por causa dele, estão sendo formados profissionais de nível superior que são até competentes tecnicamente, mas que, em geral, têm formação ruim em outros campos do saber, como a política, a filosofia e as artes.

Esse tipo de "carência educacional" faz com que a contribuição da tecnologia para o desenvolvimento econômico seja anulada pela deficiência ética de engenheiros, médicos, políticos e até mesmo professores e magistrados -os juízes que vendem sentenças também saíram das melhores universidades e passaram em disputadíssimos concursos públicos.

Uma das funções mais importantes que as universidades brasileiras podem exercer é formar docentes qualificados para os ensinos médio e fundamental. Será que tal função seria mais bem exercida se ela estivesse sob responsabilidade do MCT?

Por último, cabe lembrar que onde não há boa educação não pode haver boa ciência e tecnologia. Que país hoje bem servido em ciência e tecnologia não priorizou antes a educação e a cultura?

O que é preciso para colocar o país na rota do desenvolvimento, como muita gente abalizada sabe, é uma revolução na educação. É assim que se acaba promovendo a ciência e a tecnologia.

Mas, para isso, é preciso implantar algo que nunca existiu no Brasil: um sistema de planejamento integrado dos três níveis de ensino, distribuídos entre os entes federativos de acordo com os dispositivos constitucionais vigentes, mas sob a coordenação e a rigorosa supervisão do governo central. Não é "esvaziando" o MEC que se vai chegar lá, muito pelo contrário.

JOSÉ MARIA ALVES DA SILVA, 59, é doutor em economia e professor da Universidade Federal de Viçosa